Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 23 de julho de 2019

Cesar Vallejo - Os Anéis Fatigados

Num combate de amor e de morte, o poeta se encontra no limite de suas forças, a padecer de ânsias que lhe dilaceram o espírito, sendo a felicidade uma impossibilidade, uma vez que a vida se desenrola pelo confronto de opostos irreconciliáveis – em suas palavras, consistentes em momentos em que “há ânsias de viver” e outros tantos em que “há ânsias de morrer”.

E Vallejo atribui a Deus tal impedimento de ventura e o reprova por isso, censurando-o com um “dedo deicida”. Nesse contexto, a sina humana não há de se alterar – morrerá e morrerá vezes sem conta –, de modo a configurar os intitulados “anéis fatigados”, enquanto “Deus, curvado em tempo, repete-se, e passa, passa carregando a espinha dorsal do Universo”.

J.A.R. – H.C.

Cesar Vallejo
(1892-1938)

Los Anillos Fatigados

Hay ganas de volver, de amar, de no ausentarse,
y hay ganas de morir, combatido por dos
aguas encontradas que jamás han de istmarse.

Hay ganas: de un gran beso que amortaje a la Vida,
que acaba en el áfrica de una agonía ardiente,
suicida!

Hay ganas de... no tener ganas. Señor;
a ti yo te señalo. con el dedo deicida:
hay ganas de no haber tenido corazón.

La primavera vuelve, vuelve y se irá. Y Dios,
curvado en tiempo, se repite, y pasa:  pasa:
a cuestas con la espina dorsal del Universo.

Cuando, las sienes tocan su lúgubre tambor...
cuando me duele el sueño grabado en un puñal,
hay ganas de quedarse plantado en este verso!

En: “Los heraldos negros” (1918)

A Dança do Universo
(Sara Wallace: pintora canadense)

Os Anéis Fatigados

Há ânsias de voltar, de amar, de não ausentar-se,
e há ânsias de morrer, combatido por duas
águas unidas que jamais hão-de istmar-se.

Há ânsias de um beijo enorme que amortalhe a Vida,
que acaba na áfrica de uma agonia ardente,
suicida!

Há ânsias de... não ter ânsias, Senhor;
a ti aponto-te com o dedo deicida:
há ânsias de não ter tido coração.

A primavera volta, volta e partirá. E Deus,
curvado em tempo, repete-se, e passa, passa
carregando a espinha dorsal do Universo.

Quando as têmporas tocam seu lúgubre tambor,
quando me dói o sonho gravado num punhal,
há ânsias de fiar plantado neste verso!

Em: “Os mensageiros negros” (1918)

Referências:

Em Espanhol

VALLEJO, Cesar. Los anillos fatigados. Disponível neste endereço. Acesso em: 28 jun. 2019.

Em Português

VALLEJO, Cesar. Os anéis fatigados. Tradução de José Bento. In: VALLEJO, Cesar. Antologia. Selecção, tradução e prólogo de José Bento. Porto, PT: Limiar, 1981. p. 22. (Coleção ‘Os olhos e a memória’; v. 16)

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