Sem vergonha de tornar explícitos os encontros concupiscentes pelos
quais passou por sua curta vida, o poeta galês revela a influência onipresente
dos desejos sexuais na passagem de um menino a um homem, as tensões mentais e
psicológicas que isso representou, em meio ao cenário social e religioso da
época.
Diria que as imagens suscitadas pelo poema de Thomas , de uma vida
devassa e descalibrada, parecem estar presentes na história de vida de muitos
garotos adolescentes, cada qual à sua maneira: o que nos redarguiria o escritor Philip
Roth (1933-2018), se fizéssemos menção ao seu romance “Complexo de Portnoy” (1969), uma
narrativa aberta de um rapazola que só pensa em sexo e masturbação,
abstraindo-se, talvez descabidamente, o real propósito do enredo.
E o que dizer de “O Teatro de Sabbath” (1995), uma urdidura desbragada
sobre experiências sexuais de um homem mais do que maduro, talvez ainda o
garoto da história anterior, depois que se passaram algumas décadas: no fundo,
o alterego de Roth a expor estados mentais que fazem pressupor uma sexualidade
não livremente ou suficientemente manifestada. Freud saberia explicar! (rs)
J.A.R. – H.C.
Dylan Thomas
(1914-1953)
Lament
When I was a windy
boy and a bit
And the black spit of
the chapel fold,
(Sighed the old ram rod,
dying of women),
I tiptoed shy in the
gooseberry wood,
The rude owl cried
like a telltale tit,
I skipped in a blush
as the big girls rolled
Ninepin down on
donkey’s common,
And on seesaw sunday
nights I wooed
Whoever I would with
my wicked eyes,
The whole of the moon
I could love and leave
All the green leaved
little weddings’ wives
In the coal black
bush and let them grieve.
When I was a gusty
man and a half
And the black beast
of the beetles’ pews,
(Sighed the old ram
rod, dying of bitches),
Not a boy and a bit
in the wick –
Dipping moon and
drunk as a new dropped calf,
I whistled all night
in the twisted flues,
Midwives grew in the
midnight ditches,
And the sizzling beds
of the town cried, Quick! –
Whenever I dove in a
breast high shoal,
Wherever I ramped in
the clover quilts,
Whatsoever I did in
the coal –
Black night, I left
my quivering prints.
When I was a man you
could call a man
And the black cross
of the holy house,
(Sighed the old ram
rod, dying of welcome),
Brandy and ripe in my
bright, bass prime,
No springtailed tom
in the red hot town
With every simmering
woman his mouse
But a hillocky bull
in the swelter
Of summer come in his
great good time
To the sultry, biding
herds, I said,
Oh, time enough when
the blood creeps cold,
And I lie down but to
sleep in bed,
For my sulking,
skulking, coal black soul!
When I was half the
man I was
And serve me right as
the preachers warn,
(Sighed the old ram
rod, dying of downfall),
No flailing calf or
cat in a flame
Or hickory bull in
milky grass
But a black sheep
with a crumpled horn,
At last the soul from
its foul mousehole
Slunk pouting out
when the limp time came;
And I gave my soul a
blind, slashed eye,
Gristle and rind, and
a roarers’ life,
And I shoved it into
the coal black sky
To find a woman’s
soul for a wife.
Now I am a man no
more no more
And a black reward
for a roaring life,
(Sighed the old ram
rod, dying of strangers),
Tidy and cursed in my
dove cooed room
I lie down thin and
hear the good bells jaw –
For, oh, my soul
found a sunday wife
In the coal black sky
and she bore angels!
Harpies around me out
of her womb!
Chastity prays for
me, piety sings,
Innocence sweetens my
last black breath,
Modesty hides my
thighs in her wings,
And all the deadly
virtues plague my death!
In: “In Country Sleep” (1952)
Garoto no Campo
(Ivan I. Shishkin:
pinto russo)
Lamento
Quando eu era um
rapaz presunçoso, um fedelho,
Semelhante à
cusparada dos paroquianos
(Suspirava o velho
relho de carneiro, agonizante de mulheres),
Andava tímido na
ponta dos pés pelo bosque de groselhas,
Onde a áspera coruja
gritava qual lendária teta,
Saltava em meu rubor,
enquanto as meninas mais velhas
Jogavam boliche nos
terrenos baldios dos asnos
E na gangorra das
noites dominicais, cortejava
Quem quer que fosse
com meus olhos maliciosos,
Tanto quanto toda a
lua, podia eu amar e abandonar,
Junto ao arbusto
negro como carvão, todas as esposas
Das pequenas núpcias
de folhas verdes e deixá-las a sofrer.
Quando eu era um
homem tempestuoso, um homem e meio,
A negra besta da
congregação dos escaravelhos
(Suspirava o velho
relho de carneiro, agonizante de putas),
Não um rapaz e um
fedelho numa lua maliciosa
Que submergia o
bêbedo como um bezerro recém-parido.
Assobiava durante
toda a noite entre as tortuosas chaminés.
As comadres brotavam
nas valas da meia-noite,
E as crepitantes
camas da aldeia gritavam: “ Depressa!”
Sempre que eu
mergulhava num baixio de seios empinados,
Sempre que me
enfurecia na colcha bordada de trevos,
O que quer que
fizesse na noite negra como carvão,
Ali deixava as
trêmulas marcas de meus pés.
Quando me fiz homem,
o que chamam de homem,
E tornei-me a negra
cruz da casa abençoada
(Suspirava o velho
relho de carneiro, agonizante das bem-vindas),
Com aguardente e uvas
no esplendor de meus verdes anos,
Não um gato de rabo
movediço na rubra aldeia escaldante
E como se cada mulher
em ebulição fosse o seu rato,
Mas um touro da
colina no calor sufocante do verão,
Que alcançara o seu
supremo e deleitoso instante
Para os modorrentos e
oferecidos rebanhos, disse eu,
Oh, muito tempo
fluirá até que o sangue frio se arraste
E eu me recolha ao
leito apenas para dormir,
Graças à minh’alma
entediada, negra como carvão!
Quando eu era a
metade do homem que fui
E merecia então as
reprimendas dos padres
(Suspirava o velho
relho de carneiro, agonizante de ruína),
Não um bezerro
açoitado nem um gato entre as chamas
Nem um touro da
colina sobre a relva leitosa,
Mas uma ovelha negra
com chifres enrugados,
Ao fim a alma expulsa
de sua falsa toca de rato
Se escondia rabugenta
quando vinha o tempo das muletas;
E dei à minh’alma um
olho cego, flagelado,
Casca e cartilagem, e
uma vida de rugidos,
E empurrei-a até o
céu negro como carvão
Para encontrar uma
alma de mulher para esposa.
Agora não sou mais
homem, não mais o sou,
Apenas uma negra
recompensa por uma vida estrondosa
(Suspirava o velho
relho de carneiro, agonizante de estrangeiros),
Asseado e maldito no
meu quarto onde arrulham pombas,
Repouso rarefeito e
ouço a mandíbula dos bondosos sinos
– Porque, oh, minh’alma
encontrou uma esposa dominical
No céu negro como
carvão e ela aborrece os anjos!
Rodeiam-me harpias
que emergiram de seu ventre!
A castidade reza por
mim, a piedade canta,
A inocência adoça o
meu negro e derradeiro alento,
A modéstia esconde as
minhas coxas em suas asas,
E todas as suas
virtudes fatais atormentam a minha morte!
Em: “No Sono Campestre” (1952)
Referências:
Em Inglês
THOMAS, Dylan. Do not go gentle into
that good night. In: __________. Collected
poems: 1934-1952. 1st ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons
Ltd., may 1959. p. 174-175.
Em Português
THOMAS, Dylan. Lamento. Tradução de
Ivan Junqueira. In: __________. Poemas
reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph
Maud. Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José
Olympio, 1991. p. 135-136.
❁
Bom dia, cadê a projeção da 15ª rodada do brasileiro?
ResponderExcluirAss. João Augusto
Prezado: Deve aparecer na quinta-feira, depois que o São Paulo perder para o Athletico Paranaense e todos os times completarem quinze jogos realizados (rs).
ResponderExcluirJAR/