Quanta dificuldade para verter ao português um poema como este! A forma
como o autor australiano entrança os versos – e mesmo dentro deles, a lançar
mão de palavras com grafias muito próximas – certamente lhe deve ter dado um
trabalho imenso, mas felizmente com efeitos interessantes, afora as rimas
parelhas – tudo para sublinhar o modo como uma teia de aranha pode ser removida
por meio de uma seda capaz de grudar-se aos fios da urdidura do artrópode.
Enfatiza-se, em paralelo, o resultado do trabalho das fiandeiras, com o
propósito de tecer outras tantas teias, a saber, as de tecidos, como a seda,
afora diversas alusões que se me mostraram por demais difíceis para poder fixar
nas linhas da tradução, motivo pelo qual ofereço ao leitor, no campo de “Notas”
mais abaixo, alguns pontos de particular interesse para se poder compreender o
arranjo do multifacetado original de Murray.
J.A.R. – H.C.
Les Murray
(1938-2019)
On Removing Spiderweb
Like summer silk its
denier (1)
but stickily, o
ickilier,
miffed bunny-blinder,
silver tar,
gesticuli-gesticular,
(2)
crepe when cobbed,
crap when rubbed,
stretchily
adhere-and-there
and everyway,
nap-snarled or sleek,
glibly hubbed with
grots to tweak: (3)
ehh weakly bobbined
tae yer neb, (4)
spit it Phuoc Tuy!
filthy web! (5)
(1990)
A fiandeira adormecida
(Gustav Courbet: pintor
francês)
Ao Remover a Teia de Aranha
Como a seda de verão, sua afugentadora
mais viscosa, oh, embora de forma
grudenta,
ofuscadora para lebres agitadas, resina
prateada,
gesticuli-gesticular,
crepe quando prensada, refugo
quanto esfregada,
maleavelmente aderente aqui e
ali,
e de todos os modos, em fibras enredadas
ou lisas,
habilmente concentradas com a
sujeira a remover:
argh! – frouxamente entretecidas,
algo respinga em seu nariz,
cuspa-o sobre Phuoc Tuy! Teia asquerosa!
(1990)
Notas:
(1) A palavra “denier” tanto diz
respeito ao agente capaz de repelir, denegar ou afugentar algo ou alguém,
quanto à unidade de um sistema bastante empregado para se avaliar a densidade
da massa linear de fibras, como as de que são feitas as sedas;
(2) A expressão “gesticuli-gesticular”,
muito provavelmente, diz respeito ao movimento dos braços das fiandeiras quando
utilizam tradicionais rocas, como a que se ilustra por meio da pintura que
acompanha esta postagem, ou ainda – alternativamente – ao movimento circular,
em um sentido e em outro, de uma pessoa que se põe a limpar algo;
(3) O verso aparentemente alude ao modo
como uma aranha ingurgita uma teia já gasta, para com ela tecer uma nova;
(4) A expressão “tae yer neb” significa
“para o seu nariz”, sendo originária de um dialeto da Escócia, país com o qual
o autor tinha um forte vínculo poético e ancestral;
(5) Phuoc Tuy era uma província do antigo
Vietnã do Sul, com densa floresta pantanosa – Rung Sat –, a sudeste da atual Ho
Chi Minh (Saigon), onde esteve baseada a Primeira Força-Tarefa Australiana,
durante a Guerra do Vietnã, com o objetivo de reprimir a guerrilha vietcongue,
entre 1966 e 1971.
Referência:
MURRAY, Leo. On removing spiderweb. In:
GREENBLATT, Stephen (General Editor). The
norton anthology of english literature. 8th. Edition. Vol. 2. New York, NY;
London, EN: W. W. Norton & Company, 2006. p. 2.821.
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