O poeta imagina o que acontecerá depois de seu passamento, sem dúvida, bem
poucas coisas que, pelo significado que lhes atribuímos, marcam a vida humana –
sem maiores efeitos, contudo, sobre o ciclo mais amplo da natureza: quanto
tempo durará a vida do autor é uma incógnita, equação que se subordina, de uma
forma ou de outra, ao ano de seu nascimento – 1892 –, pois mal atingimos uma
centúria.
Mas lancemos um olhar retroativo sobre os fatos: MacLeish chegou aos 90,
o que não deixa de ser um trunfo! Falecido em 1982, neste momento, 37 anos
depois, como ele mesmo o afirma, permanecem apenas os duros ossos desnudados. E
acrescentaria: o que lhe restou dos cabelos ainda em vida.
J.A.R. – H.C.
Archibald MacLeish
(1892-1982)
1892-19—
There will be little
enough to forget –
The flight of crows,
A wet street,
The way the wind
blows,
Moonrise: sunset:
Three words the world
knows –
Little enough to
forget.
It will be easy
enough to forget.
The rain drips
Through the shallow
clay,
Washes lips,
Eyes, brain,
The rain drips in the
shallow clay,
The soft rain will
wash them away –
The flight of crows,
The way the wind
blows,
Moonrise: sunset:
Will wash them away
To the bare hard
bones:
And the bones forget.
In: “Streets in the Moon” (1926)
Campo de trigo com corvos
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
1892-19—
Haverá pouca coisa a
esquecer:
O voo dos corvos,
Uma rua molhada,
O modo de o vento
soprar,
O nascer da lua, o
pôr do sol,
Três palavras que o
mundo sabe,
Pouca coisa a
esquecer.
Será bem fácil de
esquecer.
A chuva pinga
Na argila rasa
E lava lábios,
Olhos e cérebro.
A chuva pinga na
argila rasa.
A chuva mansa lavará
tudo:
O voo dos corvos,
O modo de o vento
soprar,
O nascer da lua, o
pôr do sol.
Lavará tudo, até
chegar
Aos duros ossos
desnudados,
E os ossos, os ossos
esquecem.
Em: “Ruas na Lua” (1926)
Referências:
Em Inglês
MACLEISH, Archibald. 1892-19—. In:
__________. Collected poems:
1917-1952. Boston, MA: The Riverside Press Cambridge / Houghton Mifflin
Company, 1952. p. 17.
Em Português
MACLEISH, Archibald. 1892-19—. Tradução
de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas
traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p.
163. (Coleção “Rubáiyát”).
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