Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Daniel Faria - Explicação da Cura

A julgar pelas palavras que explicam a cura a que se refere o poeta, pode-se deduzir, com alguma margem de incerteza, que se trata de um estado de melancolia para o qual as medidas de resposta apontam para um salto dinâmico, melhor dizendo, cinético, com carreiros, roldanas, giros e desvios, a submeter a estática das imagens que se descrevem à borda de tais movimentos.

É uma cura para os sentimentos de impotência d’alma – alguma dúvida existencial ou acerca do propósito de vida a ser perscrutado, capaz de dar sentido à vida –, com significados trasladados a fatos da natureza ou ao agir de outros seres humanos, podendo trazer algum alento ao ente lírico, carente de respostas com potencial para afastar a dúvida do precipício, do desamparo ou do perigo.

J.A.R. – H.C.

Daniel Faria
(1971-1999)

Explicação da Cura

O precipício não tem futuro ou desalento
Mas um carreiro que atravessa as giestas e o trevo
Um carreiro que chega ao seu destino
Como a lenha podada ao fogo
A madrugada aos olhos do mocho.
O desamparo não tem as mãos juntas
Mas o peito dividido
A abelha no coração do pólen
Fazendo circular o zumbido.
O coração tem uma roldana a girar
No eixo do desvio
Os olhos de criança diante do que passa.
E a canção é mão que se afadiga
A sarar do degrau e do perigo.

Paisagem com árvore
e um caminho junto ao rio
(Christian Länger: pintor alemão)

Referência:

FARIA, Daniel. Explicação da cura. In: MÃE, Valter Hugo (Selecção e Organização). O futuro em anos-luz: 100 anos. 100 poetas. 100 poemas. Antologia da poesia portuguesa. 1. ed. Vila Nova de Famalicão, PT: Quasi Edições, abr. 2001. p. 171. (Coleção ‘Finita Melancolia’)

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