Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

David Constantine - As Vespas

O poeta e autor inglês acordou atordoado com as vespas a fazerem “festa” sobre a macieira às redondezas de sua casa e, depois, sobre a vidraça da janela de seu quarto, tudo porque deixara a luz acesa e elas estavam em busca de se aquecerem um pouco, dado o frio que grassava lá fora.

Constantine vê na retomada de todas as coisas a certeza da continuidade da vida, as estações do ano a fomentar impulsos específicos, fazendo lembrar que tudo tem o seu momento, quer na natureza quer no próprio espírito humano. A vida pulsa e nada há que possa deter a sua torrente.

J.A.R. – H.C.

David Constantine
(n. 1944)

The Wasps

The apples on the tree are full of wasps;
Red apples, racing like hearts. The summer pushes
Her tongue into the winter’s throat.

But at six today, like rain, like the first drops,
The wasps came battering softly at the black glass.
They want the light, the cold is at their backs.

That morning last year when the light had been left on
The strange room terrified the heart in me,
I could not place myself, didn’t know my own

Insect scribble: then saw the whole soft
Pelt of wasps, its underbelly, the long black pane
Yellow with visitants, it seethed, the glass sounded.

I bless my life: that so much wants in.

Vespas
(Charles Browning: pintor norte-americano)

As Vespas

As maçãs na árvore estão cheias de vespas;
Maçãs vermelhas, pressurosas como corações. O verão empurra
A sua língua para dentro da garganta do inverno.

Mas às seis de hoje, como se fossem chuva, suas primeiras gotas,
As vespas zurziram brandamente sobre a vidraça negra.
Elas buscam a luz, pois o frio as hostiliza pelas costas.

Naquela manhã do ano passado, quando a luz havia ficado acesa,
O quarto assim estranho aterrorizou-me o coração,
Não consegui me localizar, desconhecia a minha própria

Garatuja de insetos: então vi toda a suave
Pele das vespas, seus ventres, a longa vidraça negra
Amarelada com as visitantes, que fervilhava, o vidro a ressoar.

Bendigo minha vida: essa a que tanto aspiro.

Referência:

CONSTANTINE, David. The wasps. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 49.

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