Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 30 de julho de 2019

Paula Meehan - Sementes

Depois de revitalizada do abatimento, de uma casa tristonha, de um inverno voraz que destruiu-lhe o jardim em decorrência de uma tempestade; depois de ver algo precioso não ser destruído e dar graças por nem tudo estar perdido, a poetisa percebe o poder de continuidade da vida, fruto do binômio casualidade x utilidade – pois Meehan descrê em deidades.

Não sendo Meehan particularmente religiosa, ainda assim é capaz de reconhecer o poder que há nas sementes, motivo pelo qual elogia as suas propriedades ou atributos. Têm elas o elemento potencial da fertilidade, em meio à natureza, fazendo ressurgir o cenário que nos cerca em novas primícias e infinitas esperanças.

J.A.R. – H.C.

Paula Meehan
(n. 1955)

Seed

The first warm day of spring
and I step out into the garden from the gloom
of a house where hope had died
to tally the storm damage, to seek what may
have survived. And finding some forgotten
lupins I’d sown from seed last autumn
holding in their fingers a raindrop each
like a peace offering, or a promise,
I am suddenly grateful and would
offer a prayer if I believed in God.
But not believing, I bless the power of seed,
its casual, useful persistence,
and bless the power of sun,
its conspiracy with the underground,
and thank my stars the winter’s ended.

Os Pequenos Prados na Primavera
(Alfred Sisley: pintor francês)

Sementes

No primeiro dia cálido da primavera
saio ao jardim desde a penumbra
de uma casa onde havia morrido a esperança
de fazer frente aos danos da tormenta, para procurar
o que pode
ter sobrevivido. E encontrando alguns esquecidos
tremoços que plantei como sementes no outono
passado,
retendo cada um em seus dedos uma gota de chuva,
como uma oferenda de paz ou uma promessa,
de repente estou agradecida e ofereceria
uma oração se acreditasse em Deus.
Mas como nele não creio, bendigo o poder das
sementes,
sua persistência útil e casual,
e bendigo o poder do sol,
sua conspiração com o subsolo,
e agradeço a minhas estrelas pelo término
do inverno.

Referência:

MEEHAN, Paula. Seed. In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best ‎‎poems on the underground. 1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, ‎‎2009. p. 186.

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