Num combate de amor e de morte, o poeta se encontra no limite de suas
forças, a padecer de ânsias que lhe dilaceram o espírito, sendo a felicidade
uma impossibilidade, uma vez que a vida se desenrola pelo confronto de opostos
irreconciliáveis – em suas palavras, consistentes em momentos em que “há ânsias
de viver” e outros tantos em que “há ânsias de morrer”.
E Vallejo atribui a Deus tal impedimento de ventura e o reprova por isso,
censurando-o com um “dedo deicida”. Nesse contexto, a sina humana não há de se
alterar – morrerá e morrerá vezes sem conta –, de modo a configurar os
intitulados “anéis fatigados”, enquanto “Deus, curvado em tempo, repete-se, e
passa, passa carregando a espinha dorsal do Universo”.
J.A.R. – H.C.
Cesar Vallejo
(1892-1938)
Los Anillos Fatigados
Hay ganas de volver,
de amar, de no ausentarse,
y hay ganas de morir,
combatido por dos
aguas encontradas que
jamás han de istmarse.
Hay ganas: de un gran
beso que amortaje a la Vida,
que acaba en el
áfrica de una agonía ardiente,
suicida!
Hay ganas de... no
tener ganas. Señor;
a ti yo te señalo.
con el dedo deicida:
hay ganas de no haber
tenido corazón.
La primavera vuelve,
vuelve y se irá. Y Dios,
curvado en tiempo, se
repite, y pasa: pasa:
a cuestas con la
espina dorsal del Universo.
Cuando, las sienes
tocan su lúgubre tambor...
cuando me duele el
sueño grabado en un puñal,
hay ganas de quedarse
plantado en este verso!
En: “Los heraldos negros” (1918)
A Dança do Universo
(Sara Wallace:
pintora canadense)
Os Anéis Fatigados
Há ânsias de voltar,
de amar, de não ausentar-se,
e há ânsias de
morrer, combatido por duas
águas unidas que
jamais hão-de istmar-se.
Há ânsias de um beijo
enorme que amortalhe a Vida,
que acaba na áfrica
de uma agonia ardente,
suicida!
Há ânsias de... não ter
ânsias, Senhor;
a ti aponto-te com o
dedo deicida:
há ânsias de não ter
tido coração.
A primavera volta,
volta e partirá. E Deus,
curvado em tempo, repete-se,
e passa, passa
carregando a espinha
dorsal do Universo.
Quando as têmporas
tocam seu lúgubre tambor,
quando me dói o sonho
gravado num punhal,
há ânsias de fiar
plantado neste verso!
Em: “Os mensageiros negros” (1918)
Referências:
Em Espanhol
VALLEJO, Cesar. Los anillos fatigados.
Disponível neste endereço. Acesso em: 28 jun.
2019.
Em Português
VALLEJO, Cesar. Os anéis fatigados.
Tradução de José Bento. In: VALLEJO, Cesar. Antologia. Selecção, tradução e prólogo de José Bento. Porto, PT:
Limiar, 1981. p. 22. (Coleção ‘Os olhos e a memória’; v. 16)
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