Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 25 de agosto de 2019

George Herbert - Virtude

O poeta anglo-galês, também sacerdote, depois de descrever, nas três primeiras estrofes do poema abaixo, como todas as coisas – e, em particular, a natureza – são obscurecidas pela constante presença da morte, sugere, na derradeira estrofe, que a única coisa não limitada pelo passamento é a alma plena de virtudes.

A eternidade viria, assim, às gentes piedosas, presumivelmente cristãs, que se estreitam no relacionamento com Deus. Ter-se-ia, nesse plano, não uma manifestação tangível da natureza, mas a essência intangível de uma “alma doce e virtuosa”. Isto, claro, em conclusão a uma exposição não afeita a argumentos – como, por exemplo, no diálogo socrático “Meno”, legado por Platão –, senão a uma sucessão de imagens bem arregimentadas.

J.A.R. – H.C.

George Herbert
(1593-1633)

Virtue

Sweet day, so cool, so calm, so bright,
The bridal of the earth and sky;
The dew shall weep thy fall to-night,
For thou must die.

Sweet rose, whose hue angry and brave
Bids the rash gazer wipe his eye;
Thy root is ever in its grave,
And thou must die.

Sweet spring, full of sweet days and roses,
A box where sweets compacted lie;
My music shows ye have your closes,
And all must die.

Only a sweet and virtuous soul,
Like season’d timber, never gives;
But though the whole world turn to coal,
Then chiefly lives.

A Eterna Busca pela Felicidade
(Geeta Biswas: pintora indiana)

Virtude

Doce dia, tão fresco, tão calmo, tão luminoso,
O conúbio entre a terra e o céu;
O orvalho pranteará nesta noite o teu declínio,
Pois haverás de morrer.

Doce rosa, cujo colorido austero e elegante
Traz lágrimas aos olhos do admirador passageiro:
A tua raiz permanecerá na terra,
Mas tu haverás de morrer.

Doce primavera, cheia de dias suaves e de rosas,
Um repertório de doçuras condensadas;
Meu canto mostra que terás o teu final,
E tudo haverá de morrer.

Somente uma alma doce e virtuosa,
Qual madeira sazonada, perdura sempre;
Enquanto o mundo todo se converte em carvão,
Ela sobrevive plenamente.

Referência:

HERBERT, George. Virtue / Virtude. Tradução de Angela Gasperin. MINER, Earl. Poética comparada: um ensaio intercultural sobre teoria da literatura. Tradução de Angela Gasperin. Brasília, DF: Editora da UnB, 1996. Em inglês: p. 140; em português: p. 139-140. 

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