Sabines, poeta mexicano, começa e termina este poema com a mesma
inflexão de dúvida sobre o amor, pois desse sentimento jamais alguém poderá ter
absoluta certeza, embora haja indícios fortes de que duas pessoas se afeiçoem
firmemente, a ponto de consentirem deixar-se penetrar mutuamente pelo outro – e
não apenas no sexo –, de forma a se tornarem plenos, na mais absoluta solidão a
dois.
E nesse jogo, eles se “matam” em suas individualidades, tornando-se um
só em dois corpos, amanhecendo juntos, unidos pelos braços, julgando que de
tudo têm conhecimento, estando desnudos – não só fisicamente, quanto pelo que se
revela por meio de mútua transparência. E o mundo que corra apartado lá fora, porque a
solidão que se limitava a um, agora, se estende aos dois amantes, assim como
nos versos do fado “Só nós dois”, de Tony de Matos: “Anda, abraça-me, beija-me
/ Encosta teu peito ao meu / Esquece o que vai na rua / Vem ser minha que serei
teu / Que falem não nos interessa / O mundo não nos importa / O nosso mundo
começa / Cá dentro da nossa porta”.
J.A.R. – H.C.
Jaime Sabines
(1926-1999)
Yo no lo sé de cierto...
Yo no lo sé de
cierto, pero supongo
que una mujer y un hombre
algún día se quieren,
se van quedando solos
poco a poco,
algo en su corazón
les dice que están solos,
solos sobre la tierra
se penetran,
se van matando el uno
al otro.
Todo se hace en
silencio. Como
se hace la luz dentro
del ojo.
El amor une cuerpos.
En silencio se van
llenando el uno al otro.
Cualquier día
despiertan, sobre brazos;
piensan entonces que
lo saben todo.
Se ven desnudos y lo
saben todo.
(Yo no lo sé de
cierto. Lo supongo)
O olhar
(Tom Lovell:
ilustrador norte-americano)
Não sei ao certo...
Não sei ao certo, mas
suponho
que uma mulher e um
homem
são capazes de se
amar algum dia,
vão ficando sozinhos aos
poucos,
algo em seus corações
lhes diz que estão sozinhos,
sozinhos sobre a
terra se penetram,
vão-se matando um ao
outro.
Tudo se faz em
silêncio. Como
a luz se faz dentro
dos olhos.
O amor une corpos.
Em silêncio vão-se
enchendo um ao outro.
Qualquer dia acordam,
firmemente abraçados;
pensam então que sabem
tudo.
Veem-se nus e sabem
tudo.
(Não sei ao certo.
Suponho-o).
Referência:
SABINES, Jaime. Yo no lo sé de
cierto... In: MIRANDA, Rocío (Ed.). 24
poetas latinoamericanos. 1. ed. México, MX: CIDCLI, 1997. p. 168.
(‘Coedición Latinoamericana’)
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