É sobre a clara distinção entre uma guerra travada nos céus e outra
disputada no solo que Nemerov nos conscientiza: na primeira, nem sempre seremos
capazes de encontrar os corpos daqueles alvos que foram atingidos no ar e, por
conseguinte, difícil se torna devolvê-los às suas respectivas famílias, para
que possam proceder às exéquias.
Num campo de batalha podem-se ver equipamentos de artilharia, o inimigo,
os corpos e muito sangue. Em contrapartida, o combate no ar deixa apenas um
rasto de fumaça que logo se dissipa até que retorne o vazio do firmamento: os
que conseguem retornar de uma missão aérea mal conseguem verbalizar o que se
passou, quando os seus companheiros foram lançados em queda livre ou
esfacelados pelas explosões.
J.A.R. – H.C.
Howard Nemerov
(1920-1991)
The War in the Air
For a saving grace,
we didn’t see our dead,
Who rarely bothered
coming home to die
But simply stayed
away out there
In the clean war, the
war in the air.
Seldom the ghosts
come back bearing their tales
Of hitting the earth,
the incompressible sea,
But stayed up there
in the relative wind,
Shades fading in the
mind,
Who had no graves but
only epitaphs
Where never so many
spoke for never so few:
Per ardua, said the partisans
of Mars,
Per aspera, to the stars.
That was the good
war, the war we won
As if there was no
death, for goodness’s sake.
With the help of the
losers we left out there
In the air, in the
empty air.
Terra, Mar e Céu
(Charles H. Woodbury:
pintor norte-americano)
A Guerra no Ar
Por uma eterna graça,
não vimos nossos mortos,
Que raramente cismavam
em retornar para morrer em casa,
Mas simplesmente se
mantinham distanciados
Na guerra aberta, a
guerra no ar.
Raramente os
fantasmas regressaram com suas histórias
De colisões contra a
terra, o incomprimível mar,
Mas permaneceram lá
em cima em meio à brisa familiar;
Na mente a se
desbotarem as sombras,
Dos que não tinham
sepulturas, senão apenas epitáfios
Por meio dos quais, nunca,
tantos falaram por tão poucos:
Per ardua, disseram os
partidários de Marte,
Per aspera, até as estrelas.
(*)
Essa foi a boa
guerra, a guerra que vencemos
Como se não houvesse
mortos, pelo amor de Deus.
Com a ajuda dos
perdedores que deixamos por aí
No ar, no desnudado
ar.
Nota:
(*). A expressão em latim “Per aspera
ad astra” (ou “Ad astra per aspera”) significa “Da adversidade às estrelas”,
lema empregado por diversas forças aéreas pelo mundo, como a britânica, a
canadense e a australiana. No caso, há semelhança no significado em relação aos
termos “Per ardua” e “Per aspera”, empregados por Nemerov.
Referência:
NEMEROV, Howard. The war in the air. In:
KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p.
264.
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