Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Mary Oliver - Gansos Selvagens

Para iniciar a semana de trabalho, nada melhor que uma mensagem de otimismo tantas vezes presente nos poemas de Oliver: a vida, ou melhor, a natureza tem as suas belezas, e por mais que isolados estivermos, pouco importando quem formos – reis ou súditos –, sempre somos convocados a participar desse teatro que é o mundo.

 

Por que o compromisso moral de, necessariamente, termos que ser bons? Na natureza tudo flui indiferente aos nossos desesperos. E nesse fluxo há a beleza que poderemos não perceber caso fiquemos preocupados com o nosso próprio umbigo. Venha conosco anunciar o seu reservado lugar na família das coisas. E seja feliz!

 

J.A.R. – H.C.

 

Mary Oliver

(1935-2019)

 

Wild Geese

 

You do not have to be good.

You do not have to walk on your knees

for a hundred miles through the desert repenting.

You only have to let the soft animal of your body

love what it loves.

Tell me about despair, yours, and I will tell you mine.

Meanwhile the world goes on.

Meanwhile the sun and the clear pebbles of the rain

are moving across the landscapes,

over the prairies and the deep trees,

the mountains and the rivers.

Meanwhile the wild geese, high in the clean blue air,

are heading home again.

Whoever you are, no matter how lonely,

the world offers itself to your imagination,

calls to you like the wild geese, harsh and exciting –

over and over announcing your place

in the family of things.

 

Gansos Canadenses

(Robert Bateman: pintor canadenses)

 

Gansos Selvagens

 

Você não tem que ser bom.

Não tem que caminhar de joelhos

por cem milhas pelo deserto a arrepender-se.

Apenas tem que deixar o suave animal que é

o seu corpo amar o que ama.

Conte-me sobre o seu desespero e lhe direi do meu.

Enquanto isso, o mundo continua a dar voltas.

Enquanto isso, o sol e os diáfanos cristais da chuva

movem-se através das paisagens,

sobre as pradarias e árvores enriçadas,

as montanhas e os rios.

Enquanto isso, os gansos selvagens, no alto de um

céu límpido e azul,

retornam para casa outra vez.

Quem quer que seja você, por mais que sozinho esteja,

o mundo se oferece à sua imaginação,

lhe chama como os gansos selvagens, estridentes

e excitantes –

repetidas vezes a anunciar o seu lugar

na família das coisas.

 

Referência:

 

OLIVER, Mary. Wild geese. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 28.

Nenhum comentário:

Postar um comentário