Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Kenneth Fearing - Agora

Aparentemente o poeta alude a um momento posterior a uma das guerras mundiais, nas quais o que se mais se viu foram morticínios e erros cometidos sem conta pelas nações envolvidas – e ditas desenvolvidas! Mas o que sucede à beligerância é uma paz que, aos olhos do poeta, incuba o ovo de uma outra serpente...

É a metáfora da aparente normalidade das coisas – a busca do prazer e a obsessão pelo lucro –, que, sob a inflexão da última estrofe do poema, nos leva a tal conclusão: a realidade aparenta sanidade acima do nível d’água; porém, das coisas submersas emerge um gás latente e perigoso, a tornar a água temerariamente aquecida, até o ponto em que tudo, novamente, poderá ir pelos ares.

J.A.R. – H.C.

Kenneth Fearing
(1902-1961)
Now

Now that we know life:
Breakfast in the morning; office and theater and sleep;
no memory;
Only desire and profit are real;
Now that we know life in our own way,

There is no war, no death,
There are no doubts, no terrors, and we make no mistakes;
There is a forest of bones in the earth but above it, now there
is peace;
The fury is gone;
The purposes are gone;
For a little while, the agony is gone;
We have our own thoughts, we know life in our own way,
The world is quiet and green –

As it is where bubbles rise in the waters of swamps;
Where bubbles of gas rise and break among the reeds;
And the reeds are green;
And the frogs are loud, the water is warm where the bubbles
rise;
The reeds are still;
The reeds are green, the water is warm, the sky is blue.

Autorretrato com a mão na face
(Edvard Munch: pintor norueguês)

Agora

Agora que conhecemos a vida:
Café da manhã; escritório e teatro e descanso;
nenhuma recordação;
Somente desejo e lucro são reais;
Agora que conhecemos a vida a nosso modo,

Não há guerra, nem morte,
Não há dúvidas, nem terrores, tampouco nos equivocamos;
Há uma selva de ossos sobre a terra, mas nela agora há paz.
Foi-se a fúria;
Sumiram os propósitos;
Por um momento, a agonia se retirou;
Temos nossos próprios pensamentos, conhecemos a vida
a nosso modo;
O mundo está verde e quieto –

Tal como no ponto onde as bolhas emergem nas águas
dos pântanos;
Onde bolhas de gás emergem e se rompem entre os juncos;
E verdes são os juncos;
E ruidosas as rãs, tépida a água onde as bolhas emergem;
Os juncos estão quietos;
Os juncos são verdes; tépida a água; azul o céu.

Referência:

FEARING, Kenneth. Now. In: __________. New and selected poems. Bloomington, IN: Indiana University Press, 1956. p. 9.

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