Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Dylan Thomas - Lamento

Sem vergonha de tornar explícitos os encontros concupiscentes pelos quais passou por sua curta vida, o poeta galês revela a influência onipresente dos desejos sexuais na passagem de um menino a um homem, as tensões mentais e psicológicas que isso representou, em meio ao cenário social e religioso da época.

Diria que as imagens suscitadas pelo poema de Thomas , de uma vida devassa e descalibrada, parecem estar presentes na história de vida de muitos garotos adolescentes, cada qual à sua maneira: o que nos redarguiria o escritor Philip Roth (1933-2018), se fizéssemos menção ao seu romance “Complexo de Portnoy” (1969), uma narrativa aberta de um rapazola que só pensa em sexo e masturbação, abstraindo-se, talvez descabidamente, o real propósito do enredo.

E o que dizer de “O Teatro de Sabbath” (1995), uma urdidura desbragada sobre experiências sexuais de um homem mais do que maduro, talvez ainda o garoto da história anterior, depois que se passaram algumas décadas: no fundo, o alterego de Roth a expor estados mentais que fazem pressupor uma sexualidade não livremente ou suficientemente manifestada. Freud saberia explicar! (rs)

J.A.R. – H.C.

Dylan Thomas
(1914-1953)

Lament

When I was a windy boy and a bit
And the black spit of the chapel fold,
(Sighed the old ram rod, dying of women),
I tiptoed shy in the gooseberry wood,
The rude owl cried like a telltale tit,
I skipped in a blush as the big girls rolled
Ninepin down on donkey’s common,
And on seesaw sunday nights I wooed
Whoever I would with my wicked eyes,
The whole of the moon I could love and leave
All the green leaved little weddings’ wives
In the coal black bush and let them grieve.

When I was a gusty man and a half
And the black beast of the beetles’ pews,
(Sighed the old ram rod, dying of bitches),
Not a boy and a bit in the wick –
Dipping moon and drunk as a new dropped calf,
I whistled all night in the twisted flues,
Midwives grew in the midnight ditches,
And the sizzling beds of the town cried, Quick! –
Whenever I dove in a breast high shoal,
Wherever I ramped in the clover quilts,
Whatsoever I did in the coal –
Black night, I left my quivering prints.

When I was a man you could call a man
And the black cross of the holy house,
(Sighed the old ram rod, dying of welcome),
Brandy and ripe in my bright, bass prime,
No springtailed tom in the red hot town
With every simmering woman his mouse
But a hillocky bull in the swelter
Of summer come in his great good time
To the sultry, biding herds, I said,
Oh, time enough when the blood creeps cold,
And I lie down but to sleep in bed,
For my sulking, skulking, coal black soul!

When I was half the man I was
And serve me right as the preachers warn,
(Sighed the old ram rod, dying of downfall),
No flailing calf or cat in a flame
Or hickory bull in milky grass
But a black sheep with a crumpled horn,
At last the soul from its foul mousehole
Slunk pouting out when the limp time came;
And I gave my soul a blind, slashed eye,
Gristle and rind, and a roarers’ life,
And I shoved it into the coal black sky
To find a woman’s soul for a wife.

Now I am a man no more no more
And a black reward for a roaring life,
(Sighed the old ram rod, dying of strangers),
Tidy and cursed in my dove cooed room
I lie down thin and hear the good bells jaw –
For, oh, my soul found a sunday wife
In the coal black sky and she bore angels!
Harpies around me out of her womb!
Chastity prays for me, piety sings,
Innocence sweetens my last black breath,
Modesty hides my thighs in her wings,
And all the deadly virtues plague my death!

In: “In Country Sleep” (1952)

Garoto no Campo
(Ivan I. Shishkin: pinto russo)

Lamento

Quando eu era um rapaz presunçoso, um fedelho,
Semelhante à cusparada dos paroquianos
(Suspirava o velho relho de carneiro, agonizante de mulheres),
Andava tímido na ponta dos pés pelo bosque de groselhas,
Onde a áspera coruja gritava qual lendária teta,
Saltava em meu rubor, enquanto as meninas mais velhas
Jogavam boliche nos terrenos baldios dos asnos
E na gangorra das noites dominicais, cortejava
Quem quer que fosse com meus olhos maliciosos,
Tanto quanto toda a lua, podia eu amar e abandonar,
Junto ao arbusto negro como carvão, todas as esposas
Das pequenas núpcias de folhas verdes e deixá-las a sofrer.

Quando eu era um homem tempestuoso, um homem e meio,
A negra besta da congregação dos escaravelhos
(Suspirava o velho relho de carneiro, agonizante de putas),
Não um rapaz e um fedelho numa lua maliciosa
Que submergia o bêbedo como um bezerro recém-parido.
Assobiava durante toda a noite entre as tortuosas chaminés.
As comadres brotavam nas valas da meia-noite,
E as crepitantes camas da aldeia gritavam: “ Depressa!”
Sempre que eu mergulhava num baixio de seios empinados,
Sempre que me enfurecia na colcha bordada de trevos,
O que quer que fizesse na noite negra como carvão,
Ali deixava as trêmulas marcas de meus pés.

Quando me fiz homem, o que chamam de homem,
E tornei-me a negra cruz da casa abençoada
(Suspirava o velho relho de carneiro, agonizante das bem-vindas),
Com aguardente e uvas no esplendor de meus verdes anos,
Não um gato de rabo movediço na rubra aldeia escaldante
E como se cada mulher em ebulição fosse o seu rato,
Mas um touro da colina no calor sufocante do verão,
Que alcançara o seu supremo e deleitoso instante
Para os modorrentos e oferecidos rebanhos, disse eu,
Oh, muito tempo fluirá até que o sangue frio se arraste
E eu me recolha ao leito apenas para dormir,
Graças à minh’alma entediada, negra como carvão!

Quando eu era a metade do homem que fui
E merecia então as reprimendas dos padres
(Suspirava o velho relho de carneiro, agonizante de ruína),
Não um bezerro açoitado nem um gato entre as chamas
Nem um touro da colina sobre a relva leitosa,
Mas uma ovelha negra com chifres enrugados,
Ao fim a alma expulsa de sua falsa toca de rato
Se escondia rabugenta quando vinha o tempo das muletas;
E dei à minh’alma um olho cego, flagelado,
Casca e cartilagem, e uma vida de rugidos,
E empurrei-a até o céu negro como carvão
Para encontrar uma alma de mulher para esposa.

Agora não sou mais homem, não mais o sou,
Apenas uma negra recompensa por uma vida estrondosa
(Suspirava o velho relho de carneiro, agonizante de estrangeiros),
Asseado e maldito no meu quarto onde arrulham pombas,
Repouso rarefeito e ouço a mandíbula dos bondosos sinos
– Porque, oh, minh’alma encontrou uma esposa dominical
No céu negro como carvão e ela aborrece os anjos!
Rodeiam-me harpias que emergiram de seu ventre!
A castidade reza por mim, a piedade canta,
A inocência adoça o meu negro e derradeiro alento,
A modéstia esconde as minhas coxas em suas asas,
E todas as suas virtudes fatais atormentam a minha morte!

Em: “No Sono Campestre” (1952)

Referências:

Em Inglês

THOMAS, Dylan. Do not go gentle into that good night. In: __________. Collected poems: 1934-1952. 1st ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p. 174-175.

Em Português

THOMAS, Dylan. Lamento. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph Maud. Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 135-136.

2 comentários:

  1. Bom dia, cadê a projeção da 15ª rodada do brasileiro?

    Ass. João Augusto

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  2. Prezado: Deve aparecer na quinta-feira, depois que o São Paulo perder para o Athletico Paranaense e todos os times completarem quinze jogos realizados (rs).
    JAR/

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