A poetisa emprega elementos da natureza como metáforas para a
necessidade de iluminação espiritual de que carecemos, para tornar cintilantes
os mais recônditos desvãos de nossa alma: seríamos como o lamium, que se
compraz em florir em lugares frios e sombrios, prescindindo de luz direta,
espargindo-se progressivamente para todos os lados, tornando o caminho intransitável
em razão de suas folhas cheias de pontas.
O poema assemelha-se a um diálogo entre o sujeito lírico e a divindade, consagrado
à busca de uma verdade, talvez mais abstrata, considerando o predicado que lhe
é atribuído: “frieza”. Se, no poema, Deus representa a luz, faz sentido em se
afirmar que os humanos precisamos dessa luz em distintos graus!
J.A.R. – H.C.
Louise Glück
(n. 1943)
Lamium
This is how you live
when you have a cold heart.
As I do: in shadows,
trailing over cool rock,
under the great maple
trees.
The sun hardly
touches me.
Sometimes I see it in
early spring, rising very far away.
Then leaves grow over
it, completely hiding it. I feel it
glinting through the
leaves, erratic,
like someone hitting
the side of a glass with a metal spoon.
Living things don’t
all require
light in the same
degree. Some of us
make our own light: a
silver leaf
like a path no one
can use, a shallow
lake of silver in the
darkness under the great maples.
But you know this
already.
You and the others
who think
you live for truth
and, by extension, love
all that is cold.
Lamium
(J. McCombie: artista
canadense)
Lamium
É assim que vives
quando tens um coração frio.
Como faço: nas
sombras, resvalando sobre a rocha fria,
sob os grandes
áceres.
O sol quase não me
toca.
Às vezes o vejo no
início da primavera, a assomar
muito distante.
Logo as folhas
crescem sobre ele, ocultando-o
por completo. Sinto-o
a brilhar entre as
folhas, errático,
como se alguém
tocasse no lado de um copo
com uma colher de metal.
Nem todos os seres
vivos requerem
luz no mesmo grau.
Alguns de nós
fazemos nossa própria
luz: uma folha de prata
como um caminho que
ninguém pode usar,
um lago de prata
pouco profundo na
escuridão sob os grandes áceres.
Porém já o sabes.
Tu e os demais que
pensam
que vives para a
verdade e, por extensão, amas
tudo o que é frio.
Referência:
GLÜCK, Louise. Lamium. In: ASTLEY, Neil
(Ed.). Staying alive: real poems for
unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 119.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário