Há certo pendor simbolista neste poema do poeta venezuelano, ainda que à presença de versos livres – o que, certamente, não se coaduna com as criações
características daquele movimento. Seja como for, compare-se o teor de seus
versos finais a algumas linhas de poemas do brasileiro Cruz e Souza – “Antífona”,
por exemplo –, e o leitor poderá compreender o que se pretende associar.
A alma se perde na própria natureza turva da neblina, que a tudo
recobre: bosques e mares. E as vagas desses mares bem lhe podem levar ao fundo,
sem chances de resgate. Névoas e névoas, tudo muito indistinto, como a massa
pictórica de determinadas pinturas impressionistas – um equivalente
bidimensional expresso em outra forma de arte.
J.A.R. – H.C.
Vicente Gerbasi
(1913-1992)
Niebla
Los árboles amanecen
sumergidos
en una nostalgia
blanca,
con un cansancio de
pobres harapientos
bajo la nieve.
Igualmente blancas,
las gaviotas
vuelan en un vasto
silencio,
y si la brisa mueve
los árboles
o mueve alguna flor,
los mueve hacia la
tristeza
con que nace el dia.
Hay niebla en
nuestros sentidos
y en el mar,
y de la niebla marina
surgen buques oscuros
como del fondo de un
sueño
y apenas se ven las
cruces
de las banderas
nórdicas
que en lejanos
tiempos
se hundieron en las
olas
con el peso grave de
los héroes.
Así el alma
heroicamente
se hunde en el
Universo,
en una vasta niebla
de galaxias,
hasta que lentamente
adivina
la presencia de Dios
que brilla em el
infinito de sus soles.
En: “Poesía de Viajes” (1968)
Árvores na Névoa
(David Latham: pintor
britânico)
Névoa
As árvores amanhecem
submersas
numa nostalgia
branca,
com um cansaço de
pobres rotos
sob a neve.
Igualmente brancas,
as gaivotas
voam em um vasto
silêncio,
e se a brisa move as
árvores
ou move alguma flor,
move-as até a
tristeza
com que o dia nasce.
Há névoa em nossos
sentidos
e no mar,
e da névoa marinha
surgem escuras
embarcações
como do fundo de um
sonho
e apenas se veem as
cruzes
das bandeiras
nórdicas
que em tempos
distantes
afundaram nas ondas
com o peso grave dos
heróis.
Assim a alma
heroicamente
afunda no universo,
em uma vasta névoa de
galáxias,
até que lentamente
advinha
a presença de Deus
que brilha no
infinito de seus sóis.
Em: “Poesia de Viagens” (1968)
Referência:
GERBASI, Vicente. Niebla. In:
__________. Antología poética:
1943-1968. Caracas, VE: Monte Ávila, 1970. p. 318-319. (‘Colección Altazor’).
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