O falante – certamente o poeta quando jovem – e o seu espelho, já
envelhecido: Brines observa a passagem do tempo, a transitoriedade da vida, a efemeridade
dos nossos sonhos e, como efeito consectário, o desalento e o peso de uma vida
transcorrida – metaforizada numa noite de lua e estrelas –, quando já não se é capaz
até mesmo de fazer subir aos olhos as lágrimas sentidas.
A vida muitas vezes nos leva a experimentar situações semelhantes às do
contexto de que nos fala o autor valenciano: a de tentar, vãmente, recordar e
viver o jovem já distante que fomos – recapturando os sentimentos e pensamentos
que, outrora, povoaram a nossa mente –, como se pretendêssemos redigir uma longa
obra memorial – a exemplo de “Em busca do tempo perdido”, de Proust.
J.A.R. – H.C.
Francisco Brines
(n. 1932)
El visitante me abrazó
El visitante me
abrazó, de nuevo
era la juventud que
regresaba,
y se sentó conmigo.
Un cansancio
venía de su boca, sus
cabellos
traían polvo del
camino, débil
luz en los ojos. Se
contaba a sí mismo
las tristes cosas de
su vida, casi
se repetía en él mi
pobre vida.
Arropado en las
sombras lo miraba.
La tarde abandonó la
sala quieta
cuando partió. Me
dije que fue grato
vivir con él (la
juventud ya lejos),
que era una fiesta de
alegría. Solo
volví a quedar cuando
dejó la casa.
Vela el sillón la
luna, y en la sala
se ve brillar los
astros. Es un hombre
cansado de esperar,
que tiene viejo
su torpe corazón, y
que a los ojos
no le suben las
lágrimas que siente.
De: “Las Brasas” (1960)
Dois jovens num abraço (detalhe)
(Giovanni Batista
Piazetta: pintor italiano)
O visitante me abraçou
O visitante me
abraçou, de novo
era a juventude que
regressava,
e sentou-se comigo.
Um cansaço
vinha de sua boca,
seus cabelos
traziam a poeira do
caminho, uma tênue
luz nos olhos.
Contava-se a si mesmo
as tristes coisas de
sua vida, quase
se repetia nele a minha
pobre vida.
Entrevia-o encoberto
pelas sombras.
A tarde abandonou a
sala quieta
quando partiu. Disse-me
que foi agradável
viver com ele (a
juventude já distante),
pois que era uma festa
da alegria. Sozinho
voltei a ficar quando
deixou a casa.
A poltrona a lua
espreita, e da sala
se veem as estrelas a
brilhar. É um homem
cansado de esperar, que
já tem velho
e moroso o coração, e
que aos olhos
não lhe sobem as
lágrimas que sente.
De: “As Brasas” (1960)
Referência:
BRINES, Francisco. El visitante me abrazó. In: __________. Antología poética. Selección y prólogo de José Olivio Jiménez.
Madrid, ES: Alianza Editorial, 1986. p. 29. (“Sección: Literatura”; “El Libro
de Bolsillo”; LB 1190)
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