A poetisa está em diálogo imaginário com o seu provável amante, um “fantasma”
em constante evolução e mudança de forma, a importuná-la em suas “viagens” ou
às escondidas por seu alfabeto, muito embora ela o possa ouvir por meio dos
berros dos novilhos ou pelas flores da chicória.
Logo ela decola, contemplando o impossível, agora em uma nave espacial
com argentinos, que se esquecem de tudo, de seus planos presentes e futuros,
tornando-se como que veteranos perdidos no espaço, a mostrar a todos as suas
cicatrizes na fronte, de forma a atestar, de um modo ou de outro, a sua
existência.
J.A.R. – H.C.
Ruth Stone
(1915-2011)
Scars
Sometimes I am on a
train
going to a strange
city,
and you are outside the
window
explaining your
suicide,
nagging me like a
sick child.
I have no unbroken
rest.
Sometimes I cover you
with an alphabet
or the steers bellow
your name
asking the impossible
of me.
The chicory flowers
speak for you.
They stare at the sky
as though I am
invisible.
Often the distance
from
here to the pond
changes.
Last night a green
fire
came down like a
space ship,
and I remembered
those people in
Argentina
who went inside one
where it burnt the
grass,
and forgot their
measures
like clabbered milk,
forgot who they meant
to be
or suspected they
might become,
and later showed the
scars
on their foreheads
to everyone,
begging them to
believe.
Trem em uma grande cidade
(Darren Thompson:
pintor norte-americano)
Cicatrizes
Algumas vezes estou
em um trem
indo a uma cidade
estranha,
e estás do lado de
fora da janela
justificando o teu
suicídio,
molestando-me como a
uma criança enferma.
Meu descanso não é
ininterrupto.
Às vezes te acoberto com
um alfabeto
ou os novilhos berram
o teu nome
pedindo-me o
impossível.
As flores da chicória
falam por ti.
Elas miram o céu
como se eu fosse
invisível.
Com frequência, a
distância daqui
à lagoa se altera.
Ontem à noite um fogo
verde
desceu como uma nave
espacial,
e lembrei-me
daquelas pessoas na
Argentina
que entraram numa
delas
no ponto onde houve
chamusco na relva,
e esqueceram-se de seus
planos
como leite coalhado,
esqueceram-se do que
pretendiam ser
ou suspeitavam que
poderiam se tornar,
e depois mostraram as
cicatrizes
em suas frontes
para todos,
suplicando-lhes que acreditassem.
Referência:
STONE, Ruth. Scars. In: DOVE, Rita
(Ed.). The penguin anthology of
twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p.
178.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário