Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Czeslaw Milosz - Ars Poetica?

Czeslaw faz frente àquelas observações costumeiras dos poetas de que, estando “possuídos” por algum ‘daimonion’, põem-se a escrever obsessivamente sob o seu domínio, quando, de fato, a poesia deveria ser encarada como um mister que nos ajuda a definir a posição na vida, ou melhor, com o propósito de nos lembrar do quão difícil e permanecermos como uma pessoa à parte, “pois nossa casa está aberta, não há chave na porta e convidados invisíveis nela entram e saem”.

O que representaria o ponto de interrogação no título do poema? Decerto o fato de que, aos olhos de Milosz, resumir o que seja a arte poética equivale a uma impossibilidade – daí, talvez, esse discurso poético irônico e autoconsciente dentro dos meandros da linguagem poética, a questionar a função e a forma como o sujeito lírico deve se apresentar.

J.A.R. – H.C.

Czeslaw Milosz
(1911-2004)

Ars Poetica?

Zawsze tęskniłem do formy bardziej pojemnej,
która nie byłaby zanadto poezją ani zanadto prozą
i pozwoliłaby się porozumieć nie naraŜając nikogo,
autora ni czytelnika, na męki wyŜszego rzędu.

W samej istocie poezji jest coś nieprzystojnego:
powstaje z nas rzecz o której nie wiedzieliśmy Ŝe w nas jest,
więc mrugamy oczami, jakby wyskoczył z nas tygrys
i stal w świetle, ogonem bijąc się po bokach.

Dlatego słusznie się mówi, Ŝe dyktuje poezję dajmonion,
choć przesadza się utrzymując, Ŝe jest na pewno aniołem.
Trudno pojąć skąd się bierze ta duma poetów
jeŜeli wstyd im nieraz, Ŝe widać ich słabość.

Jaki rozumny człowiek zechce być państwem demonów,
które rządzą się w nim jak u siebie, przemawiają mnóstwem języków,
a jakby nie dosyć im było skraść jego usta i rękę
próbują dla swojej wygody zmieniać jego los?

PoniewaŜ co chorobliwe jest dzisiaj cenione,
ktoś moŜe myśleć, Ŝe tylko Ŝartuję
albo Ŝe wynalazłem jeszcze jeden sposób
Ŝeby wychwalać Sztukę z pomocą ironii.

Był czas, kiedy czytano tylko mądre ksiąŜki
pomagające znosić ból oraz nieszczęście.
To jednak nie to samo co zaglądać w tysiąc
dzieł pochodzących prosto z psychiatrycznej kliniki.

A przecie świat jest inny niŜ się nam wydaje
i my jesteśmy inni niŜ w naszym bredzeniu.
Ludzie więc zachowują milczącą uczciwość,
tak zyskując szacunek krewnych i sąsiadów.

Ten poŜytek z poezji, Ŝe nam przypomina
jak trudno jest pozostać tą samą osobą,
bo dom nasz jest otwarty, we drzwiach nie ma klucza
a niewidzialni goście wchodzą i wychodzą.

Co tutaj opowiadam, poezją, zgoda, nie jest.
Bo wiersze wolno pisać rzadko i niechętnie,
pod nieznośnym przymusem i tylko z nadzieją,
Ŝe dobre, nie złe duchy, mają w nas instrument.

Berkeley, 1968
In: “Miasto bez imienia” (1969)

Detalhe do anjo em
“A Virgem dos Rochedos”
(Leonardo da Vinci: pintor italiano)

Ars Poetica?

Sempre aspirei por uma forma mais ampla,
que não fosse nem muita poesia nem muita prosa
e permitisse o diálogo sem a ninguém expor,
o autor ou o leitor, a tormentos de ordem superior.

Na essência da poesia há algo de incongruente:
brotam-nos coisas que nem sabíamos que existiam em nós,
então piscamos os olhos como se de nós saltasse um tigre
e permanecesse sob a luz a abanar a cauda pelas ilhargas.

É por isso que se diz, com razão, que um daimonion dita a poesia,
embora se exagere ao se afirmar que, decerto, trata-se de um anjo.
E difícil entender de onde vem esse orgulho dos poetas,
se, amiúde, ficam constrangidos pela revelação de sua fragilidade.

Que homem razoável gostaria de ser uma pátria de demônios,
a comandá-lo como se em casa estivessem, falam em muitas línguas,
e, não satisfeitos em roubar-lhe a boca e as mãos,
tratam de mudar-lhe o destino de acordo com a conveniência?

Porque hoje se valoriza tudo o que é mórbido,
alguém poderá pensar que estou apenas brincando,
ou que acabei de inventar mais uma maneira
de enaltecer a Arte com a ajuda da ironia.

Houve um tempo em que somente se liam livros sábios,
para ajudar a suportar a dor e o infortúnio.
No entanto, isso não é o mesmo que folhear mil obras
provenientes diretamente das clínicas psiquiátricas.

Seja como for, o mundo é diferente daquilo que nos parece
e somos diferentes de como nos vemos em nossos desvarios.
Por isso as pessoas mantêm uma silenciosa integridade,
angariando assim o respeito de familiares e vizinhos.

Esse é o proveito da poesia, a nos lembrar
do quão difícil é permanecer a mesma pessoa,
pois nossa casa está aberta, não há chave na porta
e convidados invisíveis nela entram e saem.

O que aqui estou a discorrer, concordo, poesia não é.
Porque os poemas devem ser escritos raramente e com relutância,
sob uma insuportável coação e somente na esperança de que
os bons espíritos, não os maus, tenham em nós um instrumento.

Berkeley, 1968
Em: “Uma cidade sem nome” (1969)

Referência:

MISLOZ, Czeslaw. Ars poetica. In: __________. Poezje wybrane / Selected poems. Bilingual edition: polish x english. Kraków, PL: Wydawnictwo Literackie, 1996. p. 196 & 198.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário