Dickinson mostra-se um tanto quanto sensitiva neste poema, presenciando
coisas que o próprio espírito suscitou de funesto, que poderiam advir no curso
dos dias, a si própria ou aos seus. Para outros, não passaria de eventos
típicos da natureza – uma tempestade, decerto – a exigir menores ou maiores
cuidados, mas não circunstâncias consectárias de fenômenos sobrenaturais.
Nota-se no poema o emprego deliberado de inversões sintáticas, tornando
algo ambivalente o sentido dos versos, em razão até mesmo das imagens
inusitadas concebidas pela autora. Ademais, a pontuação empregada não reforça a
pretensa interpretação autêntica que se poderia deduzir do poema, parecendo ter
sido levada para longe pelo efeito do vento lancinante! (rs)
O leitor poderá concluir sobre o que decorre de tal situação: a versão
do poema a outro idioma, ao final, acabará por refletir, manifestamente, a
interpretação que o tradutor extrair do poema, de onde se infere que transcrevê-lo no original, na mesma oportunidade, é dever inafastável.
J.A.R. – H.C.
Emily Dickinson
(1830-1886)
There came a Wind like a Bugle
There came a Wind
like a Bugle –
It quivered through
the Grass
And a Green Chill
upon the Heat
So ominous did pass
We barred the Windows
and the Doors
As from an Emerald
Ghost –
The Doom’s electric
Moccasin
That very instant
passed –
On a strange Mob of
panting Trees
And Fences fled away
And Rivers where the
Houses ran,
Those looked that
lived – that Day –
The Bell within the
steeple wild
The flying tidings
told –
How much can come
And much can go
And yet abide the
World!
Vento Frio do Leste
(Andrey Egorov:
pintor russo)
Bateu um Vento como um Clarim
Bateu um Vento como
um Clarim –
Estremecendo por
entre a Relva
E um Verde Calafrio atravessou
Tão ominosamente o
Calor
Que trancamos as
Janelas e as Portas
Para proteger-nos do Espectro
Esmeralda –
A Serpente elétrica
da Fatalidade
Nesse mesmo instante
passou –
Sobre uma Turba
estranha de arfantes Árvores
E de Sebes
dispersaram-se
E de Rios por onde correm
as Casas,
Eis o que
presenciaram os vivos – naquele Dia –
O Sino indômito dentro
do campanário
Apregoava pelo ar as
notícias –
Quanto pode vir
E quanto partir,
E ainda assim o Mundo
subsiste!
Referência:
DICKINSON, Emily. There came a wind
like a bugle. In: __________. The complete poems of Emily Dickinson. Edited by
Thomas H. Johnson. Boston, MA: Little, Brown and Company, 1960. p. 659-660.
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