Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Vasko Popa - O Mestre das Sombras

Vasco Popa, poeta sérvio, diz muito, neste poema, sobre a natureza dividida e contraditória do ser humano: você pode se enganar com as sombras que projeta quando não é claro o conhecimento que tem de si mesmo, julgando que “mede” muito mais do que de fato conjectura ou, ainda, sob a ótica menos enviesada de terceiros desinteressados.

Mas na hipótese de se pôr às claras, no apogeu das luzes, verá que as sombras reduzem-se ao seu real tamanho, mostrando a verdadeira dimensão do seu ser. Portanto, nada de empáfias, de vanglórias desnecessárias, de comportamentos pretensiosos ou pernósticos. Mais vale a máxima de Pascal (1623-1662): “O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante”.

Um informe: o original no idioma sérvio pode ser apreciado neste endereço. Vali-me dele tanto quanto da infratranscrita tradução ao inglês do poeta Charles Simic – aliás, de origem sérvia como Popa –, para verter o poema ao português.

J.A.R. – H.C.

Vasko Popa
(1922-1991)

The Shadow Maker

You walk forever and ever
Over your own individual infinity
From head to heel and back

You’re your own source of light
The zenith is in your head
In your heel its setting

Before it dies you let your shadows out
To lengthen to estrange themselves
To work miracles and shame
And bow down only to themselves

At zenith you reduce the shadows
To their proper size
You teach them to bow to you
And as they bow down to disappear

You’re coming this way even today
But the shadows won’t let us see you

A captura de Cristo
(Caravaggio: pintor italianoa)

O Mestre das Sombras

Você caminha por toda a eternidade
Conforme a sua própria infinitude
Da cabeça aos pés e vice-versa

Você esplende por si mesmo
Há um zênite em sua cabeça
E nos calcanhares um ocaso

Ao poente você libera suas sombras
Para que se alonguem e se afastem
Para gerar assombros e amor-próprio
Para que reverenciem a si mesmas

No zênite você reduz as sombras
Para as suas adequadas medidas
Ensinando-as a prestar vênias a você
E quando elas se curvam desaparecem

Assim você caminha até o dia de hoje
Sem poder se ver a partir das sombras

Referência:

POPA, Vasko. The shadow maker. Translation from the Serbian to English by Charles Simic. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary world poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), june 1996. p. 197.

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