Aparentemente o poeta alude a um momento posterior a uma das guerras
mundiais, nas quais o que se mais se viu foram morticínios e erros cometidos sem
conta pelas nações envolvidas – e ditas desenvolvidas! Mas o que sucede à
beligerância é uma paz que, aos olhos do poeta, incuba o ovo de uma outra serpente...
É a metáfora da aparente normalidade das coisas – a busca do prazer e a
obsessão pelo lucro –, que, sob a inflexão da última estrofe do poema, nos leva
a tal conclusão: a realidade aparenta sanidade acima do nível d’água; porém,
das coisas submersas emerge um gás latente e perigoso, a tornar a água temerariamente
aquecida, até o ponto em que tudo, novamente, poderá ir pelos ares.
J.A.R. – H.C.
Kenneth Fearing
(1902-1961)
Now
Now that we know
life:
Breakfast in the morning;
office and theater and sleep;
no memory;
Only desire and
profit are real;
Now that we know life
in our own way,
There is no war, no
death,
There are no doubts,
no terrors, and we make no mistakes;
There is a forest of
bones in the earth but above it, now there
is peace;
The fury is gone;
The purposes are
gone;
For a little while,
the agony is gone;
We have our own
thoughts, we know life in our own way,
The world is quiet
and green –
As it is where
bubbles rise in the waters of swamps;
Where bubbles of gas
rise and break among the reeds;
And the reeds are
green;
And the frogs are
loud, the water is warm where the bubbles
rise;
The reeds are still;
The reeds are green,
the water is warm, the sky is blue.
Autorretrato com a mão na face
(Edvard Munch: pintor
norueguês)
Agora
Agora que conhecemos
a vida:
Café da manhã; escritório
e teatro e descanso;
nenhuma recordação;
Somente desejo e
lucro são reais;
Agora que conhecemos
a vida a nosso modo,
Não há guerra, nem
morte,
Não há dúvidas, nem
terrores, tampouco nos equivocamos;
Há uma selva de ossos
sobre a terra, mas nela agora há paz.
Foi-se a fúria;
Sumiram os
propósitos;
Por um momento, a
agonia se retirou;
Temos nossos próprios
pensamentos, conhecemos a vida
a nosso modo;
O mundo está verde e quieto
–
Tal como no ponto onde
as bolhas emergem nas águas
dos pântanos;
Onde bolhas de gás
emergem e se rompem entre os juncos;
E verdes são os
juncos;
E ruidosas as rãs, tépida
a água onde as bolhas emergem;
Os juncos estão
quietos;
Os juncos são verdes;
tépida a água; azul o céu.
Referência:
FEARING, Kenneth. Now. In: __________. New and selected poems. Bloomington,
IN: Indiana University Press, 1956. p. 9.
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