O sujeito lírico põe-se a examinar o que se lhe apresenta como a vida
humana, esse átimo que mal atinge uma centúria, durante o qual todos os sonhos
são vividos e muitos malogrados, neste caso, a configurarem hipóteses que
deixaram de se ratificar no plano das realidades, quer por falta de tempo quer
por preterição em favor de outras causas julgadas mais prementes ou
convergentes à visada felicidade.
Nos versos finais, o poeta expressa a ideia de uma “vida na zona neutra,
entre os ataques de coração”: tratar-se-ia de uma metáfora, a aludir aos
contratempos das relações amorosas que nos transcorrem do nascimento ao leito
de morte, ou o sentido seria outro, de fato, denotativo, apenas se reportando a
uma enfermidade cardíaca?...
J.A.R. – H.C.
Haim Gúri
(1923-2018)
Vida de Empréstimos
Vida de empréstimos a
curto prazo.
Vida sem economia.
Vida intermediária.
Vida furtiva e frágil
trazida para o quarto
como um roubo
examinada entre os
dedos à luz de uma lamparina.
Vida cheia de
suposições
explicada com gestos
e finas alusões.
Vida solitária
caindo aos pés
de uma vida pálida e
transparente.
Vida comum pelos sonhos.
Vida que não é longa.
Vida na zona neutra
entre os ataques
de coração.
Natureza-Morta com Lamparina a Óleo
(Kim Selig: pintora
vietnamita)
Referência:
GÚRI, Haim. Vida de empréstimos. In:
BIALIK, Haim Nahman et al. Poesia e
prosa de Israel: antologia. Edição Especial. Rio de Janeiro, GB:
Departamento Cultural da Embaixada de Israel, 1968. p. 79.
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