Fazer da poesia um instrumento descritivo e ao mesmo tempo um panegírico
para prestar homenagem a pessoa próxima ou distante: eis o mote empregado por Érico
Andrade para brindar a obra pictórica de Cícero Dias (1907-2003), plena de
elementos caracterizadores da “alma brasileira”, ilimitada em suas facetas e
diversidade.
Presumo, pela data e local apostos ao poema, que Érico Andrade tenha
conhecido o pintor em Paris (FR), pouco antes de este ter falecido, em 28 de
janeiro de 2003, pois lá esteve cursando doutorado, quando então o poeta-professor
se encantou com o vigor de suas telas, carregadas de luz e cor, quase sempre a
manter a temática decorativa de seu Pernambuco natal: o mar, a vegetação, o
canavial e o povo do Nordeste.
J.A.R. – H.C.
Érico Andrade
(n. 1977)
Cícero Dias
Teu lirismo é de uma
terra maciça,
espalhada morosamente sob uma pele frágil.
Molhada,
mais de desejo que de
água.
O teu azul repousa
cedo.
Oscila entre uma
amargura confusa de si mesma
e uma tácita alegria.
Nas tuas telas
confortam-nos o olhar
o movimento sereno e branco;
inexistente
de uma rede vagarosa.
Afogado de um azul
soberano
teu vermelho
desarranja-se
na lembrança celeste
de tuas matas.
(Paris, 2005)
Sem Título
(Cícero Dias: pintor
pernambucano)
Referência:
ANDRADE, Érico. Cícero Dias. In:
MARTIN, Clairton et al. Coletânea Ladjane
Bandeira de poesia. Organizada por Cida Pedrosa, Elizabeth Siqueira, Janice
Japiassu. Recife, PE: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2007. p. 31.
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