Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Ruth Stone - Cicatrizes

A poetisa está em diálogo imaginário com o seu provável amante, um “fantasma” em constante evolução e mudança de forma, a importuná-la em suas “viagens” ou às escondidas por seu alfabeto, muito embora ela o possa ouvir por meio dos berros dos novilhos ou pelas flores da chicória.

Logo ela decola, contemplando o impossível, agora em uma nave espacial com argentinos, que se esquecem de tudo, de seus planos presentes e futuros, tornando-se como que veteranos perdidos no espaço, a mostrar a todos as suas cicatrizes na fronte, de forma a atestar, de um modo ou de outro, a sua existência.

J.A.R. – H.C.

Ruth Stone
(1915-2011)

Scars

Sometimes I am on a train
going to a strange city,
and you are outside the window
explaining your suicide,
nagging me like a sick child.
I have no unbroken rest.
Sometimes I cover you
with an alphabet
or the steers bellow your name
asking the impossible of me.
The chicory flowers speak for you.
They stare at the sky
as though I am invisible.
Often the distance from
here to the pond changes.
Last night a green fire
came down like a space ship,
and I remembered
those people in Argentina
who went inside one
where it burnt the grass,
and forgot their measures
like clabbered milk,
forgot who they meant to be
or suspected they might become,
and later showed the scars
on their foreheads
to everyone,
begging them to believe.

Trem em uma grande cidade
(Darren Thompson: pintor norte-americano)

Cicatrizes

Algumas vezes estou em um trem
indo a uma cidade estranha,
e estás do lado de fora da janela
justificando o teu suicídio,
molestando-me como a uma criança enferma.
Meu descanso não é ininterrupto.
Às vezes te acoberto com um alfabeto
ou os novilhos berram o teu nome
pedindo-me o impossível.
As flores da chicória falam por ti.
Elas miram o céu
como se eu fosse invisível.
Com frequência, a distância daqui
à lagoa se altera.
Ontem à noite um fogo verde
desceu como uma nave espacial,
e lembrei-me
daquelas pessoas na Argentina
que entraram numa delas
no ponto onde houve chamusco na relva,
e esqueceram-se de seus planos
como leite coalhado,
esqueceram-se do que pretendiam ser
ou suspeitavam que poderiam se tornar,
e depois mostraram as cicatrizes
em suas frontes
para todos,
suplicando-lhes que acreditassem.

Referência:

STONE, Ruth. Scars. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 178.

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