Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Louise Glück - Lamium

A poetisa emprega elementos da natureza como metáforas para a necessidade de iluminação espiritual de que carecemos, para tornar cintilantes os mais recônditos desvãos de nossa alma: seríamos como o lamium, que se compraz em florir em lugares frios e sombrios, prescindindo de luz direta, espargindo-se progressivamente para todos os lados, tornando o caminho intransitável em razão de suas folhas cheias de pontas.

O poema assemelha-se a um diálogo entre o sujeito lírico e a divindade, consagrado à busca de uma verdade, talvez mais abstrata, considerando o predicado que lhe é atribuído: “frieza”. Se, no poema, Deus representa a luz, faz sentido em se afirmar que os humanos precisamos dessa luz em distintos graus!

J.A.R. – H.C.

Louise Glück
(n. 1943)

Lamium

This is how you live when you have a cold heart.
As I do: in shadows, trailing over cool rock,
under the great maple trees.

The sun hardly touches me.
Sometimes I see it in early spring, rising very far away.
Then leaves grow over it, completely hiding it. I feel it
glinting through the leaves, erratic,
like someone hitting the side of a glass with a metal spoon.

Living things don’t all require
light in the same degree. Some of us
make our own light: a silver leaf
like a path no one can use, a shallow
lake of silver in the darkness under the great maples.

But you know this already.
You and the others who think
you live for truth and, by extension, love
all that is cold.

Lamium
(J. McCombie: artista canadense)

Lamium

É assim que vives quando tens um coração frio.
Como faço: nas sombras, resvalando sobre a rocha fria,
sob os grandes áceres.

O sol quase não me toca.
Às vezes o vejo no início da primavera, a assomar
muito distante.
Logo as folhas crescem sobre ele, ocultando-o
por completo. Sinto-o
a brilhar entre as folhas, errático,
como se alguém tocasse no lado de um copo
com uma colher de metal.

Nem todos os seres vivos requerem
luz no mesmo grau. Alguns de nós
fazemos nossa própria luz: uma folha de prata
como um caminho que ninguém pode usar,
um lago de prata
pouco profundo na escuridão sob os grandes áceres.

Porém já o sabes.
Tu e os demais que pensam
que vives para a verdade e, por extensão, amas
tudo o que é frio.

Referência:

GLÜCK, Louise. Lamium. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 119.

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