Cheio de alegorias, é mais do que certo que o poema de Brinnin vai muito
além da “consolda real, da zínia e da flox” em sentido literal, para espargir
críticas, muito provavelmente, à politização da paisagem poética, plasmada num
EUA onde se confrontavam – como de certa forma, até hoje se confrontam –
republicanos, democratas e comunistas.
Os versos de Brinnin têm uma certa capacidade para evocar imagens que se
poderiam extrair a um sonho, fartas de complexidade, e, no presente caso,
evocativas de um mundo que opõe revolucionários a conservadores, modernistas a
antimodernistas, a linguagem solta e vanguardista a outra mais densa e opaca – neste
caso, assim como a própria poesia de Brinnin se nos apresenta.
J.A.R. – H.C.
John Brinnin
(1916-1998)
The Garden Is Political
The garden is
political,
Nor may the moody
eyes
Of larkspur, zinnia,
phlox
Stare that manifest
horror down.
Nor will percussive
rain come down,
Exciting, quick to
change
Flower to essence,
essence to flower,
As though the planted
headlines
Were a row of four-o’clocks,
not headlines,
As though the garden
were
I A progeny of earth
And not a mask for
tragedy
O, no, garden is
tragedy
Up to its generous
eyes,
Its sensual order,
its élan.
The whole beguiling
summer burns
With guilty pleasure,
gaily burns
Waltzes and rounds
before
The glünmering
imminence of guns.
People like
headstones walk
Among the twilit
hedges, walk
Slow-motioned,
fearing the sudden
Scream, the mutilated
body,
Headless, under the
leaves.
The lisp and grinning
of the leaves
Lasts all the
dripping night;
Even the illiterate
snake must know
The garden is
political.
O Jardim do Encantamento
(Thomas Edwin Mostyn:
pintor inglês)
O Jardim É Político
O jardim é político,
E não podem os olhos
soturnos
Da consolda real, da
zínia e da flox
Contemplar esse
horror manifesto.
Nem a chuva
percussiva descerá,
Excitante, ávida de
transformar
A flor em essência, a
essência em flor,
Como se as manchetes
espalhadas
Fossem uma fila de
boninas, não manchetes,
Como se o jardim fosse
Uma prole da terra,
E não um disfarce
para a tragédia,
Ó, não, o jardim é tragédia
Até seus olhos
generosos,
Sua ordem sensual,
seu élan.
Todo o sedutor verão
queima.
Com culposo prazer,
queima alegremente
As valsas e volteia
diante
Da reluzente
iminência das armas.
As pessoas, como
marcos, caminham.
Por entre sebes pouco
iluminadas, andam
Em movimentos lentos,
temendo o grito
Súbito, o corpo
mutilado,
Sem cabeça, sob as folhas.
O ciclo e o sorriso
das folhas
Duram por toda a
encharcada noite;
Mesmo a serpente,
iletrada, deve saber
Que o jardim é
político.
Referência:
HOWES, Barbara. The garden is political
/ O jardim é político. Tradução de Marcos Santarrita. In: NEMEROV, Howard
(Coord.). Poesia como criação.
Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro, GB: Edições GRD, 1968. Em
inglês: p. 99-100; em português: p. 117.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário