Há um certo humor negro neste poema de Bensley, entre o sério e o espirituoso,
a acentuar a dor de viver, atenuada por drogas excitantes: uma mulher mais
velha se vê explorada por rapazes que inapelavelmente estão ali para usufruir
outros valores que não exatamente o amor, ou de forma esclarecedora, toda a
quantia de que puderem se apropriar.
E a poetisa recorre à ajuda de Emily Dickinson, logo ela que sofreu
tanto pela vida reclusa, solitária, quase sem relacionamentos afetivos que pudessem ser definidos como cabais: Bensley parece buscar forças no exemplo de Dickinson,
para superar o seu estado de insatisfação com a vida, sem o apelo a tais meios
escusos.
J.A.R. – H.C.
Connie Bensley
(n. 1929)
Apologia
My life is too dull
and too careful even
I can see that:
the orderly bedside
table,
the spoilt cat.
Surely I should have
been bolder.
What could
biographers say?
She got up, ate toast and went shopping
day after day?
Whisky and gin are
alarming,
Ecstasy makes you
drop dead.
Toy boys make inroads
on cash
and your half of the
bed.
Emily Dickinson, help
me.
Stevie, look up from
your Aunt.
Some people can stand
excitement,
some people can’t.
Nosso amor iluminará a noite
(Adrian Borda: pintor
romeno)
Apologia
Minha vida é demasiado
enfadonha e meticulosa, posso
Perceber isso
inclusive:
a mesinha de
cabeceira bem ordenada, o gato dengoso.
Seguramente deveria
ter sido mais ousada.
O que poderiam dizer
os biógrafos?
Levantou-se, comeu torradas e foi às
compras
dia após dia?
O whisky e o gim são
alarmantes,
o ecstasy leva você a
cair morto.
Jovens amantes fazem
incursões sobre a grana e metade
de sua cama.
Emily Dickinson,
ajude-me.
Stevie, tire os olhos
de sua Tia.
Algumas pessoas são capazes de suportar a excitação,
Outras não.
Referência:
BENSLEY, Connie. Apologia. In: ASTLEY,
Neil (Ed.). Staying alive: real
poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 112.
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