Um
poema rimado no formato “abaab” – como que a simular uma rápida corridinha e um
salto maior de um gato –, com seis estrofes de versos curtos, contando as
proezas e as particularidades de um felino caseiro, capaz de olhar sem qualquer
“susto o tempo e a morte”.
Muito
já se disse sobre os bichanos, que são animais independentes, comportam-se como
uma esfinge, têm sete vidas, que são mais ligados à casa do que ao dono ou
outras opiniões que tais. Mas nenhuma supera a frase que se atribui ao
francês Hippolyte Taine:
“Estudei muitos filósofos e muitos gatos. A sabedoria dos gatos é infinitamente
superior”. Sob tal visão, a filosofia estaria em muitos maus lençóis! (rs).
J.A.R.
– H.C.
Ivan Junqueira
(1934-2014)
Gato
Vai e
vem. O passo
deixa
no soalho,
menos
que um traço,
um
fio escasso
de
ócio e borralho.
Clara
é a pupila
onde
não chove
e
que, tranquila,
no
ermo cintila,
mas
não se move
A
pose é exata
a de
uma esfinge
da
cauda à pata,
nada
o arrebata
ou
mesmo o atinge.
Aguça
o dente,
as
unhas lima:
brinca,
pressente
– e,
de repente,
o
pulo em cima.
A voz
é como
sussurro
de onda;
infla-lhe
o pomo,
túmido
gomo
que
se arredonda.
Lúdico
e astuto,
eis
sua sorte:
alheio
a tudo,
olha
sem susto
o
tempo e a morte.
Em:
“O Grifo” (1983-1986)
O salto do gato alaranjado
(Agnieszka Praxmayer: artista franco-polaca)
Referência:
JUNQUEIRA,
Ivan. Gato. In: __________. Poemas reunidos. Rio de Janeiro, RJ:
Record, 1999. p. 184-185.
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