É a alquimia da criação poética a que se reporta o vate goiano: ele vai
até os dicionários para de lá desenterrar vocábulos esquecidos, fazendo irromper
a sua “floração semântica”, e, da junção das palavras, o sentido da poesia,
como num jardim a embelezar a frieza dos dias tumulares.
O vate é o cavaleiro que segura pela crina os verbos rebeldes, os
dispersos adjetivos que vogam pela neblina da ilusão, a enlaçar revoltos ideais
a “nomes sonâmbulos”: a imagem que se forma na mente, com tais lampejos, não
nos leva a associar o poeta ao “cavaleiro da triste figura”?!
J.A.R. – H.C.
Aidenor Aires
(n. 1946)
Alquimia
Tomo pelas crinas
estes verbos
rebeldes,
recolho os ilusórios
adjetivos soltos
e, aos poucos, ato
a sonâmbulos nomes
ideais revoltos.
Acordo extintos
enunciados
de seus túmulos de
língua
onde jaziam
à míngua
sepultados.
Finda tal mecânica,
renova a alquimia
a floração semântica,
e do magma do
sintagma
flui a poesia.
Ondas Selvagens
(Jim Warren:
ilustrador norte-americano)
Referência:
AIRES, Aidenor. Alquimia. In:
__________. Lavra de insolúvel. 1.
ed. Goiânia, GO: Oriente, 1974. p. 9.
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