Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 9 de julho de 2019

Vicente Gerbasi - Névoa

Há certo pendor simbolista neste poema do poeta venezuelano, ainda que à presença de versos livres – o que, certamente, não se coaduna com as criações características daquele movimento. Seja como for, compare-se o teor de seus versos finais a algumas linhas de poemas do brasileiro Cruz e Souza – “Antífona”, por exemplo –, e o leitor poderá compreender o que se pretende associar.

A alma se perde na própria natureza turva da neblina, que a tudo recobre: bosques e mares. E as vagas desses mares bem lhe podem levar ao fundo, sem chances de resgate. Névoas e névoas, tudo muito indistinto, como a massa pictórica de determinadas pinturas impressionistas – um equivalente bidimensional expresso em outra forma de arte.

J.A.R. – H.C.

Vicente Gerbasi
(1913-1992)

Niebla

Los árboles amanecen sumergidos
en una nostalgia blanca,
con un cansancio de pobres harapientos
bajo la nieve.
Igualmente blancas, las gaviotas
vuelan en un vasto silencio,
y si la brisa mueve los árboles
o mueve alguna flor,
los mueve hacia la tristeza
con que nace el dia.
Hay niebla en nuestros sentidos
y en el mar,
y de la niebla marina
surgen buques oscuros
como del fondo de un sueño
y apenas se ven las cruces
de las banderas nórdicas
que en lejanos tiempos
se hundieron en las olas
con el peso grave de los héroes.
Así el alma heroicamente
se hunde en el Universo,
en una vasta niebla de galaxias,
hasta que lentamente adivina
la presencia de Dios
que brilla em el infinito de sus soles.

En: “Poesía de Viajes” (1968)

Árvores na Névoa
(David Latham: pintor britânico)

Névoa

As árvores amanhecem submersas
numa nostalgia branca,
com um cansaço de pobres rotos
sob a neve.
Igualmente brancas, as gaivotas
voam em um vasto silêncio,
e se a brisa move as árvores
ou move alguma flor,
move-as até a tristeza
com que o dia nasce.
Há névoa em nossos sentidos
e no mar,
e da névoa marinha
surgem escuras embarcações
como do fundo de um sonho
e apenas se veem as cruzes
das bandeiras nórdicas
que em tempos distantes
afundaram nas ondas
com o peso grave dos heróis.
Assim a alma heroicamente
afunda no universo,
em uma vasta névoa de galáxias,
até que lentamente advinha
a presença de Deus
que brilha no infinito de seus sóis.

Em: “Poesia de Viagens” (1968)

Referência:

GERBASI, Vicente. Niebla. In: __________. Antología poética: 1943-1968. Caracas, VE: Monte Ávila, 1970. p. 318-319. (‘Colección Altazor’).

Nenhum comentário:

Postar um comentário