Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Frances Cornford - Ode sobre o Inteiro Dever dos Pais

O poema de hoje, certamente, exibe muito da sabedoria apreendida pela poetisa quando em contato com as crianças, de como amá-las, colocá-las em segurança, fazê-las crescer com confiança, para se tornarem adultos saudáveis e positivos: nada se conquista com violência, mas com a complacência dos corações dedicados à causa do bem comum.

Uma observação: Cornford, inicialmente, possuía sobrenome Darwin, pois era neta do famoso naturalista inglês Charles Dawin, tendo sido criada e educada em particular, sob uma extensa rede social de tias, tios e primos. Daí, muito provavelmente, a sobredita sabedoria que externa no contato próximo com os guris.

J.A.R. – H.C.

Frances Cornford
(1886-1960)

Ode on the Whole Duty of Parents

The spirits of children are remote and wise,
They must go free
Like fishes in the sea
Or starlings in the skies,
Whilst you remain
The shore where casually they come again.
But when there falls the stalking shade of fear,
You must be suddenly near,
You, the unstable, must become a tree
In whose unending heights of flowering green
Hangs every fruit that grows, with silver bells;
Where heart-distracting magic birds are seen
And all the things a fairy-story tells;
Though still you should possess
Roots that go deep in ordinary earth,
And strong consoling bark
To love and to caress.

Last, when at dark
Safe on the pillow lies an up-gazing head
And drinking holy eyes
Are fixed on you,
When, from behind them, questions come to birth
Insistently,
On all the things that you have ever said
Of suns and snakes and parallelograms and flies,
And whether these are true,
Then for a while you’ll need to be no more
That sheltering shore
Or legendary tree in safety spread,
No, then you must put on
The robes of Solomon,
Or simply be
Sir Isaac Newton sitting on the bed.

A Virgem e o Menino
com São João e seus Pais
(Jacob Jordaens: pintor flamengo)

Ode sobre o Inteiro Dever dos Pais

Os espíritos das crianças são remotos e sábios,
Devem libertar-se
Como peixes no mar
Ou estorninhos no céu,
Enquanto permaneces
Na orla onde eles casualmente voltam a aparecer.
Mas quando se estampa a sombra fantasmática do medo,
De repente deves estar por perto,
Tu, o instável, deves converter-te numa árvore,
Em cujas intermináveis alturas de verde florescente
Pende cada fruta que cresce, com sinos de prata;
Onde se veem pássaros mágicos que distraem o coração
E todas as coisas que se relatam num conto de fadas;
Conquanto ainda devas possuir
Raízes que adentrem a terra comum,
E um forte córtex consolador
Para amar e acariciar.

Enfim, quando no escuro,
A salvo sobre o travesseiro, vê-se uma cabeça a olhar para cima
E os sagrados e absorventes olhos
Em ti estão fixos,
Quando, ao encalço delas, as perguntas vêm à luz
Com insistência,
Sobre todas as coisas que disseste
Acerca de sóis, serpentes, paralelogramos e moscas,
E sendo estas verdadeiras,
Então por um tempo não precisarás ser mais
Essa orla protetora
Ou a lendária árvore a prover uma alargada segurança,
Não, então deves vestir-te
Com as túnicas de Salomão
Ou ser simplesmente
Sir Isaac Newton sentado à cama.

Referência:

CORNFORD, Frances. Ode on the whole duty of parents. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 145-146.

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