Garrett afirma que o amor é um inferno, mas que somente ao cair nos
braços da amada é que começou a, de fato, viver. E veja-se lá que as primeiras
imagens evocadas pelo poeta eram mera chama que se consumia, mas que, pela
profusão de tanto calor, no correr do tempo, tornou-se um cadinho onde Satã veio
espicaçar a febre do desejo!
Antes disso, ele dormira pelos efeitos de Morfeu, sentindo uma serena
paz e, ao acordar, deu com olhos nela – a musa por quem se encantou –, não
nomeada, mas que se pressente envolta em labaredas, as quais, por fim, levaram
de roldão o escritor de temperamento tão irrequieto e apaixonado!
J.A.R. – H.C.
Almeida Garrett
(1799-1854)
Este inferno de amar
Este inferno de amar
– como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n’alma...
quem foi?
Esta chama que alenta
e consome,
Que é a vida – e que
a vida destrói –
Como é que se veio a
atear,
Quando – ai quando se
há-de ela apagar?
Eu não sei, não me
lembra: o passado,
A outra vida que
dantes vivi
Era um sonho
talvez... – foi um sonho –
Em que paz tão serena
a dormi!
Oh! que doce era
aquele sonhar...
Quem me veio, ai de
mim! despertar?
Só me lembra que um
dia formoso
Eu passei... dava o
sol tanta luz!
E os meus olhos, que
vagos giravam,
Em seus olhos
ardentes os pus.
Que fez ela? eu que
fiz? – Não o sei;
Mas nessa hora a
viver comecei...
Primavera
(Pierre-Auguste Cot:
pintor francês)
Referência:
GARRETT, Almeida. Este inferno de amar.
In: __________. Folhas caídas.
Lisboa, PT: Portugália, 1969. p. 37-38.
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AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS, AMAR NOSSA FAMILÍA, NOSSA IGREJA, AMAR NOSSOS AMIGOS E TAMBÉM NOSSOS INIMIGOS. O AMOR SEJA NÃO FINGIDO. SÓ O AMOR CONSTROI.
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