Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 27 de julho de 2019

Howard Nemerov - A Guerra no Ar

É sobre a clara distinção entre uma guerra travada nos céus e outra disputada no solo que Nemerov nos conscientiza: na primeira, nem sempre seremos capazes de encontrar os corpos daqueles alvos que foram atingidos no ar e, por conseguinte, difícil se torna devolvê-los às suas respectivas famílias, para que possam proceder às exéquias.

Num campo de batalha podem-se ver equipamentos de artilharia, o inimigo, os corpos e muito sangue. Em contrapartida, o combate no ar deixa apenas um rasto de fumaça que logo se dissipa até que retorne o vazio do firmamento: os que conseguem retornar de uma missão aérea mal conseguem verbalizar o que se passou, quando os seus companheiros foram lançados em queda livre ou esfacelados pelas explosões.

J.A.R. – H.C.

Howard Nemerov
(1920-1991)

The War in the Air

For a saving grace, we didn’t see our dead,
Who rarely bothered coming home to die
But simply stayed away out there
In the clean war, the war in the air.

Seldom the ghosts come back bearing their tales
Of hitting the earth, the incompressible sea,
But stayed up there in the relative wind,
Shades fading in the mind,

Who had no graves but only epitaphs
Where never so many spoke for never so few:
Per ardua, said the partisans of Mars,
Per aspera, to the stars.

That was the good war, the war we won
As if there was no death, for goodness’s sake.
With the help of the losers we left out there
In the air, in the empty air.

Terra, Mar e Céu
(Charles H. Woodbury: pintor norte-americano)

A Guerra no Ar

Por uma eterna graça, não vimos nossos mortos,
Que raramente cismavam em retornar para morrer em casa,
Mas simplesmente se mantinham distanciados
Na guerra aberta, a guerra no ar.

Raramente os fantasmas regressaram com suas histórias
De colisões contra a terra, o incomprimível mar,
Mas permaneceram lá em cima em meio à brisa familiar;
Na mente a se desbotarem as sombras,

Dos que não tinham sepulturas, senão apenas epitáfios
Por meio dos quais, nunca, tantos falaram por tão poucos:
Per ardua, disseram os partidários de Marte,
Per aspera, até as estrelas. (*)

Essa foi a boa guerra, a guerra que vencemos
Como se não houvesse mortos, pelo amor de Deus.
Com a ajuda dos perdedores que deixamos por aí
No ar, no desnudado ar.

Nota:

(*). A expressão em latim “Per aspera ad astra” (ou “Ad astra per aspera”) significa “Da adversidade às estrelas”, lema empregado por diversas forças aéreas pelo mundo, como a britânica, a canadense e a australiana. No caso, há semelhança no significado em relação aos termos “Per ardua” e “Per aspera”, empregados por Nemerov.

Referência:

NEMEROV, Howard. The war in the air. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 264.

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