Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Mahmoud Darwish - Caminhamos Rumo a um País

Décadas se passam e o problema da falta de autonomia do povo palestino sobre as suas terras persiste, tudo em razão de uma política expansionista abusiva de Israel sobre áreas que não lhe pertencem, pouco importando o que as Nações Unidas, sobre a pendência, decidam ou deixem de decidir, de modo que, em termos práticos, se impede a autodeterminação daquele povo: esse é o tema do poema de hoje, de autoria de Darwish, poeta e escritor nascido naqueles domínios.

Sobre à infratranscrita tradução ao inglês, nota-se a ausência de alguns versos presentes no original em árabe, afora o fato de que os versos vertidos, em algumas passagens, vão algo além da literalidade da escrita de onde proveio. Nesse sentido, a versão que apresento em português, busca se aproximar, de fato, do texto inicial, amparando-se, ademais, em outras duas distintas traduções: uma ao inglês e outra ao alemão.

J.A.R. – H.C.

Mahmoud Darwish
(1941-2008)

We Walk Towards a Land

We walk towards a land not of our flesh,
Not of our bones its chestnut trees,
Its stones unlike the curly goats
Of the Song of Songs.
We walk towards a land
That does not hang a special sun for us.
Mythic women clap:
A sea around us,
A sea upon us.
If wheat and water doe not reach you,
Eat our love and drink our tears.
Black veils of mourning for the poets.
You have your victories and we have ours,
We have a country where we see
Only the invisible.

(Translated from the Arabic by Rana Kabbani)

Esboço em Scheveningen
(Camille Corot: pintor francês)

Caminhamos Rumo a um País

Caminhamos rumo a um país que não é da nossa carne,
Seus castanheiros não são de nossos ossos,
E suas pedras não são cabras
No canto das montanhas.
E lá, os olhos dos seixos não são íris.
Caminhamos rumo a um país sem um sol próprio sobre nós.
As damas das lendas nos aplaudem: um mar adverso,
outro favorável.
Se lhe cortam os grãos e a água, coma nosso amor e beba
nossas lágrimas.
Lenços negros para os poetas, e uma fileira de estátuas
de alabastro, elevarão nossas vozes.
E uma bilha para proteger nossas almas do pó do tempo.
Rosas adversas, outras favoráveis.
Você tem suas glórias, nós temos as nossas.
Ah, de um país do qual só podemos ver o que não pode
ser visto: nosso segredo.
Nossa é a glória: um trono sob os pés macerados pelos
caminhos aptos a nos levar a todos os lares,
exceto o nosso!
A alma deve se reconhecer em sua própria alma,
ou morrer aqui.

Referência:

DARWISH, Mahmoud. We walk towards a land. Translated from the Arabic to English by Rana Kabbani. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary world poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), june 1996. p. 301.

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