Encontrava-me no meio de uma versão ao português do poema abaixo, literalmente
“Seu Tipo”, de Sexton, quando, passeando pela internet, abdiquei da tarefa, pois deparei com a tradução de
Bernardo Beledeli Perin, que julguei um encanto, mantidas as rimas do original,
embora fugindo um pouco da literalidade do texto da poetisa. Mas fazer o quê?
Não estamos no melhor dos mundos possíveis!
O que vale é a beleza e a graça com que os versos exprimem ou subentendem
os papéis femininos, impostos ou não pelas normas ditas sociais, restringindo
ou não a expansão mais autêntica dessa bruxa dos subúrbios: de mãe valente à
fêmea fatal, de esposa domesticada à irresignada que se insurge contra aqueles
que a oprimem. Vejam qual é o tipo de Sexton!
J.A.R. – H.C.
Anne Sexton
(1928-1974)
Her Kind
I have gone out, a
possessed witch,
haunting the black
air, braver at night;
dreaming evil, I have
done my hitch
over the plain
houses, light by light:
lonely thing,
twelve-fingered, out of mind.
A woman like that is
not a woman, quite.
I have been her kind.
I have found the warm
caves in the woods,
filled them with
skillets, carvings, shelves,
closets, silks,
innumerable goods;
fixed the suppers for
the worms and the elves:
whining, rearranging
the disaligned.
A woman like that is
misunderstood.
I have been her kind.
I have ridden in your
cart, driver,
waved my nude arms at
villages going by,
learning the last
bright routes, survivor
where your flames
still bite my thigh
and my ribs crack
where your wheels wind.
A woman like that is
not ashamed to die.
I have been her kind.
Mulher com uma pérola
(Jean-Baptiste-Camille
Corot: pintor francês)
Desta Casta
Tenho saído por aí,
bruxa maldita,
assombrado no escuro,
na noite bravia;
tramando o mal, minha
espécie milita
sobre casas comuns
onde a lanterna luzia:
sozinha, doze dedos,
de loucura vasta.
Mulheres assim não
são mulheres, eu sabia.
Eu tenho sido desta
casta.
Tenho achado grutas
mornas sob o céu,
enchido-as de potes,
entalhes, estantes,
móveis, panos,
incontável cacaréu;
para vermes e duendes
preparo lanches:
enfileirando-os,
queixosa, exausta.
Mulheres assim
ninguém entendeu.
Eu tenho sido desta
casta.
Tenho andado na sua
caleça, cocheiro,
acenado braços nus às
vilas que passam,
aprendendo as rotas
finais, no fogareiro
sobrevivo às chamas
que pernas assam
e fendem ossos, onde
a carroça se arrasta.
Mulheres assim de
morrer não se vexam.
Eu tenho sido desta
casta.
Tradução de Bernardo Beledeli Perin
no sítio “Escamandro: poesia tradução crítica”
Referência:
SEXTON, Anne. Her kind. In: ASTLEY,
Neil (Ed.). Staying alive: real
poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 125.
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