Carlos Nejar reaparece hoje, mas desta feita não com um poema de sua lavra,
senão na do vate chileno: o “imortal” gaúcho é o tradutor deste soneto, um dos
mais replicados entre os que compõem a obra “Cien sonetos de amor” (“Cem
Sonetos de Amor”), de 1959, de Neruda, eis que a desvelar as emoções da
experiência de um afeto imperecível e incondicional.
Estaria um amor assim entre a beleza e a escuridão, fora do plano
lógico, a ressoar nas almas dos amantes, mais além das imagens relatadas,
palpáveis embora superficiais – rosa de sal, topázio ou flecha de cravos –, com
o seu potencial para propagar a flama. Amplie-se, em outra mirada, a
perspectiva mais perene: um amor tão profundo que os amantes deixam de ser “um
para o outro”, pois são tantos outros quantos poderiam ser!
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
Soneto XVII
No te amo como si
fueras rosa de sal, topacio
o flecha de claveles
que propagan el fuego:
te amo como se aman
ciertas cosas oscuras,
secretamente, entre
la sombra y el alma.
Te amo como la planta
que no florece y lleva
dentro de sí,
escondida, la luz de aquellas flores,
y gracias a tu amor
vive oscuro en mi cuerpo
el apretado aroma que
ascendió de la tierra.
Te amo sin saber
cómo, ni cuándo, ni de dónde,
te amo directamente
sin problemas ni orgullo:
así te amo porque no
sé amar de otra manera,
sino así de este modo
en que no soy ni eres,
tan cerca que tu mano
sobre mi pecho es mía,
tan cerca que se
cierran tus ojos con mi sueño.
Pigmalião e Galateia
(Jean-Léon Gérôme:
pintor francês)
Soneto XVII
Não te amo como se
fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos
que propagam o fogo:
te amo como se amam
certas coisas obscuras,
secretamente, entre a
sombra e a alma.
Te amo como a planta
que não floresce e leva
dentro de si, oculta,
a luz daquelas flores,
e graças a teu amor
vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que
ascendeu da terra.
Te amo sem saber
como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente
sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não
sei amar de outra maneira,
senão assim deste
modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão
sobre meu peito e minha
tão perto que se
fecham teus olhos com meu sonho.
Referências:
Em Espanhol
NERUDA, Pablo. Soneto XVII. In:
__________. Antología poética.
Córdoba, AR: Ediciones del Sur, nov.2003. p. 64. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 ago.
2019.
Em Português
NERUDA, Pablo. Soneto XVII. Tradução de
Carlos Nejar. In: __________. Cem
sonetos de amor. Tradução de Carlos Nejar. Porto Alegre, RS: L&PM,
1997. p. 23. (Coleção “L&PM Pocket”; v. 19).
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