Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

León Felipe - Porém direi quem sou mais claramente

A dor de viver permeia os versos do poeta espanhol – ela que subsiste não só entre os humanos, como também entre os animais, quer vertebrados quer invertebrados, a ameba e o molusco aí incluídos –, em terra, mar ou ar. E tudo começa pela dúvida a refletir-se na sombra contra a qual se luta como um soldado fadado à desventura.

A felicidade seria apenas uma hipótese voltada a ocultar o pranto. O que há, de fato, é um devoto cidadão levado até o altar, para ser imolado e oferecido aos deuses, pois, como alerta o poeta, existem coisas que estes não incapazes de fazer sozinhos. Além disso, na oblação ao sol poderá ele iluminar muitos dos porões que colonizam a sua alma sombria...

J.A.R. – H.C.

León Felipe
(1884-1968)

Pero diré quién soy más claramente

Pero diré quién soy más claramente, para que no me
ladre el fariseo
y para que registren bien mi ficha
el psicoanálisis,
el erudito
y el detective:
Soy la sombra,
el habitante de la sombra
y el soldado que lucha con la sombra.
Y digo al comenzar:
¿Quién no tiene una joroba y un gran saco de lágrimas?
¿Y quién ha Ilorado ya bastante?
La luz está más lejos de lo que contaban los astrónomos,
y la dicha más honda de lo que cantabas tú,
Walt Whitman.
İOh, Walt Whitman! Tu palabra happiness la ha borrado
mi llanto.
La vida, arrastrándose, ha cubierto el mundo de dolor
y de lágrimas.
Este es el mantillo de la tierra,
el gran cultivo junto al cual la esperanza de Dios se
ha sentado paciente.
De la amiba a la conciencia que asciende por una escala
de llanto.
Y esto que ya lo saben los biólogos
lo discuten ahora los poetas domésticos y los juglares.
Han Ilorado la almeja y la tortuga,
el caballo,
la alondra
y el gorila...
Ahora va a llorar el hombre.
El hombre es la conciencia dramática del llanto.
Antes que yo lo habéis dicho vosotros, ya lo sé.
Y yo digo además,
esta fuente es mia... y no la explota nadie.
Nadie me enganará ya nunca:
mi llanto mueve los molinos
y la correa de la gran planta eléctrica.
De mi sudor vivió el rey,
de mi canción, el pregonero,
y de mi llanto, el arzobispo.
Sin embargo, mi sangre es para el altar.
Sacad de los museos esa gran piedra azteca y molinera,
afilad otra vez el navajón de pedernal,
rasgadme el pecho de la sombra
y dad mi sangre al sol.
İQue hay algo que los dioses no pueden hacer solos!

En: “El Poeta Prometeico” (1942)

O moinho ao lado do córrego
(Clement Lambert: pintor inglês)

Porém direi quem sou mais claramente

Porém direi quem sou mais claramente, para que
o fariseu não grite comigo
e para que gravem bem a minha ficha
o psicanalista,
o erudito
e o detetive:
Sou a sombra,
o habitante da sombra
e o soldado que luta contra a sombra.
E digo ao começar:
Quem não tem um dissabor e um grande saco
de lágrimas?
E quem chorou já o bastante?
A luz está mais distante do que contavam
os astrônomos,
e a felicidade mais funda do que cantavas tu,
Walt Whitman.
Oh, Walt Whitman! Tua palavra happiness apagou
meu pranto.
A vida, arrastando-se, cobriu o mundo de dor
e de lágrimas.
Este é o húmus da terra,
o grande cultivo junto ao qual a esperança de Deus
se assentou pacientemente.
Da ameba à consciência que ascende por uma
escada de pranto.
E isto, que já o sabem os biólogos,
discutem-no agora os poetas domésticos e os jograis.
Choraram o molusco e a tartaruga,
o cavalo,
a cotovia
e o gorila...
Agora o homem vai chorar.
O homem é a consciência dramática do pranto.
Antes que vós me tenhais dito isso, já o sei.
E digo também,
esta fonte é minha... e ninguém a explora.
Ninguém me enganará jamais agora:
meu pranto move os moinhos
e a correia da grande usina elétrica.
De meu suor viveu o rei,
de minha canção, o pregoeiro,
e do meu pranto, o arcebispo.
No entanto, meu sangue é para o altar.
Tirai dos museus essa grande pedra asteca e moleira,
afiai outra vez o facão de sílex,
rasgai-me o peito da sombra
e dai meu sangue ao sol.
Que há algo que os deuses não podem fazer sozinhos!

Em: “O Poeta Prometeico” (1942)

Referência:

FELIPE, León. Pero diré quién soy más claramente. In: ARTEAGA P., Domingo (Sel.). Huellas de dolor y esperanza: poemas de Pablo Neruda, Nicolás Guillén y León Felipe. 4. ed. México, DF: Editores Mexicanos Unidos, sep.1980. p. 250-251.

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