Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Emily Dickinson - Bateu um vento como um clarim

Dickinson mostra-se um tanto quanto sensitiva neste poema, presenciando coisas que o próprio espírito suscitou de funesto, que poderiam advir no curso dos dias, a si própria ou aos seus. Para outros, não passaria de eventos típicos da natureza – uma tempestade, decerto – a exigir menores ou maiores cuidados, mas não circunstâncias consectárias de fenômenos sobrenaturais.

Nota-se no poema o emprego deliberado de inversões sintáticas, tornando algo ambivalente o sentido dos versos, em razão até mesmo das imagens inusitadas concebidas pela autora. Ademais, a pontuação empregada não reforça a pretensa interpretação autêntica que se poderia deduzir do poema, parecendo ter sido levada para longe pelo efeito do vento lancinante! (rs)

O leitor poderá concluir sobre o que decorre de tal situação: a versão do poema a outro idioma, ao final, acabará por refletir, manifestamente, a interpretação que o tradutor extrair do poema, de onde se infere que transcrevê-lo no original, na mesma oportunidade, é dever inafastável.

J.A.R. – H.C.

Emily Dickinson
(1830-1886)

There came a Wind like a Bugle

There came a Wind like a Bugle –
It quivered through the Grass
And a Green Chill upon the Heat
So ominous did pass
We barred the Windows and the Doors
As from an Emerald Ghost –
The Doom’s electric Moccasin
That very instant passed –
On a strange Mob of panting Trees
And Fences fled away
And Rivers where the Houses ran,
Those looked that lived – that Day –
The Bell within the steeple wild
The flying tidings told –
How much can come
And much can go
And yet abide the World!

Vento Frio do Leste
(Andrey Egorov: pintor russo)

Bateu um Vento como um Clarim

Bateu um Vento como um Clarim –
Estremecendo por entre a Relva
E um Verde Calafrio atravessou
Tão ominosamente o Calor
Que trancamos as Janelas e as Portas
Para proteger-nos do Espectro Esmeralda –
A Serpente elétrica da Fatalidade
Nesse mesmo instante passou –
Sobre uma Turba estranha de arfantes Árvores
E de Sebes dispersaram-se
E de Rios por onde correm as Casas,
Eis o que presenciaram os vivos – naquele Dia –
O Sino indômito dentro do campanário
Apregoava pelo ar as notícias –
Quanto pode vir
E quanto partir,
E ainda assim o Mundo subsiste!

Referência:

DICKINSON, Emily. There came a wind like a bugle. In: __________. The complete poems of Emily Dickinson. Edited by Thomas H. Johnson. Boston, MA: Little, Brown and Company, 1960. p. 659-660.

Nenhum comentário:

Postar um comentário