Neste poema escrito por Owen aos 24 anos, depois de haver passado por
experiências lutando em trincheiras no norte da França, durante a 1GM, o militar
lança o seu sarcasmo contra a máxima extraída a uma das odes do poeta romano
Horácio: morrer pelo próprio país, em meio a um conflito bélico, pode ser tudo,
menos belo e honroso, ainda mais numa guerra durante a qual 17 milhões de
soldados e civis perderam a vida.
O pior é que, enquanto se recuperava de ferimentos, as palavras do poeta
parecem vaticinar o que ainda estaria por vir: retornando ao campo de batalha,
o próprio autor morreu em ação, uma semana antes do armistício de 11.11.1918,
que assinalou o fim das hostilidades.
Mas ficou a mensagem aos jovens: não se deixem enganar por políticos
imorais, nem por suas pernósticas propagandas, pois o recurso ao patriotismo
não passa de uma farsa ridícula para acobertar interesses escusos, distantes
dos interesses do bem-estar da maioria.
J.A.R. – H.C.
Wilfred Owen
(1893-1918)
Dulce et Decorum Est
Bent double, like old
beggars under sacks,
Knock-kneed, coughing
like hags, we cursed
through sludge,
Till on the haunting
flares we turned our backs,
And towards our
distant rest began to trudge.
Men marched asleep.
Many had lost their boots,
But limped on,
blood-shod. All went lame, all blind;
Drunk with fatigue;
deaf even to the hoots
Of gas-shells
dropping softly behind.
Gas! Gas! Quick,
boys!– An ecstasy of fumbling,
Fitting the clumsy
helmets just in time,
But someone still was
yelling out and stumbling
And floundering like
a man in fire or lime.–
Dim through the misty
panes and thick green light,
As under a green sea,
I saw him drowning.
In all my dreams
before my helpless sight
He plunges at me,
guttering, choking, drowning.
If in some smothering
dreams, you too could pace
Behind the wagon that
we flung him in,
And watch the white
eyes writhing in his face,
His hanging face,
like a devil’s sick of sin;
If you could hear, at
every jolt, the blood
Come gargling from
the froth-corrupted lungs,
Bitter as the cud
Of vile, incurable
sores on innocent tongues,–
My friend, you would
not tell with such high zest
To children ardent
for some desperate glory,
The old Lie: Dulce et decorum est
Pro patria mori.
Os Horrores da Guerra
(Peter Paul Rubens:
pintor flamengo)
Dulce et Decorum Est
Dobrados em dois, como
velhos mendigos sob sacos,
As pernas a bambear,
tossindo como bruxas, praguejávamos
através do lodo,
Até que diante de
fulgores inquietantes déssemos as costas,
E começássemos a nos
arrastar rumo ao nosso distante refúgio.
Os homens marchavam
sonolentos. Muitos haviam perdido
suas botas,
Mas seguiam
claudicantes, cobertos de sangue. Todos trôpegos
e cegos caminhavam;
Ébrios de cansaço;
surdos até mesmo aos silvos
Dos projéteis de gás
caindo suavemente à retaguarda.
Gás! Gás! Rápido,
rapazes! Num arroubo atarantado,
Toscos capacetes são
ajustados a tempo,
Mas alguém ainda
grita e tropeça
E debate-se como se
estivesse imerso em fogo ou visgo.
Tenuemente, através
da viseira embaçada e da densa luz verde,
Eu o vi afogar-se
naquele turvo mar esverdeado.
Em todos os meus
sonhos, diante do meu olhar indefeso,
Precipita-se até mim,
esvaindo, sufocando, afogando.
Se em alguns sonhos
asfixiantes também pudesses seguir
Atrás do vagão onde o
estendemos,
Para observares em
sua face os olhos brancos convulsionados,
Seu rosto pendente,
como um demônio farto de pecado;
Se pudesses escutar, a
cada solavanco, o gorgolejo
Do sangue a sair dos
pulmões corrompidos pela espuma,
Acre como o remoer
De infames,
incuráveis pústulas em línguas inocentes;
Amigo meu, não dirias
com tanto entusiasmo
Às crianças, ardentes
por uma desesperada glória,
A velha Mentira: Dulce et decorum est
Pro patria mori. (*)
Nota:
(*). “Doce e honroso é morrer por seu
país”.
Referência:
OWEN, Vilfred. Dulce et decorum est.
In: __________. The poems of Wilfred
Owen. Edited with a memoir and notes by Edmund Blunden. 1st. ed., 3rd.
reimp. London, EM: Chatto & Windus, 1960. p. 66.
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