Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Hélio de Assis - De que cor será sentir?

São muitas as perguntas do poeta acerca das conotações negativas que são atribuídas ao negro, sendo que outras cores quase nunca as têm, nem mesmo as indagadas antonímias de situações a que o negro está associado: fome, morte, duras realidades. Ao fim, o falante se pergunta qual deverá ser a cor da opressão, por se saber que num país como o Brasil, em que praticamente uma em cada duas pessoas tem origem negra, nos presídios e nos hospícios pouco se veem cativos de outras cores.

A rigor, nos presídios de Pindorama a clivagem majoritária é típica e inconfundível: o detido é homem, negro, pobre e na faixa dos 20 (vinte) aos 40 (quarenta) anos. Os negros também são maioria entre os favelados nas cidades brasileiras. Tal é a miséria pátria, pois igualdade de oportunidades jamais se ouviu falar por estas bandas, tampouco os que dirigem a nação ou os que comandam o judiciário – majoritariamente brancos – se dispõem a alterar esse estado de coisas, antes, contribuem de modo decisivo para a manutenção do “status quo”.

J.A.R. – H.C.

Estudo de um modelo
(Théodore Géricault: pintor francês)

De que cor será sentir?

Afinal
De que cor será sentir?
Será que o amor
Tem uma cor?
Será vermelho
O ódio?
Será branca
A paz?
Sendo negra
A morte
De que cor
Será a vida?
Sendo negra a fome
Qual a cor da fartura?
Sendo negra a realidade
Qual a cor da ilusão?
Sendo negra a cor que tinge
Presídios, hospícios
Qual a cor da opressão?

Retrato de um negro
(Théodore Géricault: pintor francês)

Nota Biográfica:

Hélio de Assis nasceu em 1952, no Rio de Janeiro. É poeta, teatrólogo e argumentista. Participa do grupo “Negrícia Poesia e Arte de Crioulo”. Fundou e presidiu a CAIS - Cooperativa dos Artistas Independentes dos Subúrbios, em 1979. Participou da revista “Semente” e do grupo de teatro “Cara e Coragem”. “Boi jeans” (cordel urbano) e “No bloco das piranhas”, edição do autor, são as suas principais publicações. Atualmente, é diretor sociocultural do grupo “Agbara-Dudu” e coordenador de animação cultural no município do Rio de Janeiro. (CARLOS DOS SANTOS; GALAS; TAVARES, 2005, p. 160)

Referência:

ASSIS, Hélio de. De que cor será sentir? In: CARLOS DOS SANTOS, Luiz; GALAS, Maria; TAVARES, Ulisses (Organização e Apresentação). O negro em versos: antologia da poesia negra brasileira. 1. ed. São Paulo, SP: Moderna, 2005. p. 90. (“Lendo & Relendo”)

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