Mãe e filha vão a um museu pelo mesmo motivo, embora não ao mesmo tempo,
à procura de um console mais volumoso entre as pernas dos Apolos ali expostos: uma
disputa insólita, em que uma delas haverá de se contentar com uma maçaneta de
cristal, pois a outra já antes se apropriara, previdentemente, do membro de uma
escultura, por ambas tão desejado.
O que fazer, se a mãe resolveu contrair matrimônio com um parceiro não
exatamente bem dotado?! A filha, pelo menos, vai aqui e ali testando as
possibilidades, com o objetivo de arranjar um companheiro capaz de satisfazer-lhe
as mais recônditas ambições sexuais. Afinal, vista a questão pelo lado dos
homens, remanesce a dúvida freudiana: o que querem as mulheres?!
J.A.R. – H.C.
Benjamin Péret
(1899-1959)
Les Rouilles Encagées
Ah! les petites
filles qui relèvent leur robe
pour se branler dans
les buissons
ou dans les musées
derrière les Apollons
en plâtre
pendant que leur mère
compare la queue de la statue
à celle de son mari
et soupire
Ah ! si mon mari lui
ressemblait
Un jour la mère
reviendra seule au musée
mais sa fille s’enfuira
de l’autre côté
la queue à la main
et la mère désolée
volera une poignée de
porte
en cristal
Betsabá em seu banho
(Francesco Hayez:
pintor italiano)
De “As Ferrugens Engaioladas”
Ah! as mocinhas que
erguem o vestido
para se esfregarem na
moita
ou então nos museus
atrás de Apolos de
gesso
enquanto a mãe delas
compara a vara da estátua
com a do marido
e suspira
Ah! se meu marido
fosse parecido
Um dia a mãe voltará
sozinha ao museu
mas a filha dela
fugirá pelo outro lado
vara na mão
e a mãe desolada
roubará de uma porta
a maçaneta de cristal
Referência:
PÉRET, Benjamin. Les rouilles encagées
/ De: “As ferrugens engaioladas”. Tradução de José Paulo Paes. In: PAES, José
Paulo (Seleção, tradução, introdução e notas). Poesia erótica em tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP:
Companhia das Letras, 2006. Em francês: p. 162; em português: p. 163.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário