Décadas se passam e o problema da falta de autonomia do povo palestino
sobre as suas terras persiste, tudo em razão de uma política expansionista
abusiva de Israel sobre áreas que não lhe pertencem, pouco importando o que
as Nações Unidas, sobre a pendência, decidam ou deixem de decidir, de modo que, em termos práticos, se impede a autodeterminação daquele povo: esse é o tema
do poema de hoje, de autoria de Darwish, poeta e escritor nascido naqueles domínios.
Sobre à infratranscrita tradução ao inglês, nota-se a ausência de alguns
versos presentes no original em árabe, afora o fato de que os versos vertidos,
em algumas passagens, vão algo além da literalidade da escrita de onde proveio.
Nesse sentido, a versão que apresento em português, busca se aproximar, de
fato, do texto inicial, amparando-se, ademais, em outras duas distintas traduções:
uma ao inglês e outra ao alemão.
J.A.R. – H.C.
Mahmoud Darwish
(1941-2008)
We Walk Towards a Land
We walk towards a
land not of our flesh,
Not of our bones its
chestnut trees,
Its stones unlike the
curly goats
Of the Song of Songs.
We walk towards a
land
That does not hang a
special sun for us.
Mythic women clap:
A sea around us,
A sea upon us.
If wheat and water
doe not reach you,
Eat our love and
drink our tears.
Black veils of
mourning for the poets.
You have your
victories and we have ours,
We have a country
where we see
Only the invisible.
(Translated from the Arabic by Rana Kabbani)
Esboço em Scheveningen
(Camille Corot:
pintor francês)
Caminhamos Rumo a um País
Caminhamos rumo a um
país que não é da nossa carne,
Seus castanheiros não
são de nossos ossos,
E suas pedras não são
cabras
No canto das
montanhas.
E lá, os olhos dos
seixos não são íris.
Caminhamos rumo a um
país sem um sol próprio sobre nós.
As damas das lendas
nos aplaudem: um mar adverso,
outro favorável.
Se lhe cortam os grãos
e a água, coma nosso amor e beba
nossas lágrimas.
Lenços negros para os
poetas, e uma fileira de estátuas
de alabastro,
elevarão nossas vozes.
E uma bilha para
proteger nossas almas do pó do tempo.
Rosas adversas, outras favoráveis.
Rosas adversas, outras favoráveis.
Você tem suas
glórias, nós temos as nossas.
Ah, de um país do
qual só podemos ver o que não pode
ser visto: nosso
segredo.
Nossa é a glória: um
trono sob os pés macerados pelos
caminhos aptos a nos
levar a todos os lares,
exceto o nosso!
A alma deve se reconhecer em sua própria alma,
ou morrer aqui.
Referência:
DARWISH, Mahmoud. We walk towards a land.
Translated from the Arabic to English by Rana Kabbani. In: McCLATCHY, J. D.
(Ed.). The vintage book of contemporary
world poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random
House Inc.), june 1996. p. 301.
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