Se o amor está entre o esquecimento e a lembrança, na relação causal
engendrada por Cummings, a lembrança tem mais densidade ou espessura que o
esquecimento. E depois, com assertivas tão antitéticas, descreve-se um
sentimento que é, mas que também não é, ou seja, o amor, por suas tantas
formas, configura-se um tema conflitante.
Basta ver a quantidade de poetas que, em seus versos, procurou
defini-lo: e haja metáforas, elucubrações platônicas em “O Banquete”, contorcionismos
nos sonetos de Camões, luxúria em Aretino, até que cheguemos a mais sublime das
descrições jamais formuladas sobre o amor, nomeadamente, a do Capítulo 13 da Primeira
Epístola de Paulo aos Coríntios.
J.A.R. – H.C.
E. E. Cummings
(1894-1962)
love is more thicker than forget
love is more thicker
than forget
more thinner than
recall
more seldom than a
wave is wet
more frequent than to
fail
it is most mad and
moonly
and less it shall
unbe
than all the sea
which only
is deeper than the
sea
love is less always
than to win
less never than alive
less bigger than the least
begin
less littler than
forgive
it is most sane and
sunly
and more it cannot
die
than all the sky
which only
is higher than the
sky
Autoabandono
(Mher Evoyan: pintora
armênia)
amar é mais denso que esquecer
amar é mais denso que
esquecer
mais tênue que
lembrar
mais raro que fluida
a onda pode ser
mais frequente que
falhar
é mais louco e mais
lunar
e menos não deve ser
que todo o mar que só
é mais fundo que o
mar
amar é menos que
ganhar
e nunca menos que
viver
nem imenso que o
menor começo
demais pequeno que
perdoar
é mais sensato e
intenso
e mais não morre ou
finda
do que todo o céu que
ainda
é mais alto que o céu
imenso
Referência:
CUMMINGS, E. E. love is more thicker
than forget / amar é mais denso que esquecer. Tradução de Vanderley Mendonça. In:
MENDONÇA, Vanderley (Ed.). Lira argenta:
poesia em tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Selo Demônio Negro, 2017.
Em inglês: p. 374; em português: p. 375.
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