Dedicado a Van Gogh e seus delirantes girassóis pincelados em tela,
emerge das palavras da autora alguma vertigem frente ao amarelo vivo da flor,
agressivo, espantoso, a mirar o sol de frente, tentando capturar-lhe o giro e o
ostensivo tom áureo.
Esse mesmo amarelo emerge como reflexo dos raios do sol na lua, à altura
do outono, estendendo-se à miríade de estrelas com luz própria, fulgurando o
céu azul-escuro – assim como são retratadas as noites nas obras do pintor, um
delírio vivaz que transforma a placidez dos céus num turbilhão hiper-real de
emoções.
J.A.R. – H.C.
Zila Mamede
(1928-1985)
Poema para Van Gogh
Amarelo é giro de sol
voo de canário e
no outono
breve giro de lua.
Amo esse amar,
elo entre a flor
e o espanto
agressivo da cor.
Nesse chão de matiz
a dimensão do mundo
é síntese e vertigem:
em girassol explode.
Em: “Exercício da Palavra” (1975)
Girassóis
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
Referência:
MAMEDE, Zila. Poema para Van Gogh. In:
__________. Navegos: poesia reunida
(1953-1978). Belo Horizonte, MG: Vega, 1978. p. 37.
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