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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 5 de julho de 2020

Les Murray - Ao Remover a Teia de Aranha

Quanta dificuldade para verter ao português um poema como este! A forma como o autor australiano entrança os versos – e mesmo dentro deles, a lançar mão de palavras com grafias muito próximas – certamente lhe deve ter dado um trabalho imenso, mas felizmente com efeitos interessantes, afora as rimas parelhas – tudo para sublinhar o modo como uma teia de aranha pode ser removida por meio de uma seda capaz de grudar-se aos fios da urdidura do artrópode.

Enfatiza-se, em paralelo, o resultado do trabalho das fiandeiras, com o propósito de tecer outras tantas teias, a saber, as de tecidos, como a seda, afora diversas alusões que se me mostraram por demais difíceis para poder fixar nas linhas da tradução, motivo pelo qual ofereço ao leitor, no campo de “Notas” mais abaixo, alguns pontos de particular interesse para se poder compreender o arranjo do multifacetado original de Murray.

J.A.R. – H.C.

Les Murray
(1938-2019)

On Removing Spiderweb

Like summer silk its denier (1)
but stickily, o ickilier,
miffed bunny-blinder, silver tar,
gesticuli-gesticular, (2)
crepe when cobbed, crap when rubbed,
stretchily adhere-and-there
and everyway, nap-snarled or sleek,
glibly hubbed with grots to tweak: (3)
ehh weakly bobbined tae yer neb, (4)
spit it Phuoc Tuy! filthy web! (5)

(1990)

A fiandeira adormecida
(Gustav Courbet: pintor francês)

Ao Remover a Teia de Aranha

Como a seda de verão, sua afugentadora
mais viscosa, oh, embora de forma grudenta,
ofuscadora para lebres agitadas, resina prateada,
gesticuli-gesticular,
crepe quando prensada, refugo quanto esfregada,
maleavelmente aderente aqui e ali,
e de todos os modos, em fibras enredadas ou lisas,
habilmente concentradas com a sujeira a remover:
argh! – frouxamente entretecidas, algo respinga em seu nariz,
cuspa-o sobre Phuoc Tuy! Teia asquerosa!

(1990)

Notas:

(1) A palavra “denier” tanto diz respeito ao agente capaz de repelir, denegar ou afugentar algo ou alguém, quanto à unidade de um sistema bastante empregado para se avaliar a densidade da massa linear de fibras, como as de que são feitas as sedas;

(2) A expressão “gesticuli-gesticular”, muito provavelmente, diz respeito ao movimento dos braços das fiandeiras quando utilizam tradicionais rocas, como a que se ilustra por meio da pintura que acompanha esta postagem, ou ainda – alternativamente – ao movimento circular, em um sentido e em outro, de uma pessoa que se põe a limpar algo;

(3) O verso aparentemente alude ao modo como uma aranha ingurgita uma teia já gasta, para com ela tecer uma nova;

(4) A expressão “tae yer neb” significa “para o seu nariz”, sendo originária de um dialeto da Escócia, país com o qual o autor tinha um forte vínculo poético e ancestral;

(5) Phuoc Tuy era uma província do antigo Vietnã do Sul, com densa floresta pantanosa – Rung Sat –, a sudeste da atual Ho Chi Minh (Saigon), onde esteve baseada a Primeira Força-Tarefa Australiana, durante a Guerra do Vietnã, com o objetivo de reprimir a guerrilha vietcongue, entre 1966 e 1971.

Referência:

MURRAY, Leo. On removing spiderweb. In: GREENBLATT, Stephen (General Editor). The norton anthology of english literature. 8th. Edition. Vol. 2. New York, NY; London, EN: W. W. Norton & Company, 2006. p. 2.821.

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