O poeta norte-americano Robert Frost é um de meus preferidos: ele tem o
mérito de escrever de um modo simples, sem complexidades portanto, mas com
profundidade, com esmero, para nos fazer ver o que é relevante em nossas vidas.
E quanta identificação tenho com um de seus poemas mais conhecidos – “O
Caminho Não Trilhado” –, por meio do qual procura evidenciar o quanto são
determinantes as decisões que tomamos. Por mais que busquemos vislumbrar todas
as possibilidades e consequências a que uma determinada alternativa nos levará,
sempre há o imprevisto. E tomada a decisão quanto ao rumo a tomar, não há como
voltar atrás. A trilha adotada será parte de nossa história e fará toda a
diferença em relação àquilo que somos e logramos conseguir.
Um poema metafórico como muitos de Frost, que o levaram a conquistar o
Prêmio Pulitzer em quatro oportunidades, o que por si só evidencia a aptidão de
seus versos para gerar a aludida identificação de seus leitores aos valores que
expressam.
E particularmente um verso desse seu poema ressoa em minha mente, como
uma verdade inconsútil: escolher o caminho menos batido, para ver as coisas
numa perspectiva fora da convencional, por vezes até a “defender” a causa de
satã, com o objetivo claro de nunca me deixar capturar por maniqueísmos e
visões de vida reducionistas.
E isso fez – e ainda faz – toda a diferença em meu “modus vivendi”! E
julgo que me levou por experiências plenas de significado e muito marcantes.
Algumas resultaram em equívocos, é certo, mas não sinto a necessidade de
racionalizá-las, no sentido ilusório de justificar, para mim mesmo, que, à
oportunidade apresentada, adotei o caminho correto! Nada disso: a vida é muito
curta para lamentos e rancores!
Que venham novas veredas bifurcadas! As folhas outonais, indenes ainda à
oxidação pelo pisar dos caminhantes, já não são capazes de me ocultar o que
está por trás de cada simulacro da condição humana! Não sei se a natureza me
permitirá chegar aos 89 anos de Frost. Seja como for, mesmo com as drummondianas
pedras no meio do caminho, sinto-me gratificado pela vida que me foi concedida,
já na idade em que ora me encontro!
J.A.R. – H.C.
Robert Frost
(1874-1963)
The Road Not
Taken
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I –
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
O Caminho Não Trilhado
Dois caminhos
bipartiam-se num bosque amarelo,
E sentido por não poder
seguir por ambos
Sendo um viajante a
sós, por longo tempo detive-me
E um deles contemplei
tão longe quanto pude
Até onde se perdia
entre os arbustos.
Então tomei o outro, igualmente
acessível,
E a encerrar talvez melhor
atrativo,
Pois era relvado e
requeria uso;
Ainda que os que por
ele trilharam
Tenham-no desgastado
do mesmo modo,
E naquela manhã ambos
jaziam
Sob folhas ainda não
enegrecidas pelos passos.
Oh, deixei o primeiro
para outro dia!
E sabendo que um
caminho leva a outro,
Duvidei se alguma vez
lá retornaria.
Isto hei de externar
com um suspiro,
Daqui até a
eternidade:
Dois caminhos
bipartiam-se num bosque, e eu –
Eu segui pelo menos trilhado,
E isso fez toda a
diferença.
Referência:
FROST, Robert. The road not taken. In: __________. Poems. Publisher: PoemHunter.com – The World’s Poetry Archive,
2004. p. 107. (Classical Poetry Series). Disponível neste
endereço. Acesso em: 27 out 2014.
&
O CAMINHO MENOS TRILHADO
ResponderExcluir"O Caminho menos trilhado" do Frost tem mais sabor em Inglês, em ouvindo-se a voz do poeta - e aqui, no Blog do Rodrigues, para facilitar o leitor, temos as três opções: A sua tradução, no original em inglês e com a clip do poeta o lendo. Dai, o leitor descuidado, não pode dizer, "não o entendi." Esse poema, obviamente, tem o tema principal "decisões." A vida eh uma resultante do somatório de nossas decisões, da escolha das nossas trilhas.
Algumas coisas gostaria de chamar atenção nesse rico texto: A escolha essa foi feita no outono da vida, quando o bosque ja estava amarelado pelo inverno que chegava e já com muitas folhas caídas pelo chão.
O outono aqui eh chamado de Fall oi seja 'queda,' queda das folhas que cobriam a tinha. Estas folhas caídas são marrons ate que um comece a andar sobre elas, enegrecendo-as. O poeta ponderou muito ao escolher a sua trilha e escolheu a mesmo usada, talvez a trilha que acabasse coberta por menos folhas negras.
Tambem, o Frost pondera se escolha de trilhas foi correta ou sobre a sua vida se a sua escolha fosse outra e finalmente parece concluir, quase numa allusao biblica, que o caminho menos usado, para ele foi a melhor escolha.
No Facebook e mídias sociais, apontamos sempre as nossa trilhas douradas, luminosas, cobertas de folhas recém caídas e amarelas. Porem, na jornada da vida, temos também nossas trilhas de pedras, de barro, as enlameadas e as calorentas e eivadas de mosquitos. Ha também as lindas trilha, com regatos e borboletas, lindas, surreais como um sonho de Salvador Dali ou de Gabriel Garcia Marquez.
A escolha de caminhos e uma coisa bem seria e nao deve ser fortuita: No livro A UM PASSO DO VENETO (Sam de Mattos) o autor teme as montanha, pois do alto ele podia ver muitas trilhas e veredas e isso o incomodava. Seria o desconcertante excesso de opções ou a visão das trilhas escolhidas?
Voltando ao Frost, seu poema eh sombrio, de águas mui profundas e de falsa aparência de tranquilidade.
Conheci a casa onde viveu o Frost, locada a uns cem quilômetros da minha. O local e bucólico, casa simples e espartana, que denota a vida simples do autor. Talvez cercado pelo “menos” ele podia meditar sobre o “mais,” e sutilmente refletir isso em sua poesia.
Prezado Sam:
ResponderExcluirMuito obrigado pelos seus comentários, os quais estendem-se por pontos que sequer havia suspeitado de início, em especial sobre o alerta de que "menos" pode significar "mais", uma expressão que tantas vezes já ouvi, inclusive de uma de minhas irmãs, mas sem a inflexão espiritual que você denota em sua mensagem - senão apenas num sentido de não entulhar a casa de coisas. Valeu muito mesmo!
Um grande abraço,
João Augusto Rodrigues