Os obesos, neste poema, certamente são os mais abonados – a banca, a
mídia manipuladora, grande parte do judiciário tupiniquim e a elite estúpida –,
que esmagam a maioria desprovida, humilhada nos seus mais básicos direitos e,
por conseguinte, afastada do que quer que seja capaz de ser associado à
dignidade da pessoa humana.
Para quê, pensam os obesos, se teria que elevar a um patamar de
equilíbrio social toda essa gente? Contanto que os obesos mantenham o seu
pernóstico status, que todos os outros sucumbam na miséria. Afinal, ainda
perdura a malfadada divisão entre a Casa Grande e a Senzala!
J.A.R. – H.C.
Bueno de Rivera
(1911-1982)
A Dança dos Obesos
Felizes são os
obesos! Vede como dançam
no tapete dos
humilhados!
No entanto, são
feitos do mesmo limo.
Nossa angústia os
alimenta,
nosso gemido é a sua
música, e eles não percebem
a melodia
subterrânea.
Moldamos em nosso
ódio as suas faces,
são nossos
semelhantes, inconscientes nos esmagam.
Deixai dançar os
obesos no crepúsculo.
Eles ignoram a noite
absoluta
que rolará da
montanha sobre as pérgolas.
Deixai-os. Vinde
também à nossa festa.
Agora, que a treva
mergulha nas piscinas,
dançarão sobre o
pântano
os esqueletos de cal.
Em: “Luz do Pântano” (1948)
Casal Dançando
(Fernando Botero:
artista colombiano)
Referência:
RIVERA, Bueno de. A dança dos obesos.
In: __________. Melhores poemas de Bueno
de Rivera. Seleção de Affonso Romano de Sant’Anna. São Paulo, SP: Global,
2003. p. 47. (‘Os Melhores Poemas’; n. 46)
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