Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Wilfred Owen - Dulce et Decorum Est

Neste poema escrito por Owen aos 24 anos, depois de haver passado por experiências lutando em trincheiras no norte da França, durante a 1GM, o militar lança o seu sarcasmo contra a máxima extraída a uma das odes do poeta romano Horácio: morrer pelo próprio país, em meio a um conflito bélico, pode ser tudo, menos belo e honroso, ainda mais numa guerra durante a qual 17 milhões de soldados e civis perderam a vida.

O pior é que, enquanto se recuperava de ferimentos, as palavras do poeta parecem vaticinar o que ainda estaria por vir: retornando ao campo de batalha, o próprio autor morreu em ação, uma semana antes do armistício de 11.11.1918, que assinalou o fim das hostilidades.

Mas ficou a mensagem aos jovens: não se deixem enganar por políticos imorais, nem por suas pernósticas propagandas, pois o recurso ao patriotismo não passa de uma farsa ridícula para acobertar interesses escusos, distantes dos interesses do bem-estar da maioria.

J.A.R. – H.C.

Wilfred Owen
(1893-1918)

Dulce et Decorum Est

Bent double, like old beggars under sacks,
Knock-kneed, coughing like hags, we cursed
through sludge,
Till on the haunting flares we turned our backs,
And towards our distant rest began to trudge.
Men marched asleep. Many had lost their boots,
But limped on, blood-shod. All went lame, all blind;
Drunk with fatigue; deaf even to the hoots
Of gas-shells dropping softly behind.

Gas! Gas! Quick, boys!– An ecstasy of fumbling,
Fitting the clumsy helmets just in time,
But someone still was yelling out and stumbling
And floundering like a man in fire or lime.–
Dim through the misty panes and thick green light,
As under a green sea, I saw him drowning.

In all my dreams before my helpless sight
He plunges at me, guttering, choking, drowning.

If in some smothering dreams, you too could pace
Behind the wagon that we flung him in,
And watch the white eyes writhing in his face,
His hanging face, like a devil’s sick of sin;
If you could hear, at every jolt, the blood
Come gargling from the froth-corrupted lungs,
Bitter as the cud
Of vile, incurable sores on innocent tongues,–
My friend, you would not tell with such high zest
To children ardent for some desperate glory,
The old Lie: Dulce et decorum est
Pro patria mori.

Os Horrores da Guerra
(Peter Paul Rubens: pintor flamengo)

Dulce et Decorum Est

Dobrados em dois, como velhos mendigos sob sacos,
As pernas a bambear, tossindo como bruxas, praguejávamos
através do lodo,
Até que diante de fulgores inquietantes déssemos as costas,
E começássemos a nos arrastar rumo ao nosso distante refúgio.
Os homens marchavam sonolentos. Muitos haviam perdido
suas botas,
Mas seguiam claudicantes, cobertos de sangue. Todos trôpegos
e cegos caminhavam;
Ébrios de cansaço; surdos até mesmo aos silvos
Dos projéteis de gás caindo suavemente à retaguarda.

Gás! Gás! Rápido, rapazes! Num arroubo atarantado,
Toscos capacetes são ajustados a tempo,
Mas alguém ainda grita e tropeça
E debate-se como se estivesse imerso em fogo ou visgo.
Tenuemente, através da viseira embaçada e da densa luz verde,
Eu o vi afogar-se naquele turvo mar esverdeado.

Em todos os meus sonhos, diante do meu olhar indefeso,
Precipita-se até mim, esvaindo, sufocando, afogando.

Se em alguns sonhos asfixiantes também pudesses seguir
Atrás do vagão onde o estendemos,
Para observares em sua face os olhos brancos convulsionados,
Seu rosto pendente, como um demônio farto de pecado;
Se pudesses escutar, a cada solavanco, o gorgolejo
Do sangue a sair dos pulmões corrompidos pela espuma,
Acre como o remoer
De infames, incuráveis pústulas em línguas inocentes;
Amigo meu, não dirias com tanto entusiasmo
Às crianças, ardentes por uma desesperada glória,
A velha Mentira: Dulce et decorum est
Pro patria mori. (*)

Nota:

(*). “Doce e honroso é morrer por seu país”.

Referência:

OWEN, Vilfred. Dulce et decorum est. In: __________. The poems of Wilfred Owen. Edited with a memoir and notes by Edmund Blunden. 1st. ed., 3rd. reimp. London, EM: Chatto & Windus, 1960. p. 66.

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