Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Robert Frost - O Caminho Não Trilhado

O poeta norte-americano Robert Frost é um de meus preferidos: ele tem o mérito de escrever de um modo simples, sem complexidades portanto, mas com profundidade, com esmero, para nos fazer ver o que é relevante em nossas vidas.

E quanta identificação tenho com um de seus poemas mais conhecidos – “O Caminho Não Trilhado” –, por meio do qual procura evidenciar o quanto são determinantes as decisões que tomamos. Por mais que busquemos vislumbrar todas as possibilidades e consequências a que uma determinada alternativa nos levará, sempre há o imprevisto. E tomada a decisão quanto ao rumo a tomar, não há como voltar atrás. A trilha adotada será parte de nossa história e fará toda a diferença em relação àquilo que somos e logramos conseguir.

Um poema metafórico como muitos de Frost, que o levaram a conquistar o Prêmio Pulitzer em quatro oportunidades, o que por si só evidencia a aptidão de seus versos para gerar a aludida identificação de seus leitores aos valores que expressam.

E particularmente um verso desse seu poema ressoa em minha mente, como uma verdade inconsútil: escolher o caminho menos batido, para ver as coisas numa perspectiva fora da convencional, por vezes até a “defender” a causa de satã, com o objetivo claro de nunca me deixar capturar por maniqueísmos e visões de vida reducionistas.

E isso fez – e ainda faz – toda a diferença em meu “modus vivendi”! E julgo que me levou por experiências plenas de significado e muito marcantes. Algumas resultaram em equívocos, é certo, mas não sinto a necessidade de racionalizá-las, no sentido ilusório de justificar, para mim mesmo, que, à oportunidade apresentada, adotei o caminho correto! Nada disso: a vida é muito curta para lamentos e rancores!

Que venham novas veredas bifurcadas! As folhas outonais, indenes ainda à oxidação pelo pisar dos caminhantes, já não são capazes de me ocultar o que está por trás de cada simulacro da condição humana! Não sei se a natureza me permitirá chegar aos 89 anos de Frost. Seja como for, mesmo com as drummondianas pedras no meio do caminho, sinto-me gratificado pela vida que me foi concedida, já na idade em que ora me encontro!

J.A.R. – H.C. 
Robert Frost
(1874-1963)

The Road Not Taken

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I –
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference. 


O Caminho Não Trilhado

Dois caminhos bipartiam-se num bosque amarelo,
E sentido por não poder seguir por ambos
Sendo um viajante a sós, por longo tempo detive-me
E um deles contemplei tão longe quanto pude
Até onde se perdia entre os arbustos.

Então tomei o outro, igualmente acessível,
E a encerrar talvez melhor atrativo,
Pois era relvado e requeria uso;
Ainda que os que por ele trilharam
Tenham-no desgastado do mesmo modo,

E naquela manhã ambos jaziam
Sob folhas ainda não enegrecidas pelos passos.
Oh, deixei o primeiro para outro dia!
E sabendo que um caminho leva a outro,
Duvidei se alguma vez lá retornaria.

Isto hei de externar com um suspiro,
Daqui até a eternidade:
Dois caminhos bipartiam-se num bosque, e eu –
Eu segui pelo menos trilhado,
E isso fez toda a diferença.


Referência:

FROST, Robert. The road not taken. In: __________. Poems. Publisher: PoemHunter.com – The World’s Poetry Archive, 2004. p. 107. (Classical Poetry Series). Disponível neste endereço. Acesso em: 27 out 2014.
&

2 comentários:

  1. O CAMINHO MENOS TRILHADO
    "O Caminho menos trilhado" do Frost tem mais sabor em Inglês, em ouvindo-se a voz do poeta - e aqui, no Blog do Rodrigues, para facilitar o leitor, temos as três opções: A sua tradução, no original em inglês e com a clip do poeta o lendo. Dai, o leitor descuidado, não pode dizer, "não o entendi." Esse poema, obviamente, tem o tema principal "decisões." A vida eh uma resultante do somatório de nossas decisões, da escolha das nossas trilhas.
    Algumas coisas gostaria de chamar atenção nesse rico texto: A escolha essa foi feita no outono da vida, quando o bosque ja estava amarelado pelo inverno que chegava e já com muitas folhas caídas pelo chão.
    O outono aqui eh chamado de Fall oi seja 'queda,' queda das folhas que cobriam a tinha. Estas folhas caídas são marrons ate que um comece a andar sobre elas, enegrecendo-as. O poeta ponderou muito ao escolher a sua trilha e escolheu a mesmo usada, talvez a trilha que acabasse coberta por menos folhas negras.
    Tambem, o Frost pondera se escolha de trilhas foi correta ou sobre a sua vida se a sua escolha fosse outra e finalmente parece concluir, quase numa allusao biblica, que o caminho menos usado, para ele foi a melhor escolha.
    No Facebook e mídias sociais, apontamos sempre as nossa trilhas douradas, luminosas, cobertas de folhas recém caídas e amarelas. Porem, na jornada da vida, temos também nossas trilhas de pedras, de barro, as enlameadas e as calorentas e eivadas de mosquitos. Ha também as lindas trilha, com regatos e borboletas, lindas, surreais como um sonho de Salvador Dali ou de Gabriel Garcia Marquez.
    A escolha de caminhos e uma coisa bem seria e nao deve ser fortuita: No livro A UM PASSO DO VENETO (Sam de Mattos) o autor teme as montanha, pois do alto ele podia ver muitas trilhas e veredas e isso o incomodava. Seria o desconcertante excesso de opções ou a visão das trilhas escolhidas?
    Voltando ao Frost, seu poema eh sombrio, de águas mui profundas e de falsa aparência de tranquilidade.
    Conheci a casa onde viveu o Frost, locada a uns cem quilômetros da minha. O local e bucólico, casa simples e espartana, que denota a vida simples do autor. Talvez cercado pelo “menos” ele podia meditar sobre o “mais,” e sutilmente refletir isso em sua poesia.

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  2. Prezado Sam:
    Muito obrigado pelos seus comentários, os quais estendem-se por pontos que sequer havia suspeitado de início, em especial sobre o alerta de que "menos" pode significar "mais", uma expressão que tantas vezes já ouvi, inclusive de uma de minhas irmãs, mas sem a inflexão espiritual que você denota em sua mensagem - senão apenas num sentido de não entulhar a casa de coisas. Valeu muito mesmo!
    Um grande abraço,
    João Augusto Rodrigues

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