Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Bandeira Tribuzi - Ode à Máquina

O poeta vislumbra mudanças na relação do homem com a máquina, ou seja, de instrumento de desemprego e exploração humana exacerbada do início do capitalismo a grande parte do século XX – grande motivadora da obra de Marx & Engels – a um portento, decerto, capaz de libertar o homem para o ócio, a especulação e a filosofia.

A tese já mereceu embates, com teóricos a refutá-la, bastando ver o que ainda hoje ocorre com a grande maioria da população, mantida na pobreza: recorrendo às raias da História, enfatiza-se a evidência de que para que a elite grega pudesse avançar no domínio da filosofia, havia uma enorme população escrava, fora das prerrogativas da cidadania, a dar-lhe apoio logístico.

Esperar que a massa oprimida nas grandes favelas do mundo venha a usufruir dos favores de uma máquina-robô inteligente, capaz de cumprir as mais comezinhas tarefas de limpeza ou outras que tais, tangencia os umbrais da utopia!

J.A.R. – H.C.

Bandeira Tribuzi
(1927-1977)

Ode à Máquina

Estamos frente a ti
como se foras inimiga.
Estas polias, rolamentos,
êmbolos, cilindros, caldeiras
que brilham tanto em nossos olhos
são quem devora nossa vida.
E no entanto em ti sentimos
(como inimigos que, se olhando,
descobrem razões de profunda
indestrutível amizade)
um bom calor, e um metal
límpido, um ruído que canta,
um sussurro que constrói
moinhos e ferramentas
para a colheita da vida!
Hoje, no entanto, irmã
dura máquina, estamos
separados pelo rio
fundo e lodoso do lucro:
por isso tu nos devoras.
Amanhã, em nossas mãos
serás cavalo tangido
pelos ventos do futuro.
Comum, amiga, lutando
conosco, tua canção
será nova melodia:
roseira florindo enxadas
tu serás em nossa usina
raiz do pão do futuro,
ó árvore poderosa
da vida afinal colhida!

Homem e Máquina III
(David Carr: pintor inglês)

Referência:

TRIBUZI, Bandeira. Ode à máquina. In: TRIBUZI, Bandeira. Poesias completas. Rio de Janeiro, RJ: Cátedra; Brasília: INL, 1979. p. 273.

Nenhum comentário:

Postar um comentário