Para iniciar a semana de trabalho, nada melhor
que uma mensagem de otimismo tantas vezes presente nos poemas de Oliver: a
vida, ou melhor, a natureza tem as suas belezas, e por mais que isolados
estivermos, pouco importando quem formos – reis ou súditos –, sempre somos
convocados a participar desse teatro que é o mundo.
Por que o compromisso moral de, necessariamente,
termos que ser bons? Na natureza tudo flui indiferente aos nossos desesperos. E
nesse fluxo há a beleza que poderemos não perceber caso fiquemos preocupados
com o nosso próprio umbigo. Venha conosco anunciar o seu reservado lugar na
família das coisas. E seja feliz!
J.A.R. – H.C.
Mary Oliver
(1935-2019)
Wild Geese
You do not have to be good.
You do not have to walk on your knees
for a hundred miles through the desert
repenting.
You only have to let the soft animal of your
body
love what it loves.
Tell me about despair, yours, and I will tell
you mine.
Meanwhile the world goes on.
Meanwhile the sun and the clear pebbles of the
rain
are moving across the landscapes,
over the prairies and the deep trees,
the mountains and the rivers.
Meanwhile the wild geese, high in the clean blue
air,
are heading home again.
Whoever you are, no matter how lonely,
the world offers itself to your imagination,
calls to you like the wild geese, harsh and
exciting –
over and over announcing your place
in the family of things.
Gansos Canadenses
(Robert Bateman: pintor
canadenses)
Gansos Selvagens
Você não tem que ser bom.
Não tem que caminhar de joelhos
por cem milhas pelo deserto a arrepender-se.
Apenas tem que deixar o suave animal que é
o seu corpo amar o que ama.
Conte-me sobre o seu desespero e lhe direi do
meu.
Enquanto isso, o mundo continua a dar voltas.
Enquanto isso, o sol e os diáfanos cristais da
chuva
movem-se através das paisagens,
sobre as pradarias e árvores enriçadas,
as montanhas e os rios.
Enquanto isso, os gansos selvagens, no alto de
um
céu límpido e azul,
retornam para casa outra vez.
Quem quer que seja você, por mais que sozinho
esteja,
o mundo se oferece à sua imaginação,
lhe chama como os gansos selvagens, estridentes
e excitantes –
repetidas vezes a anunciar o seu lugar
na família das coisas.
Referência:
OLIVER, Mary. Wild geese. In: ASTLEY, Neil
(Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed.
New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 28.
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