Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Jaime Sabines - Não sei ao certo...

Sabines, poeta mexicano, começa e termina este poema com a mesma inflexão de dúvida sobre o amor, pois desse sentimento jamais alguém poderá ter absoluta certeza, embora haja indícios fortes de que duas pessoas se afeiçoem firmemente, a ponto de consentirem deixar-se penetrar mutuamente pelo outro – e não apenas no sexo , de forma a se tornarem plenos, na mais absoluta solidão a dois.

E nesse jogo, eles se “matam” em suas individualidades, tornando-se um só em dois corpos, amanhecendo juntos, unidos pelos braços, julgando que de tudo têm conhecimento, estando desnudos – não só fisicamente, quanto pelo que se revela por meio de mútua transparência. E o mundo que corra apartado lá fora, porque a solidão que se limitava a um, agora, se estende aos dois amantes, assim como nos versos do fado “Só nós dois”, de Tony de Matos: “Anda, abraça-me, beija-me / Encosta teu peito ao meu / Esquece o que vai na rua / Vem ser minha que serei teu / Que falem não nos interessa / O mundo não nos importa / O nosso mundo começa / Cá dentro da nossa porta”.

J.A.R. – H.C.

Jaime Sabines
(1926-1999)

Yo no lo sé de cierto...

Yo no lo sé de cierto, pero supongo
que una mujer y un hombre
algún día se quieren,
se van quedando solos poco a poco,
algo en su corazón les dice que están solos,
solos sobre la tierra se penetran,
se van matando el uno al otro.

Todo se hace en silencio. Como
se hace la luz dentro del ojo.
El amor une cuerpos.
En silencio se van llenando el uno al otro.

Cualquier día despiertan, sobre brazos;
piensan entonces que lo saben todo.
Se ven desnudos y lo saben todo.

(Yo no lo sé de cierto. Lo supongo)

O olhar
(Tom Lovell: ilustrador norte-americano)

Não sei ao certo...

Não sei ao certo, mas suponho
que uma mulher e um homem
são capazes de se amar algum dia,
vão ficando sozinhos aos poucos,
algo em seus corações lhes diz que estão sozinhos,
sozinhos sobre a terra se penetram,
vão-se matando um ao outro.

Tudo se faz em silêncio. Como
a luz se faz dentro dos olhos.
O amor une corpos.
Em silêncio vão-se enchendo um ao outro.

Qualquer dia acordam, firmemente abraçados;
pensam então que sabem tudo.
Veem-se nus e sabem tudo.

(Não sei ao certo. Suponho-o).

Referência:

SABINES, Jaime. Yo no lo sé de cierto... In: MIRANDA, Rocío (Ed.). 24 poetas latinoamericanos. 1. ed. México, MX: CIDCLI, 1997. p. 168. (‘Coedición Latinoamericana’)

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