São muitas as perguntas do poeta acerca das conotações negativas que são
atribuídas ao negro, sendo que outras cores quase nunca as têm, nem mesmo as indagadas
antonímias de situações a que o negro está associado: fome, morte, duras realidades.
Ao fim, o falante se pergunta qual deverá ser a cor da opressão, por se saber
que num país como o Brasil, em que praticamente uma em cada duas pessoas tem
origem negra, nos presídios e nos hospícios pouco se veem cativos de outras
cores.
A rigor, nos presídios de Pindorama a clivagem majoritária é típica e inconfundível:
o detido é homem, negro, pobre e na faixa dos 20 (vinte) aos 40 (quarenta) anos.
Os negros também são maioria entre os favelados nas cidades brasileiras. Tal é a
miséria pátria, pois igualdade de oportunidades jamais se ouviu falar por estas
bandas, tampouco os que dirigem a nação ou os que comandam o judiciário –
majoritariamente brancos – se dispõem a alterar esse estado de coisas, antes,
contribuem de modo decisivo para a manutenção do “status quo”.
J.A.R. – H.C.
Estudo de um modelo
(Théodore Géricault:
pintor francês)
De que cor será sentir?
Afinal
De que cor será
sentir?
Será que o amor
Tem uma cor?
Será vermelho
O ódio?
Será branca
A paz?
Sendo negra
A morte
De que cor
Será a vida?
Sendo negra a fome
Qual a cor da
fartura?
Sendo negra a
realidade
Qual a cor da ilusão?
Sendo negra a cor que
tinge
Presídios, hospícios
Qual a cor da
opressão?
Retrato de um negro
(Théodore Géricault:
pintor francês)
Nota Biográfica:
Hélio de Assis nasceu em 1952, no Rio
de Janeiro. É poeta, teatrólogo e argumentista. Participa do grupo “Negrícia
Poesia e Arte de Crioulo”. Fundou e presidiu a CAIS - Cooperativa dos Artistas
Independentes dos Subúrbios, em 1979. Participou da revista “Semente” e do
grupo de teatro “Cara e Coragem”. “Boi jeans” (cordel urbano) e “No bloco das
piranhas”, edição do autor, são as suas principais publicações. Atualmente, é
diretor sociocultural do grupo “Agbara-Dudu” e coordenador de animação cultural
no município do Rio de Janeiro. (CARLOS DOS SANTOS; GALAS; TAVARES, 2005, p.
160)
Referência:
ASSIS, Hélio de. De que cor será
sentir? In: CARLOS DOS SANTOS, Luiz; GALAS, Maria; TAVARES, Ulisses
(Organização e Apresentação). O negro em
versos: antologia da poesia negra brasileira. 1. ed. São Paulo, SP:
Moderna, 2005. p. 90. (“Lendo & Relendo”)
❁
Amo esse poema! Esse livro é um dos meus livros de cabeceira! top!
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