Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Paulo Leminski - Sintonia para pressa e presságio

Um poeminha básico para o dia, com a perspicácia das criações desafiadoras de Leminski, sempre sucinto no arranjo das palavras: do espaço ao tempo, “do silêncio de quem grita” ao “escândalo de quem cala”, das antinomias que desmembram a lógica de tantos percalços ao espasmo do remate.

Ele é o demiurgo que tudo cria a partir da palavra, seja ela grafada seja falada, inundando de luz o ambiente da sala: “no princípio era o verbo!”. E o faz com pressa e presságio, talvez vislumbrando um futuro que não lhe acenava com tantos anéis nos dedos.

J.A.R. – H.C.

Paulo Leminski
(1944-1989)

Sintonia para pressa e presságio

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

O campo lavrado
(Joan Miró: pintor espanhol)

Referência:

LEMINSKI, Paulo. Sintonia para pressa e presságio. In: MORICONI, Italo (Organização, introdução e referências bibliográficas). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2001. p. 279.

2 comentários:

  1. há poucos dias acompanho o blog, me arrependo de não ter conhecido antes. Muito bom! Obrigada por compartilhar tanta coisa boa.

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  2. Prezada: Eu é que tenho muito a agradecer pelo elogio e por navegar pelas páginas deste blog.
    Um abraço,
    João A. Rodrigues

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