Com um acento hilariante, Nunes dirige-se àqueles que, aparentemente,
esperam por sua morte, que, tal como a contempla, não lhe parece definitiva,
uma vez que será acompanhada pela necessária ressurreição. Portanto, nada de
precipitações quanto ao assunto.
E para quem já se encontra nas regiões lindeiras da morte, pensar em
aposentadoria é como confundir o amor – um sentimento mais amplo – com uma de
suas manifestações – o prazer da sexualidade –, não se podendo tomar, por
conseguinte, meros espectros de interseção entre as coisas como situações de plena
equivalência entre elas, diz-nos o poeta.
J.A.R. – H.C.
Cassiano Nunes
(1921-2007)
Espera um pouco
Não dês o nome de
amor
ao que não passa de
desejo.
Ideal é uma palavra branca
demais
para o teu apetite de
aposentadoria.
Procura ser exato
ao definir as coisas.
A minha morte não
denomines de morte.
Nem a consideres
definitiva.
Espera um pouco,
amigo!
Espera um pouco pela
ressurreição.
Ressurreição
(Ulrich Osterloh:
pintor alemão)
Referência:
NUNES, Cassiano. Espera um pouco. In:
__________. Obra reunida: poesia; v.
1. Organização de Maria de Jesus Evangelista. Brasília, DF: Centro Editorial,
2015. p. 33.
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