Depois de revitalizada do abatimento, de uma casa tristonha, de um
inverno voraz que destruiu-lhe o jardim em decorrência de uma tempestade; depois de ver
algo precioso não ser destruído e dar graças por nem tudo estar perdido, a
poetisa percebe o poder de continuidade da vida, fruto do binômio casualidade x
utilidade – pois Meehan descrê em deidades.
Não sendo Meehan particularmente religiosa, ainda assim é capaz de
reconhecer o poder que há nas sementes, motivo pelo qual elogia as suas
propriedades ou atributos. Têm elas o elemento potencial da fertilidade, em
meio à natureza, fazendo ressurgir o cenário que nos cerca em novas primícias e
infinitas esperanças.
J.A.R. – H.C.
Paula Meehan
(n. 1955)
Seed
The first warm day of
spring
and I step out into
the garden from the gloom
of a house where hope
had died
to tally the storm
damage, to seek what may
have survived. And
finding some forgotten
lupins I’d sown from
seed last autumn
holding in their
fingers a raindrop each
like a peace
offering, or a promise,
I am suddenly
grateful and would
offer a prayer if I
believed in God.
But not believing, I
bless the power of seed,
its casual, useful
persistence,
and bless the power
of sun,
its conspiracy with
the underground,
and thank my stars
the winter’s ended.
Os Pequenos Prados na Primavera
(Alfred Sisley:
pintor francês)
Sementes
No primeiro dia
cálido da primavera
saio ao jardim desde
a penumbra
de uma casa onde
havia morrido a esperança
de fazer frente aos
danos da tormenta, para procurar
o que pode
ter sobrevivido. E
encontrando alguns esquecidos
tremoços que plantei como
sementes no outono
passado,
retendo cada um em seus
dedos uma gota de chuva,
como uma oferenda de
paz ou uma promessa,
de repente estou
agradecida e ofereceria
uma oração se
acreditasse em Deus.
Mas como nele não creio,
bendigo o poder das
sementes,
sua persistência útil
e casual,
e bendigo o poder do
sol,
sua conspiração com o
subsolo,
e agradeço a minhas
estrelas pelo término
do inverno.
Referência:
MEEHAN, Paula. Seed. In: BENSON,
Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT,
Cicely (Eds.). Best poems on the underground.
1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, 2009. p. 186.
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