A dor de viver permeia os versos do poeta espanhol – ela que subsiste
não só entre os humanos, como também entre os animais, quer vertebrados quer
invertebrados, a ameba e o molusco aí incluídos –, em terra, mar ou ar. E tudo
começa pela dúvida a refletir-se na sombra contra a qual se luta como um
soldado fadado à desventura.
A felicidade seria apenas uma hipótese voltada a ocultar o pranto. O que
há, de fato, é um devoto cidadão levado até o altar, para ser imolado e oferecido
aos deuses, pois, como alerta o poeta, existem coisas que estes não incapazes
de fazer sozinhos. Além disso, na oblação ao sol poderá ele iluminar muitos dos
porões que colonizam a sua alma sombria...
J.A.R. – H.C.
León Felipe
(1884-1968)
Pero diré quién soy más claramente
Pero diré quién soy
más claramente, para que no me
ladre el fariseo
y para que registren
bien mi ficha
el psicoanálisis,
el erudito
y el detective:
Soy la sombra,
el habitante de la
sombra
y el soldado que
lucha con la sombra.
Y digo al comenzar:
¿Quién no tiene una
joroba y un gran saco de lágrimas?
¿Y quién ha Ilorado ya
bastante?
La luz está más lejos
de lo que contaban los astrónomos,
y la dicha más honda
de lo que cantabas tú,
Walt Whitman.
İOh, Walt Whitman! Tu
palabra happiness la ha borrado
mi llanto.
La vida,
arrastrándose, ha cubierto el mundo de dolor
y de lágrimas.
Este es el mantillo
de la tierra,
el gran cultivo junto
al cual la esperanza de Dios se
ha sentado paciente.
De la amiba a la
conciencia que asciende por una escala
de llanto.
Y esto que ya lo
saben los biólogos
lo discuten ahora los
poetas domésticos y los juglares.
Han Ilorado la almeja
y la tortuga,
el caballo,
la alondra
y el gorila...
Ahora va a llorar el
hombre.
El hombre es la
conciencia dramática del llanto.
Antes que yo lo
habéis dicho vosotros, ya lo sé.
Y yo digo además,
esta fuente es mia...
y no la explota nadie.
Nadie me enganará ya
nunca:
mi llanto mueve los
molinos
y la correa de la
gran planta eléctrica.
De mi sudor vivió el
rey,
de mi canción, el
pregonero,
y de mi llanto, el
arzobispo.
Sin embargo, mi
sangre es para el altar.
Sacad de los museos
esa gran piedra azteca y molinera,
afilad otra vez el
navajón de pedernal,
rasgadme el pecho de
la sombra
y dad mi sangre al
sol.
İQue hay algo que los
dioses no pueden hacer solos!
En: “El Poeta Prometeico” (1942)
O moinho ao lado do córrego
(Clement Lambert:
pintor inglês)
Porém direi quem sou mais claramente
Porém direi quem sou
mais claramente, para que
o fariseu não grite
comigo
e para que gravem bem
a minha ficha
o psicanalista,
o erudito
e o detetive:
Sou a sombra,
o habitante da sombra
e o soldado que luta
contra a sombra.
E digo ao começar:
Quem não tem um
dissabor e um grande saco
de lágrimas?
E quem chorou já o
bastante?
A luz está mais
distante do que contavam
os astrônomos,
e a felicidade mais
funda do que cantavas tu,
Walt Whitman.
Oh, Walt Whitman! Tua
palavra happiness apagou
meu pranto.
A vida,
arrastando-se, cobriu o mundo de dor
e de lágrimas.
Este é o húmus da terra,
o grande cultivo
junto ao qual a esperança de Deus
se assentou
pacientemente.
Da ameba à
consciência que ascende por uma
escada de pranto.
E isto, que já o
sabem os biólogos,
discutem-no agora os
poetas domésticos e os jograis.
Choraram o molusco e
a tartaruga,
o cavalo,
a cotovia
e o gorila...
Agora o homem vai
chorar.
O homem é a
consciência dramática do pranto.
Antes que vós me
tenhais dito isso, já o sei.
E digo também,
esta fonte é minha...
e ninguém a explora.
Ninguém me enganará jamais
agora:
meu pranto move os
moinhos
e a correia da grande
usina elétrica.
De meu suor viveu o
rei,
de minha canção, o
pregoeiro,
e do meu pranto, o
arcebispo.
No entanto, meu sangue
é para o altar.
Tirai dos museus essa
grande pedra asteca e moleira,
afiai outra vez o
facão de sílex,
rasgai-me o peito da
sombra
e dai meu sangue ao
sol.
Que há algo que os
deuses não podem fazer sozinhos!
Em: “O Poeta Prometeico” (1942)
Referência:
FELIPE, León. Pero diré quién soy más
claramente. In: ARTEAGA P., Domingo (Sel.). Huellas de dolor y esperanza: poemas de Pablo Neruda, Nicolás
Guillén y León Felipe. 4. ed. México, DF: Editores Mexicanos Unidos, sep.1980. p. 250-251.
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