O poeta anglo-galês, também sacerdote, depois de descrever, nas três
primeiras estrofes do poema abaixo, como todas as coisas – e, em particular, a
natureza – são obscurecidas pela constante presença da morte, sugere, na
derradeira estrofe, que a única coisa não limitada pelo passamento é a alma
plena de virtudes.
A eternidade viria, assim, às gentes piedosas, presumivelmente cristãs,
que se estreitam no relacionamento com Deus. Ter-se-ia, nesse plano, não uma
manifestação tangível da natureza, mas a essência intangível de uma “alma doce
e virtuosa”. Isto, claro, em conclusão a uma exposição não afeita a argumentos –
como, por exemplo, no diálogo socrático “Meno”, legado por Platão –, senão a
uma sucessão de imagens bem arregimentadas.
J.A.R. – H.C.
George Herbert
(1593-1633)
Virtue
Sweet day, so cool,
so calm, so bright,
The bridal of the
earth and sky;
The dew shall weep
thy fall to-night,
For thou must die.
Sweet rose, whose hue
angry and brave
Bids the rash gazer
wipe his eye;
Thy root is ever in
its grave,
And thou must die.
Sweet spring, full of
sweet days and roses,
A box where sweets
compacted lie;
My music shows ye
have your closes,
And all must die.
Only a sweet and
virtuous soul,
Like season’d timber,
never gives;
But though the whole
world turn to coal,
Then chiefly lives.
A Eterna Busca pela Felicidade
(Geeta Biswas:
pintora indiana)
Virtude
Doce dia, tão fresco,
tão calmo, tão luminoso,
O conúbio entre a
terra e o céu;
O orvalho pranteará
nesta noite o teu declínio,
Pois haverás de
morrer.
Doce rosa, cujo colorido austero e elegante
Traz lágrimas aos
olhos do admirador passageiro:
A tua raiz
permanecerá na terra,
Mas tu haverás de
morrer.
Doce primavera, cheia
de dias suaves e de rosas,
Um repertório de
doçuras condensadas;
Meu canto mostra que
terás o teu final,
E tudo haverá de
morrer.
Somente uma alma doce
e virtuosa,
Qual madeira
sazonada, perdura sempre;
Enquanto o mundo todo
se converte em carvão,
Ela sobrevive
plenamente.
Referência:
HERBERT, George. Virtue / Virtude.
Tradução de Angela Gasperin. MINER, Earl. Poética
comparada: um ensaio intercultural sobre teoria da literatura. Tradução de
Angela Gasperin. Brasília, DF: Editora da UnB, 1996. Em inglês: p. 140; em
português: p. 139-140.
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