Mais um poema sobre o envelhecimento, de como ele a tudo atinge – mesmo
que, de início, não percebamos o potencial da morte em nossas vidas –, tornando
os relacionamentos menos coesos, até que, por fim, se rompem, quer pelo
passamento quer pelo simples decurso do tempo. Afinal, seria um despropósito
afirmar que o amor também “prescreve”?! (rs).
Mas apesar de todas as perdas, cumpre-nos seguir o curso e não ficar
evocando lembranças do tempo da juventude, quando não nos cansávamos tão facilmente:
cada fase da vida deve ser usufruída a contento, pois a idade avança e não
espera por aqueles que deixaram de cumprir uma vontade no momento oportuno!
J.A.R. – H.C.
Donald Hall
(1928-2018)
Affirmation
To grow old is to
lose everything.
Aging, everybody
knows it.
Even when we are
young,
we glimpse it
sometimes, and nod our heads
when a grandfather
dies.
Then we row for years
on the midsummer
pond, ignorant and
content. But a marriage,
that began without
harm, scatters
into debris on the
shore,
and a friend from
school drops
cold on a rocky
strand.
If a new love carries
us
past middle age, our
wife will die
at her strongest and
most beautiful.
New women come and
go. All go.
The pretty lover who
announces
that she is temporary
is temporary. The
bold woman,
middle-aged against
our old age,
sinks under an
anxiety she cannot withstand.
Another friend of
decades estranges himself
in words that pollute
thirty years.
Let us stifle under
mud at the pond’s edge
and affirm that it is
fitting
and delicious to lose
everything.
Casal de Velhos
James Coates: pintor
inglês
Afirmação
Tornar-se velho é
tudo perder.
Senectude, todo mundo
a conhece.
Mesmo quando somos
jovens,
às vezes a
vislumbramos, e assentimos com a cabeça
quando nos morre um
avô.
Então pomo-nos a
vogar em pleno verão
na lagoa, ignorantes
e contentes. Mas um matrimônio,
que começou sem
maldade, dispersa-se
em escombros na orla,
e um amigo da escola
tomba
frio sobre uma praia
rochosa.
Se um novo amor nos
leva
além da meia idade,
nossa esposa morrerá
em seu mais saudável
e belo momento.
Novas mulheres chegam
e partem. Todas partem.
A bela amante que
anuncia
ser temporária
é de fato temporária.
A mulher ousada,
de meia idade frente
à nossa velhice,
abate-se numa
ansiedade que não pode suportar.
Outro amigo de
décadas se enreda
em palavras que
contaminam trinta anos.
Sufoquemo-nos sob o
lodo à beira da lagoa
e afirmemos que é
apropriado
e delicioso tudo
perder.
Referência:
HALL, Donald. Affirmation. In: KEILLOR,
Garrison (Selection and Introduction). Good
poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 224.
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