Miller recorre a inúmeras associações criadas pelo próprio imaginário
humano, capazes de dar conta de um evento de plena significação para a
continuidade da vida: não apenas nascer, num plano biológico, mas nascer para
fazer diferença junto aos entes queridos, consagrando devotamente uma criança
pelo nome.
Observam-se, desse modo, menções extraídas ao enredo bíblico sobre o ato
de criação de Adão e Eva, da adoração dos pastores a Jesus, nascido em uma
estrebaria, e do dogma de Deus único representado em uma Trindade. E a
relembrar o feito de nomeação dos animais sobre a face da terra por parte do
homem, aflora no poema uma soberana anáfora ao final de cada estrofe: o que
denominamos também se revela como aquilo que amamos.
J.A.R. – H.C.
Vassar Miller
(1924-1998)
For a Christening
Like the first man to
glance
Into a face and
fathom
The word as welcome,
dance
The common human
rhythm;
Like ali fish or fawn
that carne
At Adam’s cry, or
dove –
So you are what we
name,
And what we name we
love.
Or like the stars
recorded
By shepherds who had
striven
With wonder and thus
worded
The wildemess of heaven,
Shy creature growing
tame,
Taken from womb s
dense grove –
You now are what we
name
When what we name we
love.
One with ali precious
things
Called from the dusk
of death,
Rose-texture, whir of
wings,
Garrisoned with our
breath –
You wear its sheath
of flame
Around, beneath,
above
You, being what we
name
For you are what we
love.
One with the sacred
powers
Man credles on his
tongue
During time’s
timeless hours
Whereon his heart is
hung –
In the adoring frame
Made by our arms, you
move;
For you are what we
name,
And what we name we
love.
In the Name of the
Three in One,
More awesome still
than ours,
From whence your
mistery spun,
Wherein it yet
endures,
Speaking, though holy
shame
Would silence us, we
prove
How what we love we
name
How what we name we
love!
O Batismo
(Julius L. Stewart:
pintor norte-americano)
Para um Batizado
Como o primeiro homem
a contemplar
Um rosto e procurar
a palavra como
bem-vinda, dança
O ritmo humano comum;
Como todo peixe ou
fauno que surgiram
Ao chamado de Adão,
ou mergulharam –
Assim és tu aquilo
que te denominamos,
E o que denominamos
amamos.
Ou como as estrelas
anunciadas
Por pastores que
lutaram
Com a surpresa e emprestaram
palavras
À desolação do céu,
Tímida criatura a
domesticar-se,
Extraída da densa
alameda do ventre –
És agora aquilo que
te denominamos
Quando o que
denominamos amamos.
Identificado com todas
as coisas preciosas,
Convocadas da
escuridão da morte,
Tessitura de rosa,
adejar de asas,
Protegida por nosso
hálito –
Usas a aura de chamas
desse hálito
Ao redor de ti, por
baixo de ti, por cima
De ti, sendo aquilo
que te denominamos,
Pois que és o que
amamos.
Identificado com os
poderes sagrados
Que o homem embala em
sua língua,
Durante as horas
incontáveis do tempo,
Do qual pende seu
coração –
Na moldura adorável
Feita com os nossos
braços, moves-te;
Pois és aquilo que te
denominamos,
E o que denominamos
amamos.
Em nome dos Três em
Um,
Mais terrível ainda
que os nossos,
De onde teu mistério
proveio,
E onde ainda perdura,
Falando, apesar de a
santa vergonha
Dever calar-nos,
provamos
Como quando amamos
denominamos,
Como denominamos
aquilo que amamos!
Referência:
MILLER, Vassar. For a christening /
Para um batizado. Tradução de Marcos Santarrita. In: NEMEROV, Howard (Coord.). Poesia como criação. Tradução de Marcos
Santarrita. Rio de Janeiro, GB: Edições GRD, 1968. Em inglês: p. 148-149; em
português: p. 163.
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