O poeta e autor inglês acordou atordoado com as vespas a fazerem “festa”
sobre a macieira às redondezas de sua casa e, depois, sobre a vidraça da janela
de seu quarto, tudo porque deixara a luz acesa e elas estavam em busca de se
aquecerem um pouco, dado o frio que grassava lá fora.
Constantine vê na retomada de todas as coisas a certeza da continuidade
da vida, as estações do ano a fomentar impulsos específicos, fazendo lembrar
que tudo tem o seu momento, quer na natureza quer no próprio espírito humano. A
vida pulsa e nada há que possa deter a sua torrente.
J.A.R. – H.C.
David Constantine
(n. 1944)
The Wasps
The apples on the
tree are full of wasps;
Red apples, racing
like hearts. The summer pushes
Her tongue into the
winter’s throat.
But at six today,
like rain, like the first drops,
The wasps came
battering softly at the black glass.
They want the light,
the cold is at their backs.
That morning last
year when the light had been left on
The strange room
terrified the heart in me,
I could not place
myself, didn’t know my own
Insect scribble: then
saw the whole soft
Pelt of wasps, its
underbelly, the long black pane
Yellow with
visitants, it seethed, the glass sounded.
I bless my life: that
so much wants in.
Vespas
(Charles Browning:
pintor norte-americano)
As Vespas
As maçãs na árvore
estão cheias de vespas;
Maçãs vermelhas, pressurosas
como corações. O verão empurra
A sua língua para
dentro da garganta do inverno.
Mas às seis de hoje,
como se fossem chuva, suas primeiras gotas,
As vespas zurziram brandamente
sobre a vidraça negra.
Elas buscam a luz,
pois o frio as hostiliza pelas costas.
Naquela manhã do ano
passado, quando a luz havia ficado acesa,
O quarto assim estranho
aterrorizou-me o coração,
Não consegui me
localizar, desconhecia a minha própria
Garatuja de insetos: então
vi toda a suave
Pele das vespas, seus
ventres, a longa vidraça negra
Amarelada com as
visitantes, que fervilhava, o vidro a ressoar.
Bendigo minha vida:
essa a que tanto aspiro.
Referência:
CONSTANTINE, David. The wasps. In:
ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive:
real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 49.
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