Vasco
Popa, poeta sérvio, diz muito, neste poema, sobre a natureza dividida e
contraditória do ser humano: você pode se enganar com as sombras que projeta
quando não é claro o conhecimento que tem de si mesmo, julgando que “mede”
muito mais do que de fato conjectura ou, ainda, sob a ótica menos enviesada de terceiros
desinteressados.
Mas
na hipótese de se pôr às claras, no apogeu das luzes, verá que as sombras reduzem-se
ao seu real tamanho, mostrando a verdadeira dimensão do seu ser. Portanto, nada
de empáfias, de vanglórias desnecessárias, de comportamentos pretensiosos ou
pernósticos. Mais vale a máxima de Pascal (1623-1662): “O homem não passa de um
caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante”.
Um
informe: o original no idioma sérvio pode ser apreciado neste endereço. Vali-me
dele tanto quanto da infratranscrita tradução ao inglês do poeta Charles Simic –
aliás, de origem sérvia como Popa –, para verter o poema ao português.
J.A.R. – H.C.
(1922-1991)
The Shadow Maker
You walk forever and
ever
Over your own
individual infinity
From head to heel and
back
You’re your own
source of light
The zenith is in your
head
In your heel its
setting
Before it dies you
let your shadows out
To lengthen to
estrange themselves
To work miracles and
shame
And bow down only to
themselves
At zenith you reduce
the shadows
To their proper size
You teach them to bow
to you
And as they bow down
to disappear
You’re coming this
way even today
But the shadows won’t
let us see you
(Caravaggio: pintor
italianoa)
O Mestre das Sombras
Você caminha por toda
a eternidade
Conforme a sua
própria infinitude
Da cabeça aos pés e
vice-versa
Você esplende por si
mesmo
Há um zênite em sua
cabeça
E nos calcanhares um
ocaso
Ao poente você libera
suas sombras
Para que se alonguem
e se afastem
Para gerar assombros
e amor-próprio
Para que reverenciem
a si mesmas
No zênite você reduz
as sombras
Para as suas
adequadas medidas
Ensinando-as a prestar
vênias a você
E quando elas se
curvam desaparecem
Assim você caminha
até o dia de hoje
Sem poder se ver a
partir das sombras
Referência:
POPA, Vasko. The shadow maker.
Translation from the Serbian to English by Charles Simic. In: McCLATCHY, J. D.
(Ed.). The vintage book of contemporary
world poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random
House Inc.), june 1996. p. 197.
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