Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Ingeborg Bachmann - A Hora Marcada

A crítica ao fascismo permeia grande parte da obra, quer poética quer dramatúrgica, da autora austríaca. Mas este poema nós o furtamos de seu inventário poético para fazer frente ao fascismo que permeia a prática política hodierna em Pindorama: dias piores virão com esse mentecapto no poder e suas hostes ensandecidas!

O fascismo se explicita mais contundentemente numa relação heterossexual: enquanto a mulher afunda na areia, o homem exerce pressão adicional, ordenando-a calar e assumindo-a como um ente com quem se relaciona transitoriamente e depois a descarta. Mas o que seriam as “entranhas dos peixes” e a “luz dos tremoceiros”? Há certo hermetismo que dificulta a plena elucidação do poema: o que diria o internauta?

J.A.R. – H.C.

Ingeborg Bachmann
(1926-1973)

Die Gestundete Zeit

Die gestundete Zeit
Es kommen härtere Tage.
Die auf Widerruf gestundete Zeit
wird sichtbar am Horizont.
Bald mußt du den Schuh schnüren
und die Hunde zurückjagen in die Marschhöfe.
Denn die Eingeweide der Fische
sind kalt geworden im Wind.
Ärmlich brennt das Licht der Lupinen.
Dein Blick spurt im Nebel:
die auf Widerruf gestundete Zeit
wird sichtbar am Horizont.

Drüben versinkt dir die Geliebte im Sand,
er steigt um ihr wehendes Haar,
er fällt ihr ins Wort,
er befiehlt ihr zu schweigen,
er findet sie sterblich
und willig dem Abschied
nach jeder Umarmung.

Sieh dich nicht um.
Schnür deinen Schuh.
Jag die Hunde zurück.
Wirf die Fische ins Meer.
Lösch die Lupinen!

Es kommen härtere Tage.

Uma estada entre os tremoceiros
(Karen Margulis: pintora norte-americana)

A Hora Marcada

Dias piores virão.
A hora marcada em revogação
se mostra no horizonte.
Logo terás de apertar tuas botas
e reunir teus cães de volta ao pátio.
Pois que as tripas dos peixes
esfriaram expostas.
Débil arde a luz dos tremoceiros.
Tua vista peleja na névoa:
a hora marcada em revogação
se mostra no horizonte.

Tua amada afunda ali no areal,
ele envolve o cabelo ondulante,
ele lhe corta a palavra,
ele lhe ordena que cale,
ele a tem por efêmera
e disposta ao adeus
a cada abraço.

Nada procures.
Aperta tuas botas.
Reúne teus cães.
Lança os peixes ao mar.
Extingue os tremoceiros!

Dias piores virão.

Referência:

BACHMANN, Ingeborg. Die gestundete zeit / A hora marcada. Tradução de Matheus Guménin Barreto. In: MENDONÇA, Vanderley (Ed.). Lira argenta: poesia em tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Selo Demônio Negro, 2017. Em alemão: p. 260; em português: p. 261.

Nenhum comentário:

Postar um comentário