O poeta vislumbra mudanças na relação do homem com a máquina, ou seja,
de instrumento de desemprego e exploração humana exacerbada do início do
capitalismo a grande parte do século XX – grande motivadora da obra de Marx &
Engels – a um portento, decerto, capaz de libertar o homem para o ócio, a
especulação e a filosofia.
A tese já mereceu embates, com teóricos a refutá-la, bastando ver o que
ainda hoje ocorre com a grande maioria da população, mantida na pobreza:
recorrendo às raias da História, enfatiza-se a evidência de que para que a
elite grega pudesse avançar no domínio da filosofia, havia uma enorme população
escrava, fora das prerrogativas da cidadania, a dar-lhe apoio logístico.
Esperar que a massa oprimida nas grandes favelas do mundo venha a
usufruir dos favores de uma máquina-robô inteligente, capaz de cumprir as mais
comezinhas tarefas de limpeza ou outras que tais, tangencia os umbrais da
utopia!
J.A.R. – H.C.
Bandeira Tribuzi
(1927-1977)
Ode à Máquina
Estamos frente a ti
como se foras
inimiga.
Estas polias,
rolamentos,
êmbolos, cilindros,
caldeiras
que brilham tanto em
nossos olhos
são quem devora nossa
vida.
E no entanto em ti
sentimos
(como inimigos que,
se olhando,
descobrem razões de
profunda
indestrutível
amizade)
um bom calor, e um
metal
límpido, um ruído que
canta,
um sussurro que
constrói
moinhos e ferramentas
para a colheita da
vida!
Hoje, no entanto,
irmã
dura máquina, estamos
separados pelo rio
fundo e lodoso do
lucro:
por isso tu nos
devoras.
Amanhã, em nossas
mãos
serás cavalo tangido
pelos ventos do
futuro.
Comum, amiga, lutando
conosco, tua canção
será nova melodia:
roseira florindo
enxadas
tu serás em nossa
usina
raiz do pão do
futuro,
ó árvore poderosa
da vida afinal
colhida!
Homem e Máquina III
(David Carr: pintor
inglês)
Referência:
TRIBUZI, Bandeira. Ode à máquina. In:
TRIBUZI, Bandeira. Poesias completas.
Rio de Janeiro, RJ: Cátedra; Brasília: INL, 1979. p. 273.
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