Segundo relata a própria autora na obra em referência (NEMEROV, 1968, p.
91), o poema abaixo foi redigido quanto ela voltava a pé para casa, retornando
da aldeia de Lavandou, no sul da França, ensejo em que o Mistral soprava tão
fortemente que a custo se podia divisar o caminho, e Howes diz ter sentido uma
poderosa impressão do mal, transtornando a vida naquela região.
Mistral, importa dizer, é como se denomina o vento seco que sopra do norte
pelo vale do Ródano, na França, a emular, como no presente caso, uma forte
sensação ou ameaça de tribulação. Aliás, mais ou menos da mesma forma como
Emily Dickinson intuiu neste poema já
postado no bloguinho.
J.A.R. – H.C.
Barbara Howes
(1914-1996)
Mistral
Percussive, furious,
this wind
Sweeps down the
mountain, and
Under the pennon of skirling
air
Blows through each
red-tiled house as if
Nothing were there:
Mistral,
Quartz-clear,
spread-eagle,
Falls on the sea.
Gust upon gust
batters
The surface – darkening
blue –
Into a thousand
scalloped fans. Where
Shall our noontime
friends,
Cicada, hummingbird,
Who stitched the air
vvith sound and speed,
Now hide? All rocks,
islands, penínsulas
Draw near, hitch up
their chairs,
Companions in this
clearer, clean
Air, while inland
fields arc stripped of soil.
As I start home, a
coven
Of winds is let loose
at every corner;
Alone in a
howling
Waste, figurehead
sculptured in air,
Bent low, deafened, I
plunge
On, blind in the eye
of the storm.
Agay, a baía durante o Mistral
(Armand Guillaumin:
pintor francês)
Mistral
Percussivo, furioso, esse
vento
Desce a montanha,
E sob seu pendão de
ar uivante
Sopra através de cada
uma das casas de telhados vermelhos
Como se nada ali
houvesse: o Mistral,
límpido como o
quartzo, águia estendida,
Abate-se sobre o mar.
Rajada após rajada
golpeia
A superfície – azul
escura –
Transformando-a em
milhares de leques recortados. Onde
Se esconderão agora
nossos amigos do meio-dia,
A cigarra, o
beija-flor,
Que ponteavam o ar
com seus sons e movimentos?
Todas as rochas, as
ilhas, as penínsulas
Aconchegam-se, apegam-se
a seus postos,
Companheiros nesse ar
mais claro, limpo,
Enquanto os campos do
interior são devastados.
Quando volto a casa,
um sabat
De ventos
desprende-se a cada esquina;
Sozinha em um deserto
Uivante, carranca
esculpida no ar,
Curvada, ensurdecida,
eu mergulho,
Cega no meio da
tempestade.
Referência:
HOWES, Barbara. Mistral / Mistral.
Tradução de Marcos Santarrita. In: NEMEROV, Howard (Coord.). Poesia como criação. Tradução de Marcos
Santarrita. Rio de Janeiro, GB: Edições GRD, 1968. Em inglês: p. 91; em
português: p. 94.
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