Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Antônio Chrysóstomo - Poética

Homem do teatro, imprensa e TV, mineiro, Chrysóstomo nos oferece o pano de fundo de sua poética, uma espécie de perscrutação da noite com o objetivo de se descobrir, tal qual uma “nau florida”, as profundas claridades que nela existem, metamorfoseando em outras tantas flores o passado que lhe parece sombrio.

Afirma ele “escutar” o tempo e o espaço, os quais perduram, o primeiro em sua intocabilidade – afinal, não se resgata o tempo já manado –, e o segundo, explicitamente manifesto na decantação do pó sobre a superfície das coisas – fecundado, transfundido –, a impedir que o poeta, ainda que isolado, assimile o “vazio”.

J.A.R. – H.C.

Antônio Chrysóstomo
(1940-1987?)

Poética

Anoiteço,
Em meu ser de pecado
Uma nau florida
Vai descobrindo claridades profundas.

Pela metamorfose do passado
E da noite palpável,
Flores vão se projetando
E iluminando sombras por que choro.

Escuto o tempo
Por momentos perfilados:
Ele já possui
Dimensões do intocável.

Escuto o espaço.
Isolo-me; não consigo o vazio.
Somente o pó, fecundado,
Se transfunde.

Flores selvagens com uma visão de Dublin Dunleary
(Andrew Nicholl: pintor irlandês)

Referência:

CHRYSÓSTOMO, Antonio. Poética. In: AYALA, Walmir (Seleção e Apresentação). A novíssima poesia brasileira. V. II. Rio de Janeiro, GB: Cadernos Brasileiros, 1965. p. 20.

Nenhum comentário:

Postar um comentário