Ruiz tece em sete estrofes de tamanhos os mais variados uma breve carta rogatória
que a audiência dirige ao poeta, como se uma pujante máquina ele fosse, pronta
a misturar ingredientes ao sabor do cliente, para satisfazer o desejo deste, em
qualquer ocasião, oportunidade ou quadra que assim o exija.
Veja lá, internauta, se a situação não nos leva a rememorar a cena do
filme “O Carteiro e o Poeta” (1994), baseado no livro de Antonio Skármeta, no
qual interagem os atores a representar o exilado escritor chileno Pablo Neruda
(Philippe Noiret) e o carteiro (Massimo Troisi) que lhe leva as
correspondências todos os dias, este com a pretensão de conquistar o coração de
Beatrice por meio de poemas – quando então veio a compreender que a poesia
quando explicada torna-se banal...?!
J.A.R. – H.C.
Alice Ruiz
(n. 1946)
do poeta tudo se espera
do poeta tudo se
espera
faça um poema aí,
eles dizem,
que contenha a
primavera,
estação que ainda vem
um poeta se comanda
basta acionar, eles
pensam
que o poema anda
envie-me um soneto
até a noite
quero um haikai de
manhã
tenha uma ideia
brilhante
para enfeitar este
instante
ao poeta se encomenda
rimas ricas, por
favor,
não esqueça das
aliterações
de ser raro, claro e
breve
nos dê hoje, tudo que
nos deve
crie desejos
invente necessidades
encante a todos
com sua capacidade
pagamos pouco, é
verdade,
mas você pode receber
mais tarde
afinal, o poeta
vive de vento,
flores, sonhos,
basta, pensam eles,
alimentar sua vaidade
me empresta tua
emoção aí, artista,
é o que todos esperam
mas não tem ninguém à
vista
querendo ouvir a
poesia
que faz o coração do
poeta
quando silencia.
Um dia perfeito: pôr do sol no clube de vela
(Dawn Kinney Martin:
pintora norte-americana)
Referência:
RUIZ, Alice. do poeta tudo se espera.
In: MASSI, Augusto (Org.). Artes e
ofícios da poesia. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 1991. p. 56.
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