Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 5 de outubro de 2019

Ivan Junqueira - Gato

Um poema rimado no formato “abaab” – como que a simular uma rápida corridinha e um salto maior de um gato –, com seis estrofes de versos curtos, contando as proezas e as particularidades de um felino caseiro, capaz de olhar sem qualquer “susto o tempo e a morte”.

 

Muito já se disse sobre os bichanos, que são animais independentes, comportam-se como uma esfinge, têm sete vidas, que são mais ligados à casa do que ao dono ou outras opiniões que tais. Mas nenhuma supera a frase que se atribui ao francês Hippolyte Taine: “Estudei muitos filósofos e muitos gatos. A sabedoria dos gatos é infinitamente superior”. Sob tal visão, a filosofia estaria em muitos maus lençóis! (rs).

 

J.A.R. – H.C.

 

Ivan Junqueira

(1934-2014)

 

Gato

 

Vai e vem. O passo

deixa no soalho,

menos que um traço,

um fio escasso

de ócio e borralho.

 

Clara é a pupila

onde não chove

e que, tranquila,

no ermo cintila,

mas não se move

 

A pose é exata

a de uma esfinge

da cauda à pata,

nada o arrebata

ou mesmo o atinge.

 

Aguça o dente,

as unhas lima:

brinca, pressente

– e, de repente,

o pulo em cima.

 

A voz é como

sussurro de onda;

infla-lhe o pomo,

túmido gomo

que se arredonda.

 

Lúdico e astuto,

eis sua sorte:

alheio a tudo,

olha sem susto

o tempo e a morte.

 

Em: “O Grifo” (1983-1986)

 

O salto do gato alaranjado

(Agnieszka Praxmayer: artista franco-polaca)

 

Referência:

 

JUNQUEIRA, Ivan. Gato. In: __________. Poemas reunidos. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1999. p. 184-185.

ö

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