Um poeminha básico para o dia, com a perspicácia das criações
desafiadoras de Leminski, sempre sucinto no arranjo das palavras: do espaço ao
tempo, “do silêncio de quem grita” ao “escândalo de quem cala”, das antinomias
que desmembram a lógica de tantos percalços ao espasmo do remate.
Ele é o demiurgo que tudo cria a partir da palavra, seja ela grafada
seja falada, inundando de luz o ambiente da sala: “no princípio era o verbo!”.
E o faz com pressa e presságio, talvez vislumbrando um futuro que não lhe
acenava com tantos anéis nos dedos.
J.A.R. – H.C.
Paulo Leminski
(1944-1989)
Sintonia para pressa e presságio
Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na
pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que
separa
o silêncio de quem
grita
do escândalo que
cala,
no tempo, distância,
praça,
que a pausa, asa,
leva
para ir do percalço
ao espasmo.
Eis a voz, eis o
deus, eis a fala,
eis que a luz se
acendeu na casa
e não cabe mais na
sala.
O campo lavrado
(Joan Miró: pintor
espanhol)
Referência:
LEMINSKI, Paulo. Sintonia para pressa e
presságio. In: MORICONI, Italo (Organização, introdução e referências
bibliográficas). Os cem melhores poemas
brasileiros do século. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2001. p. 279.
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há poucos dias acompanho o blog, me arrependo de não ter conhecido antes. Muito bom! Obrigada por compartilhar tanta coisa boa.
ResponderExcluirPrezada: Eu é que tenho muito a agradecer pelo elogio e por navegar pelas páginas deste blog.
ResponderExcluirUm abraço,
João A. Rodrigues