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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 26 de outubro de 2019

Bueno de Rivera - A Dança dos Obesos

Os obesos, neste poema, certamente são os mais abonados – a banca, a mídia manipuladora, grande parte do judiciário tupiniquim e a elite estúpida –, que esmagam a maioria desprovida, humilhada nos seus mais básicos direitos e, por conseguinte, afastada do que quer que seja capaz de ser associado à dignidade da pessoa humana.

Para quê, pensam os obesos, se teria que elevar a um patamar de equilíbrio social toda essa gente? Contanto que os obesos mantenham o seu pernóstico status, que todos os outros sucumbam na miséria. Afinal, ainda perdura a malfadada divisão entre a Casa Grande e a Senzala!

J.A.R. – H.C.

Bueno de Rivera
(1911-1982)

A Dança dos Obesos

Felizes são os obesos! Vede como dançam
no tapete dos humilhados!

No entanto, são feitos do mesmo limo.
Nossa angústia os alimenta,
nosso gemido é a sua música, e eles não percebem
a melodia subterrânea.
Moldamos em nosso ódio as suas faces,
são nossos semelhantes, inconscientes nos esmagam.

Deixai dançar os obesos no crepúsculo.
Eles ignoram a noite absoluta
que rolará da montanha sobre as pérgolas.

Deixai-os. Vinde também à nossa festa.
Agora, que a treva mergulha nas piscinas,
dançarão sobre o pântano
os esqueletos de cal.

Em: “Luz do Pântano” (1948)

Casal Dançando
(Fernando Botero: artista colombiano)

Referência:

RIVERA, Bueno de. A dança dos obesos. In: __________. Melhores poemas de Bueno de Rivera. Seleção de Affonso Romano de Sant’Anna. São Paulo, SP: Global, 2003. p. 47. (‘Os Melhores Poemas’; n. 46)

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