Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Martha Medeiros - quando chegar

Martha espelha o desejo humano de sabedoria com o avanço da idade, sabedoria que, em tese, associa-se à serenidade frente aos contratempos da vida, um amor menos condicionado à tangibilidade de nossas buscas mais frenéticas, e maior capacidade para suportar imperturbavelmente a fragilidade do corpo.

Os versos finais do poema são bem espirituosos: no limite dos 90 anos, a poetisa espera “morrer de saudade”, mas quem ali se encontra expõe-se mais nitidamente à tensão da morte física, e não terá saudades, decerto, senão aqueles que aqui ficam, sentindo-as do ente que partiu, até que o tempo as atenue.

J.A.R. – H.C.

Martha Medeiros
(n. 1961)

quando chegar

quando chegar aos 30
serei uma mulher de verdade
nem Amélia nem ninguém
um belo futuro pela frente
e um pouco mais de calma talvez

e quando chegar aos 50
serei livre, linda e forte
terei gente boa ao lado
saberei um pouco mais do amor
e da vida quem sabe

e quando chegar aos 90
já sem força, sem futuro, sem idade
vou fazer uma festa de prazer
convidar todos que amei
registrar tudo que sei
e morrer de saudade

Em: “Meia-Noite e um Quarto” (1987)
  
Mulher em azul lendo uma carta
(Johannes Vermeer: pintor holandês)
   
Referência:

MEDEIROS, Martha. quando chegar. In: __________, Poesia reunida. Porto Alegre, RS: L&PM, 1999. p. 61. (Coleção ‘L&PM Pocket’; v. 165)

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