O professor, ensaísta, poeta e compositor gaúcho reforça a ideia de que
um amplo espectro de potencialidades existe na mente do ser humano – os diversos
caminhos tomados são a expressão dessa potencialidade, assim como, por igual, as
sendas não percorridas resultam dessa manifestação do querer (ou seria do “não
querer”?!).
Adota Retamozo uma perspectiva mais ampla do que a perfilhada por Robert Frost
no poema “The Road Not Taken”
(“O Caminho não Tomado”), haja vista que um matiz conotativo invade as suas
palavras: caminhos também são as opções pelo amor ou pelo ódio, pela guerra ou
pela paz, pela dor e sofrimento ou pela esperança de um mundo melhor.
J.A.R. – H.C.
José Hilário Retamozo
(1940-2004)
Caminhos
Todos os caminhos
estão dentro do homem.
Sulco de amor ou
cicatriz de ódio
toda palavra é gume
oculto e corta
a ingênua intenção do
poeta
de semear a paz.
A paz é pasto, o boi
que a rumina
perdeu a fé nos
comícios dos rodeios.
Acredita no arado e
na ração do dia a dia,
no suave cochilar
costeando a cerca
da conformação.
A paz é canga,
caminhar a dois
– o mínimo da canga e
não da carga.
O sulco do arado está
no homem, a esperança
do fruto, a esperança
da flor está no homem,
no homem dorme a paz.
Todos os caminhos
estão dentro do homem.
A dor, a inquietação,
o sofrimento
é que fazem o homem
abrir esses caminhos,
andar por cima deles,
sofrer por eles e
pensar na paz.
Avenida dos álamos no outono
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
Referência:
RETAMOZO, José Hilário. Caminhos. In:
WICKERT, Francisco José (Coord. Editorial). Poetas brasileiros. v. I. Edição bilíngue: Português &
Espanhol. Porto Alegre, RS: Sul-Americana Editores, 1992. p. 109. (Coleção
‘Poetas Latino-Americanos’; v. I)
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