Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 25 de julho de 2019

José Hilário Retamozo - Caminhos

O professor, ensaísta, poeta e compositor gaúcho reforça a ideia de que um amplo espectro de potencialidades existe na mente do ser humano – os diversos caminhos tomados são a expressão dessa potencialidade, assim como, por igual, as sendas não percorridas resultam dessa manifestação do querer (ou seria do “não querer”?!).

Adota Retamozo uma perspectiva mais ampla do que a perfilhada por Robert Frost no poema “The Road Not Taken” (“O Caminho não Tomado”), haja vista que um matiz conotativo invade as suas palavras: caminhos também são as opções pelo amor ou pelo ódio, pela guerra ou pela paz, pela dor e sofrimento ou pela esperança de um mundo melhor.

J.A.R. – H.C.

José Hilário Retamozo
(1940-2004)

Caminhos

Todos os caminhos estão dentro do homem.
Sulco de amor ou cicatriz de ódio
toda palavra é gume oculto e corta
a ingênua intenção do poeta
de semear a paz.

A paz é pasto, o boi que a rumina
perdeu a fé nos comícios dos rodeios.
Acredita no arado e na ração do dia a dia,
no suave cochilar costeando a cerca
da conformação.

A paz é canga, caminhar a dois
– o mínimo da canga e não da carga.
O sulco do arado está no homem, a esperança
do fruto, a esperança da flor está no homem,
no homem dorme a paz.

Todos os caminhos estão dentro do homem.
A dor, a inquietação, o sofrimento
é que fazem o homem abrir esses caminhos,
andar por cima deles,
sofrer por eles e pensar na paz.

Avenida dos álamos no outono
(Vincent van Gogh: pintor holandês)

Referência:

RETAMOZO, José Hilário. Caminhos. In: WICKERT, Francisco José (Coord. Editorial). Poetas brasileiros. v. I. Edição bilíngue: Português & Espanhol. Porto Alegre, RS: Sul-Americana Editores, 1992. p. 109. (Coleção ‘Poetas Latino-Americanos’; v. I)

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