O supracitado poeta (1671-1747), nascido na Bahia, replica em forma
poética ponderações de ordem similar às apresentadas no Eclesiastes – “vaidade
das vaidades, tudo é vaidade!” –, a ratificarem a fragilidade do existir humano,
mesmo a despeito de toda “glória, fortuna ou honra”.
Vivemos de desenganos: de algo a que aspiramos, passamos a outra
mira, depois que alcançamos o alvo anterior. Com maior gravidade se nos
apresenta a vida se, ao fim de toda a lida, não alcançamos aquilo a
que tanto ansiamos, assombrando o espírito com o véu da experiência sem propósito.
J.A.R. – H.C.
Natureza morte com um crânio e
uma pena para escrever
(Pieter Claesz:
pintor holandês)
Sobre o nada das vaidades humanas
Louco é quem da
vaidade faz apreço,
Sendo a honra mundana
um doce engano;
Adular a fortuna,
indigno excesso,
Traz do caduco tempo
o desengano:
Que é discreto e católico
concesso (*)
Quem pondera no frágil
ser humano
Que qual sombra no ar
desvanecida
Passa a glória, a
fortuna, a honra, a vida.
Que subsistência pode
haver na vida
Se é por caduca, frágil
e por breve
Exalação que passa
despedida,
Lisonja que adular o
mal se atreve?
Sombra à vista da luz
desvanecida,
Dos gostos temporais
engano leve;
Finalmente é da vida
o ser humano
Exalação, lisonja,
sombra, engano.
O bem e o mal
(Andrej Vystropov:
pintor russo)
Elucidário:
Concesso – de comum acordo, com alguma
afinidade, como se vê, com o verbete “consenso”.
Referência:
LIMA, João de Brito e. Sobre o nada das
vaidades humanas. In: VARNHAGEN, F. A. de (Ed.). Florilégio da poesia brasileira. Tomo I. Lisboa, PT: Imprensa
Nacional, 1850. p. 194-195.
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